“Minha posse é uma conquista dos povos indígenas no Brasil”, afirma defensora pública Aléssia Santos 

Integrante da comunidade Tuxá, do município de Rodelas, no norte da Bahia, Aléssia Santos foi aprovada em quinto lugar no concurso para Defensoria Pública do estado. Recém-empossada em cerimônia marcada pela emoção, ela disse que sua ascensão representava “uma conquista dos povos indígenas no Brasil”. Aléssia é a primeira descendente de índios a conquistar esse posto no país. 

“É uma sensação muito boa de que nós estamos avançando, apesar de todas as dificuldades, apesar dos tempos difíceis que estamos vivendo em todo o território brasileiro. Essa conquista, essa posse comprova isso. E vamos avançar muito mais”, afirmou em entrevista ao colunista do jornal A Tarde e editor-chefe do Portal M!, Osvaldo Lyra. 

Entre os desafios na nova fase da carreira, Aléssia diz que ainda não sabe qual será a sua atribuição, mas ressalta que sempre atuará na defesa dos povos indígenas.  

“Ocupar o cargo [de defensora], embora seja o que eu sempre sonhei, é algo que veio depois, é algo que pode deixar de existir. A minha condição de indígena não. Então, de minha parte, o meu compromisso com meu povo é constante. Mas enquanto defensora, eu me torno servidora pública, agora vinculada à Defensoria do Estado da Bahia. Então eu chego para servir a toda a população da Bahia com muita alegria. Vamos buscar junto à instituição o fortalecimento da atuação junto aos povos indígenas”, diz. 

Educação   

Na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Aléssia foi a primeira cotista indígena a se formar no curso de Direito. De acordo com a defensora, isso demonstra a importância e a eficiência da lei de cotas no país.

“A Uefs, falando sobre educação pública, tem um diferencial. Além dessa política de acesso, a universidade tem uma preocupação muito grande com permanência. Falar sobre a política de cotas, se você considerar que eu sou a primeira da minha família paterna a ter acesso ao ensino superior, de fato, só pude ter a partir disso. Essa questão de ascensão social, de acesso à educação é muito uma questão de oportunidade. Quando nós falamos lá no início sobre eu ter sido a primeira indígena, eu sempre deixo claro, sempre que eu tenho a oportunidade: não é que eu sou melhor do que os que vieram antes e tentaram”.

O novo cargo de Aléssia também abre portas para que outros indígenas com o mesmo sonho consigam concretizá-lo. A defensora diz ter ouvido relatos nesse sentido. 

“Fico muito feliz, muito feliz, porque se eu sonhei um dia em ser defensora, antes mesmo de ingressar no serviço público, se eu sonhei em cursar Direito, foi porque eu tive referências”.