Música sempre:  o  retorno repaginado da música brega romântica

“Quem eu quero não me quer/Quem me quer mandei embora É por isso que eu não sei/O que será de mim agora…”

A música de Raul Sampaio, lançada no final de 1961, é uma espécie de ícone do estilo romântico, que ganhou versões nas vozes de Orlando Dias, Waldick Soriano, Cláudia Barroso e Núbia Lafayete, entre outros, marcando uma era em que os cabarés (e na sua versão mais popular, o brega) eram locais de shows intimistas. Na sua versão mais light, eram as serestas que entretinham os homens mais afortunados, que iam a esses locais para ouvir uma boa música, beber, dançar…e namorar.

Com letras em que a desilusão amorosa era a principal tônica, os antigos cabarés foram palcos de cantores que mais tarde se projetaram na música brasileira, trazendo em forma de poesia, a popular “dor de cotovelo”, e a traição nas relações amorosas. Nas vozes de Waldick Soriano (1933-2008), Orlando Dias (1923-2001) e Núbia Lafayette (1937-2007), a música “Quem eu quero não me quer…”, de Raul Sampaio, enfatizava justamente o que hoje, de forma repaginada e sem o glamour da década de 60, os caminhos e descaminhos das relações amorosas.

E quem bem representava esse estilo de música era Idenilde Araújo Alves da Costa, conhecida pelo nome artístico de Núbia Lafayette, carioca de Niterói por adoção artística, mas que nasceu em Assu, no interior do estado do Rio Grande do Norte, onde só ficou até os três anos de idade. Aos oito anos já cantava em bailes infantis, mas só no final da década de 50, quando ainda era vendedora das Casas Pernambucanas, adotou o nome de Nilde Araujo, e começou a deslanchar.

Croonner (cantora contratada) da antiga Boite Cave, no Rio de Janeiro, ela trocou o nome Nilde Araujo para Núbia Lafayette, por sugestão do compositor Adelino Moreira, e foi contratada pela gravadora RCA, com o apoio de Nelson Gonçalves, gravando o seu primeiro disco com o samba-canção “Devolvi”, de Adelino Moreira.

Na sua imensa discografia estão os principais sucessos brega romântico das décadas de 60 e 70, como Solidão (1960), Devolvi (1960), Triste Madrugada (1964), Noites sem fim (1965), Casa e comida (1972), e a imortalizada canção de Raul Sampaio Quem eu quero não me quer (1961).

Atualmente, de forma repaginada e regionalizada, o antigo brega romântico dos cabarés, bolero e serestas, se reveste dos ritmos do arrocha, sofrência e o seu misto chorência. Nada mais são que a exteriorização do sofrimento amoroso, a dor de cotovelo, a “dor de corno” e a desilusão amorosa, cantadas em prosa e verso.

Saiba mais:

* O arrocha é um gênero musical originário da cidade de Candeias, na Região Metropolitana de Salvador. Surgiu da seresta, influenciado pela música romântica e o estilo romântico. Na música, denomina as canções que tratam de um amor não correspondido ou uma decepção amorosa.

* Cabaré (do francês cabaret) é uma forma de entretenimento teatral com música, dança, recitação ou drama. Também pode incluir a apresentação de humoristas, ilusionistas, mímicos e outras artes cênicas. Também é sinônimo de casa de prostituição em algumas regiões do Brasil.

* Brega é um gênero musical brasileiro. Sua definição como estética musical tem sido um tanto difícil, pois não há um só ritmo musical propriamente “brega”. É muito usado para designar a música romântica popular de “baixa qualidade”, com exageros dramáticos ou ingenuidade.