História jogada fora?
A entrevista que o senador Jaques Wagner (PT) deu na rádio Nova Brasil FM na última segunda-feira pegou muita gente de surpresa, devido a afirmação do senador de que ele conta com a permanência do deputado federal Marcelo Nilo (PSB) na base do PT. Nilo tem negociado nos bastidores a sua ida para o lado do ex-prefeito ACM Neto, com a possibilidade de disputar a vaga ao Senado na chapa do DEM/UB. Segundo Wagner, que deverá ser o candidato ao governo da base de Rui Costa, Nilo pode “jogar a história dele fora” caso venha a tomar, de fato, essa decisão de romper com o petista e mudar de lado na política da Bahia.
Jaques Wagner
Aposta errada
“Marcelo Nilo é um companheiro de primeira hora nessa batalha e não acredito que ele vá. Pois, seria como jogar a história dele fora. Ele ajudou o nosso grupo a crescer. Eu, se puder apostar, acredito que ele fique do nosso lado, já que não é do feitio dele ser submisso. Mas, se ele fizer isso, será um passo muito errado que ele dará”, afirmou Wagner, para espanto da classe política, que sabe que está praticamente sacramentada a ida do ex-presidente da Assembleia Legislativa para a oposição na Bahia.
Marcelo Nilo
Novo rumo
O próprio deputado Marcelo Nilo tratou de responder a fala do senador e até então seu amigo, Jaques Wagner. Ao Portal M!, o deputado disse que “Otto Alencar e João Leão saíram da oposição e foram para o governo do PT. Nelson Leal, Paulo Magalhães, Adolfo Menezes fizeram o mesmo movimento. Algum deles jogou a história fora? No meu caso, se sair, será do governo para oposição. E a pessoa tomar um novo rumo não está jogando a história fora”, rebateu.
Otto Alencar
Pneu de estepe?
Marcelo Nilo demonstrou toda a sua insatisfação com os atuais aliados ao lembrar que, em 2014, ele tinha 62 prefeitos e o PP, de João Leão, 48. Mesmo assim, Wagner e Rui decidiram colocar Leão na vice em detrimento dele, que era politicamente mais forte. “Nós também comemos sol e poeira. Será que nós não valemos nada? Só valem Otto e Leão? Está parecendo que nós somos pneus de estepe. Só que não serei pneu de estepe de ninguém”, disparou.
ACM Neto
Proposta aguardada
O deputado socialista, que não esconde de ninguém o desejo de disputar uma vaga no Senado, tem afirmado que o ex-prefeito ACM Neto ainda não o convidou para mudar de lado, mas que, se o fizer, a proposta será analisada com cuidado pelo grupo político ao qual Nilo pertence. Na verdade, todos sabemos que o convite já foi feito por Neto sim e que o deputado do PSB já se reuniu com diversos caciques do grupo oposicionista, entre eles, o próprio ex-prefeito e o atual prefeito de Salvador, Bruno Reis.
João Leão
Os caminhos possíveis de Leão
O vice-governador da Bahia, João Leão, têm vivido um dos momentos de maior indefinição na sua vida política. O presidente do Partido Progressistas no estado tem a possibilidade de escolher, junto com o seu grupo político, entre três projetos distintos a seguir. O próprio Leão tem afirmado que se lançará ao governo, mesmo sem o apoio dos atuais aliados do PT. “É aquela velha história, como eu já cantei: ‘Quem eu quero não me quer, quem não me quer mandei embora’ […] Aí vou caminhar, procurar outra coisa”, como cantarolou o “bonitão”, em entrevistas recentes.
Cacá Leão
Cacá e a chapa de Neto
Entre os três cenários possíveis para Leão e o PP está a possibilidade de eles romperem com o governo do PT e emplacar o seu filho Cacá Leão como candidato a senador na chapa do democrata ACM Neto. Há quem diga que essa seria a única oportunidade do atual deputado federal se tornar senador da República pela Bahia. Cacá mantém uma relação próxima e de afinidade com o grupo encabeçado pelo ex-prefeito de Salvador.
Bolsonaro
Candidato de Bolsonaro?
A segunda possibilidade para o clã Leão é se afastar do governo do PT e se lançar como candidato a governador apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro. Essa estratégia colocaria a esposa do ministro da Cidadania, João Roma, a Roberta Roma, como candidata a vice na chapa do “bonitão”. Com isso, Roma, o ministro, tentaria a reeleição para a Câmara Federal e tentaria puxar a eleição de uma ampla bancada de deputados na próxima eleição.
Bispo Marcio Marinho
Marinho quer espaço
Para o Senado, nessa composição com Leão e Roberta, um dos nomes cotados seria o do deputado federal bispo Marcio Marinho. Isso, caso não avance a negociação para ele participar da chapa majoritária de ACM Neto. O presidente do Republicanos na Bahia não esconde o desejo de integrar a chapa, apesar da resistência do próprio Neto em tratar do assunto. Dizem que o democrata é supersticioso e não queria repetir o bispo da Igreja Universal (IURD) como companheiro de chapa, já que eles foram derrotados na primeira tentativa de Neto para a prefeitura de Salvador.
