Passar pelo luto causado pela Covid requer diálogos virtuais e reconstrução de vínculos, defende psicóloga

Na Bahia, mais de 25 mil famílias já passaram ou ainda estão de luto. O motivo vem se tornando rotineiro desde o início de 2020, quando o estado registrou a primeira morte por Covid-19. Nesta segunda-feira (2), este dado é de 25.785. E é diante deste cenário que a psicóloga Queli Nascimento discorre sobre formas de enfrentar o processo de perda na pandemia.

Em entrevista ao Portal M!, a doutoranda em Psicologia na Universidade Federal da Bahia (Ufba), que estuda os significados da morte para profissionais de saúde das UTIs, aponta que a perda de entes queridos durante a crise sanitária vem implantando uma nova forma de estar de luto, já que é um processo sem despedida.  

“A despedida permite que a pessoa compreenda a realidade da perda e que possa assimilá-la. Quando isso não é possível, a gente vai ter efeitos nesse processo do luto. Nesse caminho, então, é saudável que as despedidas possam acontecer de forma simbólica”, afirmou.

Quanto às maneiras “simbólicas” defendidas pela especialista em tanalogia – o estudo da morte -, o uso da tecnologia e do afeto seriam atitudes saudáveis. “Podem ser reuniões familiares num ambiente virtual, onde cada um pode expor algo do que está sentindo e que está vivendo, ou uma forma pessoal”.  

Vínculos reconstruídos

Sejam condutas virtuais ou presenciais, a trajetória de quem sofre pela perda de um ente querido deve reconstruir vínculos com a pessoa que morreu. 

 “O vínculo é essa relação de um indivíduo com o outro e, a partir da experiência da perda, esse vínculo é sentido como um rompimento, uma quebra abrupta da vivência, dessa relação. Então esse vínculo vai precisar ser reconstruído, fazendo com que o indivíduo possa encontrar um novo lugar para a pessoa que se foi. A dor da perda vai estar presente nesse processo de reconstrução e de reaprendizado do mundo, mas o vínculo tem essa importância e esse protagonismo que vai construir ou reconstruir essa relação”, refletiu.

Ainda sobre a reconstrução de vínculos, a psicóloga sugeriu a criação de “uma caixa de memórias, como jogar flores em um determinado lugar”. “Tudo isso passa pela necessidade daquele indivíduo. É necessário colocar como ponto mais importante o vínculo. O vínculo deve ser protagonizado”, reforçou.