“É uma designação absolutamente correta”, diz Roberto Badaró sobre mudança de pandemia para endemia

Em meio à polêmica que cerca a decisão do Governo Federal de alterar o status da pandemia de Covid-19 para endemia, o infectologista, pesquisador e professor do Senai Cimatec, Roberto Badaró, concorda com o posicionamento.

A mudança deve ser feita por meio de portaria assinada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e deve entrar em vigor a partir do próximo dia 31 de março.

Em entrevista ao Portal M!, Roberto Badaró, um dos mais renomados especialistas da sua área, explicou a diferença entre as duas situações e listou seus argumentos em favor da mudança do status.

“A pandemia quer dizer uma coisa universal, que está ocorrendo em todos os lugares. A endemia é quando os casos são em certos locais, isto é, quando sabemos as áreas em que o vírus está agindo. Aqui no Brasil e em todo mundo, o vírus está endêmico, pois não está neste momento em todos os lugares (cidades, bairros)”, explicou.

Conforme Badaró, se temos uma explosão de casos em determinado lugar, isso é um surto epidêmico e não, necessariamente, uma pandemia. “A China recentemente teve um surto de mais de 5 milhões de casos. Isso foi uma epidemia. Não tem nada a ver com pandemia”, pontua. 

O infectologista ressalta que a estimativa do R(t) – número médio de pessoas infectadas por uma pessoa contaminada – é também observada nesse contexto. Segundo ele, valores inferiores a 1  indicam que o número de casos novos é menor que os já existentes. Isso demonstra que a doença está em tendência de redução. Já quando os valores são maiores que 1 indicam a propagação da enfermidade.

“Tecnicamente com a taxa de incidência inferior a 1, ela está se tornando endêmica no Brasil. É uma designação absolutamente correta quando se está olhando os índices abaixo de 1. Não acabou porque ainda tem casos, mas está num estágio de endemia’, explicou. 

Comportamento muda

Para Badaró, com a mudança de pandemia para endemia, o comportamento da população vai mudar. A única questão que ele aponta que deve ainda se perpetuar é a do uso frequente do álcool em gel para higienizar as mãos. 

“Quando você atinge uma taxa de vacinação acima de 90% da população, não é mais preciso medidas protetivas, como uso de máscaras, fechar locais, exigir documento de vacinação. Essas coisas ocorrem para acelerar a medida de controle. A única coisa que acho que deve perdurar – e isso é bom -, é o uso de álcool em gel. Isso não deve acabar nunca”, finalizou.