O recado de Churchill para ACM Neto
Leitor assíduo das biografias de Winston Churchill, ACM Neto decerto conhece a seguinte frase do primeiro-ministro: “Há pelo menos uma coisa pior do que lutar com aliados: é lutar sem eles”. A lição do inglês é do século passado, mas nunca será demais lembrar de que, na política, ninguém chega ao poder sem agregar pessoas […]
Leitor assíduo das biografias de Winston Churchill, ACM Neto decerto conhece a seguinte frase do primeiro-ministro: “Há pelo menos uma coisa pior do que lutar com aliados: é lutar sem eles”. A lição do inglês é do século passado, mas nunca será demais lembrar de que, na política, ninguém chega ao poder sem agregar pessoas e partidos. As decisões do ex-prefeito, no entanto, têm ido, até aqui, na contramão do receituário de Churchill.
Até o dia 31 de janeiro, era difícil encontrar alguém desapaixonado politicamente que não visse Neto como favorito para conquistar o governo no próximo ano. Não havia dúvida de que a gestão aprovada na prefeitura de Salvador e a juventude o colocavam na dianteira da disputa. Mas quem viu esta nuvem e olhou para o céu de novo já notou que ela mudou. De lá para cá, as peças do xadrez político se movimentaram e muito. Além do retorno do ex-presidente Lula ao jogo que alterou o cenário eleitoral, uma decisão recente de ACM Neto provocou um verdadeiro maremoto no mundo político.
A última vez que uma decisão dele teve impacto semelhante foi em 6 de abril de 2018, quando anunciou que não seria candidato a governador naquele ano. Mas o “Dia do Fico”, como ficou conhecido, em nada se compara ao “Dia da Traição”, como o deputado federal Rodrigo Maia quer que entre para a história. Se a primeira causou uma insatisfação na Bahia, desta vez, o mal-estar na classe política foi nacional.
Ao deliberar pela neutralidade do DEM naquele domingo 31 de janeiro na eleição pela presidência da Câmara, o democrata soteropolitano bateu em uma peça de dominó e tem visto, desde então, uma derrubar a outra. O veredito pela neutralidade, para evitar a implosão do partido, não ficou circunscrita ao ambiente do Congresso, como imaginou ACM Neto. Pelo contrário, provocou diversas implicações na sua vida política. O seu correligionário Rodrigo Maia, que queria o apoio da sigla ao emedebista Baleia Rossi, cortou os laços políticos e disparou uma artilharia contra ele. Acusou Neto de querer beneficiar Arthur Lira no pleito interno em troca de cargos no governo federal. Em meio à acusação, o soteropolitano quis evitar então que o aliado João Roma assumisse o Ministério da Cidadania para rechaçar a versão de Maia. Não conseguiu e teve que romper com Roma.
Além disso, ao decidir que o DEM ficaria neutro no pleito, Neto criou um desagrado no MDB nacional, e teria corrido às pressas para falar com os emedebistas baianos a fim de evitar que a insatisfação se instalasse também na Bahia. Enfraquecido politicamente, viu o governador de São Paulo, João Doria, convidar o vice, Rodrigo Garcia, para se filiar ao PSDB, e deixar o grupo democrata. Revoltado, o ex-prefeito agora fala em romper com o tucano paulista. Uma única decisão de ACM Neto puxou o fio de novelo de insatisfações no DEM, no MDB e no ninho tucano, e ainda causou dois rompimentos políticos. Isto tem feito os correligionários se questionarem: “como ACM Neto vai chegar em 2022 após brigar com tanta gente?”.
Não é novidade que Neto sempre foi criticado por não pensar nos correligionários. Antes mesmo de ser prefeito, os aliados diziam que o democrata era do “bloco do eu sozinho”. Os ressentimentos cresceram após 2018 ao optar por não ser candidato. Decisão que se mostrou acertada com o tempo, mas declarações recentes do ex-deputado José Carlos Aleluia demonstram que a mágoas dos aliados ainda não cicatrizou. Muitos atribuem as derrotas ao ex-prefeito.
Há quem diga que Neto só lidera o grupo político por falta de novas opções. De fato, até o momento, ele tem dado sorte de não surgir novas lideranças no campo da direita. O que poderia ter ocorrido em 2018 com a desistência de concorrer ao governo. Na época, Neto foi sagaz. Ao optar por José Ronaldo para ser candidato a governador, escolheu um nome que não se transformaria em um novo líder e ainda seria derrotado. Imaginem se Zé Ronaldo tivesse sido eleito, ele seria candidato natural à reeleição em 2022 e acabaria com qualquer pretensão de Neto de ser governador.
Em 2004, nos Estados Unidos, a então senadora de Nova York, Hillary Clinton, foi incentivada a ser candidata à Presidência. Ela, assim como ACM Neto em 2018, vivia um bom momento político. Mas, para entrar na corrida presidencial, assim como o ex-prefeito, teria que abandonar o cargo. Ela, assim como ACM Neto, decidiu adiar o sonho para ser postulante quatro anos depois. O que ela não calculou foi que, neste ínterim, surgiria o jovem senador Barack Obama, que a derrotaria ainda nas primárias e acabaria com a sua aspiração. Na política, dizia Churchill, é preciso ter a “habilidade de antever o que vai acontecer no dia seguinte, na semana seguinte e no ano seguinte”, sob pena de morrer na praia.
*Jornalista. Repóter na Tribuna da Bahia, twitter @rodansilva
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