Leão e Lula
Leão ministro de Lula
O terceiro cenário, apontado hoje como um dos mais prováveis, é a manutenção do PP no arco de alianças do governador Rui Costa e do senador Jaques Wagner. Como Leão só pode tentar a vaga do Senado, e o atual senador Otto Alencar não abre mão de brigar novamente pelo posto, há quem diga que Leão teria sido convidado para ser ministro caso o ex-presidente Lula vença a disputa pelo Planalto. Além de assumir um desafio com projeção nacional, o PP garantiria a vaga de vice para o deputado licenciado e hoje secretário de Desenvolvimento Econômico, Nelson Leal. Além, é claro, de espaços e cargos na máquina estadual. A conferir.
Luís Roberto Barroso
O problema das federações partidárias
A decisão recente do ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, de que as federações partidárias devem obter registro de estatuto até seis meses antes das eleições, mesmo prazo para que qualquer legenda esteja registrada e apta a lançar candidatos, tem deixado os presidentes de partidos com o cabelo em pé não só na Bahia, como em todo o país. O ministro não viu inconstitucionalidade na lei que permite que duas ou mais legendas se aglutinem, como se fossem uma única agremiação. No entanto, pela norma, a união deve ser estável, com duração de ao menos quatro anos, e cumprir as regras do funcionamento partidário. Aí, inclusive, mora um dos maiores problemas.
Burla à cláusula de barreira
A federação partidária tem sido vista por muitos políticos como uma burla à cláusula de barreira. A união dos partidos não poderá ficar limitada apenas à campanha eleitoral, como é o caso das coligações. Os partidos que se unirem deverão permanecer em conjunto pelos quatro anos, o que engloba também a eleição municipal de 2024 para prefeitos e vereadores. Nas coligações, os partidos se uniam apenas para disputar a eleição e em acordos que variam de estado para estado. Abertas as urnas, eles não tinham nenhum compromisso entre si. Já nas federações, os partidos que a compõem são obrigados a atuar de forma conjunta e verticalmente do Oiapoque ao Chuí.
Ademir Ismerim
Sem o fundo eleitoral
Segundo o especialista em Direito Eleitoral, Ademir Ismerim, o partido que se desligar da federação antes do tempo mínimo previsto na Resolução “ficará sujeito à vedação de ingressar em federação, de celebrar coligação nas duas eleições seguintes e, até completar o prazo mínimo remanescente, de utilizar o fundo partidário”. O advogado diz ainda que, na hipótese de desligamento de um ou mais partidos, a federação continuará em funcionamento, sem prejuízo à sua participação na eleição seguinte, desde que nela permaneçam dois ou mais partidos. Ismerim diz também que a sigla que se desligar da federação “até seis meses antes da eleição poderá dela participar isoladamente, sem prejuízo da aplicação das sanções previstas na legislação”.
André Fraga
Articulação nacional
Por mais que os partidos nos estados emitam suas opiniões, quem, de fato, está negociando esse novo mecanismo eleitoral são os dirigentes nacionais das legendas. Na Bahia, por exemplo, o vereador de Salvador, Andre Fraga, é totalmente contrário à formalização da federação do PV com outros partidos de esquerda, como o PT e o PCdoB. Em dezembro, a cúpula do Partido Verde aprovou a criação da federação com o PSB e os comunistas. Minoria dentro do partido, Fraga diz que o PV precisa ampliar o diálogo e avançar na composição com ACM Neto.
Convidados a sair
Pelo visto, não adiantará nada alguns parlamentares do PDT baiano se dirigirem para a negociação direta com o presidente nacional do partido, Carlos Lupi, na tentativa de furar a orientação local da sigla e continuar marchando com o PT. Segundo o presidente estadual Felix Mendonça Júnior, os deputados Roberto Carlos e Euclides Fernandes não serão expulsos do PDT, mas serão convidados a deixar a sigla, caso resolvam continuar marchando com o PT. A informação é que eles não terão legenda para disputar a eleição e terão que se movimentar para encontrar novo abrigo que lhes permita manter o mandato na Assembleia Legislativa.
Rui Costa
Difícil reconstruir laços
Um observador da cena política da Bahia procurou ontem a coluna Vixe, sob a condição de anonimato, para afirmar que, apesar de ser aberto para o diálogo, o senador e pré-candidato do PT, Jaques Wagner, terá dificuldade para reconstruir muitos dos laços políticos rompidos ou desgastados ao longo dos últimos pelo governador Rui Costa. Rui, bem avaliado como gestor, coleciona uma legião de insatisfações devido à dificuldade de sentar para ouvir ou atuar politicamente. “Rui se colocou de forma insensível durante muitos momentos dos seus governos”, disparou o observador local.