“Não há nenhuma documentação de que a varíola do macaco seja sexualmente transmissível”, diz Roberto Badaró
Infectologista explica que posição da OMS se dá após testes com infectados nos quais houve a presença do vírus no esperma
Considerado um dos maiores infectologistas do país, Roberto Badaró, disse que a “a varíola do macaco não representa uma pandemia”, mas que requer cuidados. Para ele, que é PhD em Imunologia e Doenças Infecciosas e professor da Faculdade de Medicina da UNIFESP, São Paulo, não há nenhuma documentação que comprove o pedido da Organização Mundial de Saúde (OMS), para que os homens gays controlassem a superexposição sexual como forma de conter o avanço da doença.
O órgão internacional emitiu o comunicado por meio do diretor-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, quatro dias depois da entidade reavaliar a classificação do surto da varíola para emergência global de saúde. Já o conselheiro da OMS em programas sobre o HIV, Andy Seale, disse que a varíola do macaco já é considerada uma doença sexualmente transmissível, porém ainda não há documentação formal como tal.
“Na verdade, a OMS está sugerindo que as pessoas homossexuais diminuam o contato. Porque o problema é que às vezes a pessoa tem contato… E não só isso, mas o vírus do HIV, isso é outra coisa que a gente tem que também proteger. Mas eu acho que a recomendação é a recomendação mais genérica, não só para a varíola, mas também para outras doenças sexualmente transmissíveis”, pontuou o infectologista.
Badaró explicou durante entrevista com o editor-chefe do Portal M! e colunista do A Tarde, Osvaldo Lyra, que a posição da OMS se dá a testes de demonstração com infectados nos quais houve a presença do vírus no esperma, característica que, segundo ele, é comum na maioria das doenças virais.
Roberto Badaró é infectologista
“Essa é uma questão que a posição da organização mundial de saúde é uma posição de prevenção. Não há nenhuma documentação de que ela seja sexualmente transmissível. Como qualquer doença, se você tem o contato, a pessoa está com a varíola do macaco, ela tem lesão de pele. O nome está dizendo varíola porque é uma doença do tecido tegumentar. Ela não é uma doença que está ligada à transmissão sexual. O que houve foi a demonstração que eles fizeram coleta em indivíduos com a varíola do macaco, ele eliminava também por esperma, estava lá presente o vírus da varíola do macaco. O que não é nenhuma novidade. A maioria das doenças virais também são eliminadas em secreções, tanto da uretra como secreções vaginais. Então, eu não vejo como chamar de uma doença sexualmente transmissível. Não vejo. Ela é uma doença cutânea” explicou.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) Brasil, atualmente, mais de 70% dos casos relatados da doença estão na União Europeia e 25% nas Américas. Cinco mortes foram relatadas e cerca de 10% de todos os pacientes foram internados em hospitais para controlar a dor.
“Eu sou um pouquinho mais otimista do que outras pessoas que estão estudando. A varíola do macaco não representa uma pandemia como a pandemia de Covid-19, de maneira nenhuma. Ela é uma coisa endêmica, a maioria das pessoas acima de 50 anos foram vacinadas contra a varíola comum, e parece que há uma proteção cruzada. Então, eu não vejo um problema de saúde pública hoje. Eu vejo um problema que a gente está tendo casos esporádicos, como é o que ocorreu em São Paulo, como é o que ocorreu no Rio de Janeiro, e agora aqui na Bahia que teve 3 a 4 casos, não teve mais do que isso”, disse Badaró
De acordo com as secretarias de Saúde da Bahia (Sesab) e de Salvador (SMS), o estado já somam 12 casos da doença, sendo três no interior, sendo dois pacientes em Santo Antônio de Jesus e o outro em Ilhéus. Outros nove são moradores de Salvador e 50 são considerados suspeitos em todo o estado. Até o momento, o risco de contaminação da varíola não é considerado alto, mas é preocupante, no entanto, para o especialista, o cenário atual não é de uma epidemia.
“A velocidade com que ocorre isso não é uma coisa que dê ideia de que estamos tendo uma epidemia. E mais importante ainda, a doença é benigna, ela não mata. Ela faz só as lesões e com duas semanas a pessoa está recuperada”, analisou Badaró.
