Presidente da Antra avalia eleição de deputadas trans para o Congresso: “Resposta ao conservadorismo”

Pela primeira vez na história, o Congresso Nacional contará com parlamentares transexuais, em função da eleição de Duda Salabert (PDT), em Minas Gerais, e Erika Hilton (PSOL), em São Paulo. O fato foi comemorado pela presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Keila Simpson, em entrevista ao Portal M!. Na avaliação dela, a eleição das duas é uma “resposta ao avançar do conservadorismo”, e é um fato muito significativo.

A deputada federal eleita Erika Hilton foi uma das dez mais votadas no estado de São Paulo, com 256.903 votos. Já Duda Salabert foi a terceira mais votada em Minas Gerais, com 208.332.  

“São candidaturas altamente significativas porque, pela primeira vez, essas meninas rompem a barreiras dessas violências da misoginia e do machismo, e conseguem se eleger para uma cadeira no Congresso. Essa eleição delas é uma resposta, de fato, ao avançar do conservadorismo e da violência”, destacou Keila.

A presidente da Antra ressaltou ainda, que a eleição de ambas se deu a partir de dificuldades nas suas localidades, e destacou que elas se elegeram de forma “bem resistente”. Keila acredita ainda que o feito alcançado por elas deflagra um processo em que não há “possibilidade de recuo”.

“A cada eleição, vão aparecer mais pessoas querendo votar e se eleger, e nós estaremos no apoio ao mandato, vamos estar juntos nesse processo. Foi assim desde o início, e nada veio de graça. Então, compreendemos o processo que está em curso, que está posto, das dificuldades que enfrentarão por serem as primeiras, dos problemas que enfrentarão pela formação de Congresso, mas elas estão cientes de tudo isso”, apontou.

Outro ponto destacado por Keila é a preparação de Duda e Érika  para a atuação no Congresso. Na avaliação da presidente da Antra, elas estão prontas para desempenhar um bom papel.

“Elas são muito experientes nas suas atuações, vêm de mandatos de vereadoras, além de acumularem experiência da atuação nos movimentos sindicais. Isso também serviu para elas se empoderarem no campo político, e temos uma perspectiva de que sejam mandatos bem impactantes”, projetou.

O Congresso também ficou perto de ter uma terceira deputada federal transexual eleita neste ano por Pernambuco, onde Robeyoncé Lima (PSOL) recebeu 80 mil votos, número superior a seis deputados eleitos.

A candidata não conseguiu uma das 25 vagas porque a federação Rede/PSOL não somou votos suficientes para eleger dois candidatos. Com isso, a advogada se tornou suplente.

“Houve outras votações expressivas e que impactaram, a própria Robeyoné em Pernambuco, que teve boa votação. São votos que não vieram apenas da população LGBT, mas que foram definidos em muitas perspectivas em todas as áreas das comunidades”, ressaltou Keila Simpson.

Deputadas estaduais

Além dos cargos alcançados no Congresso, a presidente da Antra também destacou a eleição para assembleias estaduais. As vagas foram conquistadas por Linda Brasil (PSOL), em Sergipe; Dani Balbi (PCdoB), no Rio de Janeiro; e Carolina Iara (PSOL), em São Paulo, que é codeputada do mandato coletivo Bancada Feminista.

“Isso vai juntando, cada vez mais, possibilidades de outras pessoas adentrarem nas Casas Legislativas. Vai se reverter em muitas possibilidades de candidaturas nas eleições municipais, que é acompanhado por esse processo de crescimento de participação política, dessa política partidária em que as pessoas trans estão entrando de cabeça, e que é uma via que não terá volta, será ampliada”, apostou.

Atuação no Congresso

Por fim, Keila Simpson falou sobre como se dará a atuação de ambas no Congresso e apontou que, embora vá haver dedicação às causas LGBTQIAP+, elas não estarão legislando apenas para a “bolha”.

“Elas não foram eleitas só por esse segmento, mas por uma parcela significativa da sociedade. Quando estiverem operando no Parlamento, vão se voltar aos problemas da comunidade, para oferecer respostas à sociedade das condições que cada um tem, e que cada espaço vai propor. Foi nessa bandeira que se elegeram, para fazer seus trabalhos. Essa atuação delas, sem dúvida, vai para além do segmento LGBT”, observou.

Perguntada se o resultado das urnas é um indicativo de que a sociedade quer ver as pessoas trans ocupando a política, Keila ressaltou que chegou o momento de compreender que essa população quer ocupar esses espaços.

“Que os mandatos possam refletir também novas perspectivas, de outras pessoas se candidatando, e a sociedade vai se modificando nesse processo de emancipação que as pessoas estão experimentando agora no Parlamento e consequentemente, na modificação da sociedade”, disse a presidente da Antra.