Eufóricos, mas com os pés no chão
O clima de entre os apoiadores do candidato do DEM/UB, ACM Neto, era de euforia ontem, após o anúncio da desistência do senador Jaques Wagner, que não será mais candidato ao governo na próxima eleição. Apesar do otimismo, a orientação do comando da campanha democrata é que todos trabalhem para garantir uma vitória folgada na Bahia. “Não há clima de já ganhou. Não pode haver. Estamos eufóricos, mas com os pés no chão”, como disse um figurão do partido.
ACM Neto
Neto vai trabalhar em silêncio
O próprio candidato ACM Neto vai tentar se manter distante dos holofotes nos próximos dias e evitar falar sobre o assunto, até que realmente seja necessário. Ele sabe que não dá pra cantar vitória antes do tempo. Não existe eleição ganha na véspera. Na sexta-feira, ele terá agenda no interior e no sábado participará de um evento do Cidadania, que vai declarar apoio à sua candidatura. Neto promete evitar tocar no assunto, pois sabe que nada do que vier a falar vai lhe ajudar nesse momento.
João Gualberto
Chapa só após a do governo
ACM Neto sabe que esse recuo de Wagner abre margem para que cresça a pressão por uma definição da sua chapa majoritária, mas ele já tem o discurso pronto, na ponta da língua, e afirmará que só vai anunciar depois da chapa governista ser apresentada. Não tem porque sair antes. No páreo, para ocupar as duas vagas que restam, disputam quatro partidos: MDB, PSDB, PDT e o Republicanos, que podem indicar uma vaga na chapa ou bancar a candidatura de João Roma ao governo. A informação é que o PSDB não estaria fora do jogo, defendendo ainda o nome de João Gualberto para a vice. A expectativa é que a decisão seja a melhor para o grupo e que seja tomada de forma coletiva.
Rui Costa
A incapacidade de Rui formar quadros
A desistência do senador Jaques Wagner de se lançar candidato ao governo deixa exposta uma ferida e a incapacidade do governador Rui Costa de formar novos quadros dentro ou fora do PT, como o próprio Wagner fez com ele quando estava no governo. Lembro bem de uma entrevista que fiz com o senador para o jornal A Tarde, e ele disse esperar que Rui fizesse um nome para sucedê-lo. Não fez. Foi reprovado no quesito política, apesar da aprovação da sua gestão administrativa no estado.
Jaques Wagner
O novo arregão
Como a internet não perdoa, o movimento de recuo de Jaques Wagner guarda semelhanças com a desistência de ACM Neto em 2018, quando o democrata desistiu de disputar o governo e foi classificado como “arregão” pelos adversários. Na eleição passada para o governo, Neto teve que ser substituído pelo democrata Zé Ronaldo de Carvalho, que entrou no dia seguinte ao recuo e saiu da disputa com 22% do eleitorado, em detrimento de Rui, que foi reeleito com 75% dos votos.
Não existe vácuo de poder
Agora, para desespero dos deputados estaduais e federais do PT, o partido não tem sequer um nome forte para ser apresentado, muito menos, de forma consensual, sem data prevista para a finalização dessa novela. Até porque, não existe espaço vazio na política, muito menos, vácuo de poder. O risco é ver iniciada uma verdadeira demandada na seara petista.
Wagner já não queria ser candidato
Segundo avaliação de pessoas próximas a ACM Neto, várias versões podem ser dadas para esse recuo inesperado do senador do PT. Na verdade, o próprio Jaques Wagner já tinha dado sinais de que não queria ser candidato. Ele até parecia ter tomado gosto pela disputa nos últimos meses, mas, pelo visto, não foi o suficiente para mantê-lo no páreo. O sentimento é que se Wagner quisesse ser, de fato, candidato, ele seria. E não teria “argumento” que não superasse o desejo de Rui. “Essa foi uma saída usada pelo ex-governador para justificar estar fora da disputa”, como completou outro petista, ao lembrar a viagem do senador para os EUA na última semana, que serviu para sinalizar que ele iria colocar a bomba no colo do governador, como o fez.