O médico infectologista explicou que para evitar a contaminação, a pessoa tem que evitar o contato com outras que estão com lesões na pele, uma vez que a varíola do macaco não se transmite pelo ar, como a Covid-19. “O contato é com pessoas com lesões na pele, a pessoa tem que evitar o contato com essas pessoas. Porque ela não transmite pelo ar, ela transmite pelo contato. Às vezes as pessoas estão com as vesículas, não estão na face, não estão em um lugar visível, mas estão em outro local e tem contato. Então, a primeira coisa é dizer que se você tem uma vesícula dessa, procure investigar”, explicou Badaró.
“Porque se for, você tem que proteger sua família, as pessoas dentro de casa para elas não pegarem. Isso reforça a higiene. A higienização com álcool a 70, que a gente aprendeu na pandemia, isso não deve acabar. Isso tem que continuar, porque vai proteger contra outras doenças, inclusive contra a varíola do macaco. Porque se o indivíduo estiver com ela e pegou na lesão, pegou na sua mão, você vai se contaminar. Então, é importante a gente chamar atenção nisso. Todos os casos têm uma relação de proximidade uns com outros”, completou.
O risco de novas pandemias
Na avaliação de Roberto Badaró, o momento agora é de cuidado com ressurgimento de doenças sazonais, como a dengue e a chikungunya. Segundo a Sesab, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Bahia (Divep/Sesab) está em alerta para situação epidêmica de dengue e chikungunya nas macrorregiões de saúde Sudoeste e Norte. Conforme último levantamento divulgado pelo órgão, em abril, foram notificados 24.500 casos das três arboviroses urbanas em todo o estado: dengue, chikungunya e zika. Só de dengue, foram 14.732 casos, registrados em 271 municípios, com 4 óbitos confirmados e 12 em investigação.
“Agora a gente tem que tomar cuidado, porque estão ressurgindo casos de chikungunya. A gente tem que se proteger, porque chikungunya está voltando, eu já tive alguns casos agora no consultório. Não teve caso de dengue ainda, nem de zika, mas essas doenças, essas arboviroses que são as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, elas têm que ser monitorizadas, porque já houve locais com número de casos significativo. Então, essas doenças que são sazonais, que aparecem de tempo em tempo, elas têm que ser protegidas”, falou o infectologista.
Sobre a realidade de surgimento doenças respiratórias e novos surtos que têm acontecido nos últimos anos, como H1N1 e a variante H3N2, Badaró chama a atenção para uma preocupação com as mutações dos vírus de doenças que já existem há anos.
“As variações ou as chamadas variantes é que a gente tem que se preocupar, na influenza a gente aprendeu isso. Em 1911, tivemos um surto grande de H1N1, depois veio em 1920, depois veio H2N3, em 1946 o Brasil teve um surto realmente importante, depois a gente vem sazonalmente tendo ciclos de influenza. A vacina quádrupla protege muito. Praticamente as pessoas vacinadas com a vacina quádrupla que contém as 4 variantes não pegam. Então, hoje a gente sabe que a vacinação é algo importante para influenza”, pontuou.
A vacinação é novo estudo de imunização contra dengue
À frente do projeto de vacinas Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec), Badaró explica que a Bahia estuda a primeira vacina feita com replicons de RNA. “É uma cópia do RNA, é tecnologia da vacina Moderna e da vacina Pfizer, que é o RNA mensageiro que transporta a proteína S. Nós fizemos uma imitação do RNA mensageiro, é por isso que a gente chama a vacina de replicon de RNA como adjuvante que expõe essa proteína encapsulada que chama LION. A grande diferença é essa. É o adjuvante”, falou.
O médico também explicou que toda vacina precisa estar acoplada em um adjuvante, como, por exemplo, a vacina de tétano que usa o alumínio para ser reconhecida no organismo humano. “São sistemas que o nosso sistema imunológico reconhece. Então, toda vacina tem um adjuvante. Então, essa vacina, o adjuvante deles é uma lípida da Pfizer, é uma molécula de gordura. A nossa é um LION, que na verdade é uma molécula, uma partícula lipopolissacarídica que dentro dela tem um ferro, ela tem capacidade de fazer múltiplas ligações, por isso a gente usa essa vacina. Essa é a novidade. É o adjuvante ligado com o replicon de RNA. Então, é uma vacina totalmente nova, nós diríamos até que é uma reação nova de vacina de RNA mensageiro”, completou.
Sobre as novidades do desenvolvimento e registro da vacina contra a dengue, Badaró pontuou que o imunizante teve problemas na faixa etária de crianças de 2 a 5 anos e também em adolescentes. “Então, essa vacina teve ainda um processo maior, mais estudos para que a gente possa implantá-la como instrumento de saúde pública para proteger a população. Então, ainda está em fase de teste, fase 3, para a gente disseminar. Não é uma vacina ainda que o governo incorporou para fazer campanha”, revelou.
O PhD em Imunologia e Doenças Infecciosas ainda falou sobre seu ponto de vista em relação aos questionamentos sobre a vacinação de crianças de 3 anos ou de idade cada vez menores. Na avaliação dele, a recomendação vai depender do tipo de imunizante. “Eu acho que na verdade essa é uma estratégia que vai depender muito do tipo de vacina. Eu não recomendaria vacinas de RNA mensageiro para crianças. Não recomendaria”, disse.
“As outras vacinas de vetores são interessantes, mas a vacina Coronavac, que é a que usamos aqui, essa é a vacina mais apropriada, que é um vírus atenuado e que é muito semelhante à vacina de pólio, a outras vacinas de vírus que a gente usa. A Pfizer está fazendo uma vacina para crianças, está testando, então não sabemos ainda com detalhe se podemos dar qualquer uma dessas quatro vacinas que estão no Brasil para crianças. O governo está investindo na Coronavac para crianças porque é uma vacina mais conhecida no método de fazer. É o próprio vírus que você atenua. Isso parece com outra vacina viral. Parece a vacina da gripe, parece a vacina da pólio, que também são vírus atenuados”, explicou o especialista”, explicou.
“Então, isso é uma coisa ainda que nós não temos uma resposta segura. Eu seria cauteloso, porque a mortalidade e a morbidade em crianças são muito baixas. A maioria das crianças que estão pegando a variante ômicron nem sabem. A família testa porque um adulto começou com gripe, aí testou e deu coronavírus positivo para essa cepa que está aí. Aí quando testa, os filhos também não, às vezes pega até com o filho. Mas não tem nenhuma expressão de morbidade, de causar doença. Então, por isso que existe uma corrente que não quer vacinar crianças, porque acha que elas não têm perigo de ter uma doença grave. Mas outra corrente acha que tem que vacinar as crianças para proteger os adultos. Então, ela não pega, ela não traz. Ainda é uma coisa muito confusa isso”, emendou.
Mais Lidas
Nenhuma postagem encontrada.
Saúde
Sesab promove Feira Saúde Mais Perto em Teixeira de Freitas
Número de mortes por dengue na Bahia sobe para 85
Salvador terá vacinação contra poliomielite e outras doenças neste sábado
Casos de Febre Oropouche aumentam para 628 na Bahia
Sobape realiza Simpósio de Dor e Cuidados Paliativos Pediátricos neste sábado
Prefeitura entrega Ambulatório Municipal Especializado em Pirajá nesta quarta
Pesquisa aponta a importância dos cuidados pós-UTI
Últimas Notícias
Defesa Civil alerta para novas chuvas no RS nesta semana
De acordo com o comunicado, tanto a Defesa Civil quanto a Sala de Situação do estado monitoram o avanço de uma frente fria
Sem Bolsonaro, manifestação contra Lula e Moraes fica esvaziada
Ato reuniu um número mais tímido de pessoas do que os convocados pelo próprio ex-presidente
Goleada do Cuiabá sobre Criciúma deixa Vitória na lanterna do Brasileirão
Foi a primeira vitória da equipe mato-grossense na competição
Kleber Bambam diz que foi ‘o maior fenômeno do BBB no geral’
Influencer venceu a primeira edição do reality, em 2002
ANS cobra esclarecimentos de plano de saúde sobre suspensão de vendas
A partir de 1º de julho, os clientes da Golden Cross passarão a ser atendidos na rede credenciada Amil
Em partida contra o México, Endrick iguala recordes de Pelé, mas rejeita comparações
Atleta marca com a camisa da Seleção Brasileira em três jogos consecutivos antes dos 18 anos
Prefeituras da Bahia receberão primeiro repasse do FPM de Junho com alta de 30%
Valor supera expectativas e impulsiona os cofres municipais
Lulu Santos tem “plena recuperação” após crise de gastroenterite, diz boletim
Previsão é que cantor tenha alta nesta segunda-feira (10)
Após derrota, o presidente da França dissolve parlamento e antecipa eleições legislativas
Em resposta a resultados desfavoráveis nas eleições do Parlamento Europeu, Macron busca renovar a Assembleia Nacional com novas eleições
Bahia Farm Show começa nesta segunda com expectativa de público recorde
Solenidade de abertura contará com a presença de autoridades e representantes do agronegócio nacional