Pesquisas indicavam vitória de Neto
Pesquisas recentes contratadas pelos candidatos mostraram o crescimento da vantagem de ACM Neto sobre Jaques Wagner, seja nas pesquisas quantitativas ou qualitativas. Teve sondagem que deu 57% a 24%, com 3% de João Roma. O peso do ex-presidente Lula era esperado na campanha, mas já havia o questionamento de até onde esse favoritismo da disputa nacional iria render votos para o candidato petista daqui.
Jaques Wagner e Lula
Acórdão pra eleger Lula?
Há quem diga que o “acórdão” falado em Brasília e relatado aqui pela coluna Vixe! em dezembro dava conta de que essa estratégia poderia passar pela articulação entre caciques nacionais do PT e o ex-prefeito de Salvador, com o objetivo de eleger o ex-presidente Lula com uma margem de 5 a 6 milhões de votos na Bahia. Por mais que pareça esdrúxula, a ação poderia resultar na decisão de o partido abrir mão do governo baiano esse ano. No bojo, teria ainda a possibilidade de Rui disputar a prefeitura em 2024 e comandar a terceira capital do país. É óbvio que essa estratégia não será confirmada por nenhum dos lados envolvidos na disputa, mas aonde há fumaça há fogo.
Bateu desespero nos deputados
O senador Jaques Wagner (PT) reiterou, durante reunião com deputados federais e estaduais do PT, na segunda-feira (28), que não será candidato a governador da Bahia. O clima no encontro foi o pior possível, pois os parlamentares sabiam que a corda iria romper para o lado deles, ameaçando inclusive, ter uma redução drástica nos respectivos mandatos. Pelo visto, de nada adiantaram os pedidos para mudança de postura do “galego”, que colocou um ponto final da celeuma e depositou o problema no colo do governador.
Mudança rápida de posicionamento
O que mais impressionou petistas históricos foi o fato de Wagner ter mudado de posicionamento de forma tão rápida. Ele já tinha começado a tomar gosto pela candidatura, impulsionado pela boa avaliação do ex-presidente Lula. Por isso, diante da sinalização clara de Rui pelo Senado, aliado à dificuldade de fechar acordos com os partidos em decorrência disso, Wagner resolveu abrir mão total da disputa e deixar o governador montar a chapa como julgasse melhor.
Otto Alencar
E agora Otto?
Apesar de lançar os nomes de Luiz Caetano e Moema Gramacho, os petistas sabem que eles não reúnem capacidade para aglutinar a base e se tornar competitivos na próxima eleição. Vão pressionar agora para que Otto seja o candidato ao governo, tendo Rui com sua alta popularidade no Senado. Resta saber se o senador irá para o sacrifício ou se disputará a reeleição na chapa enfraquecida. Segundo pessoas próximas a Otto, hoje a probalidade de ele disputar o governo está na casa dos 50% para sim e para não. Portanto, só nos resta esperar as cenas dos próximos capítulos, inclusive, para saber se haverá um pedido efusivo dos petistas para que ele aceite o desafio ao governo.
Debandada é intensificada
Com a expectativa de vitória mais clara para ACM Neto, a situação se complicou para os partidos do governo. É esperado que se acentue o movimento de debandada dos aliados do PT para o lado do democrata. Esse processo, inclusive, já foi intensificado esse final de semana. Tanto que a expetativa no QG de Neto é de vitória já no 1º turno. Se com Wagner já existia favoritismo, sem ele, o jogo se torna mais claro para Neto e sua trupe”, como completou um democrata de alto calibre.
A dor de cabeça para montar os partidos
A montagem dos partidos políticos têm sido a maior dor de cabeça dos candidatos e presidentes das siglas. No lado de ACM Neto, por exemplo, o próprio candidato assumiu as articulações para tornar as legendas competitivas. Ele sabe que essa unidade depende do envolvimento de todos e que a formação de bancadas precisa desse empenho direto. Neto tem a possibilidade de distribuir os votos de Marcelo Nilo e Feliz Mendonca Júnior a seus aliados, já que hoje eles deverão estar ao seu lado na majoritária.