Ex-ministro Delfim Netto revela traição de Lula a Ciro Gomes na campanha presidencial de 2018

O ex-ministro da Fazenda durante a ditadura militar, Delfim Netto, revelou que o ex-presidente Lula traiu o então candidato à presidência da República, Ciro Gomes (PDT), durante a campanha de 2018.

Ao programa “Conversa com Bial”, da TV Globo, veiculado na última segunda-feira (20), ele revelou que chegou a haver uma chapa organizada com Fernando Haddad do PT como candidato a vice de Ciro.

O jornalista Mario Sérgio Conti chegou a revelar, à época, a negociação entre eles, mas o próprio Haddad – escolhido pela legenda como candidato, devido a impóssibilidade de Lula concorrer ao pleito – negou o contato posteriomente.

Mas foi muito mais do que isso, segundo o depoimento a Bial de Delfim, para quem “o PT traiu Ciro Gomes e, assim, permitiu a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República”.

Porém, conforme o colunista Merval Pereira, do jornal O Globo, para se se ter uma ideia de como as negociações avançaram, Ciro Gomes jantou com Haddad, a convite deste, na casa de Gabriel Chalita em Higienópolis, que havia sido secretário de educação na gestão de Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo.

Nesse encontro, Ciro conta que partiu de Haddad a proposta para que fizessem uma chapa comum. Esclarecendo que não estava falando em nome do Lula, mas de modo próprio, Haddad perguntou a Ciro o que achava de uma chapa em que o PT indicasse o vice. Ciro Gomes conta que disse achar que o Brasil precisava construir uma alternativa, “porque a força que vai ser derrotada nessa eleição é o petismo, por conta de tudo o que aconteceu. Produzimos crise econômica sem precedentes, a centralidade da corrupção não dá para esconder, mas não sou eu que vou vetar, e vamos ver”.

Dias depois, partiu do economista Bresser-Pereira a proposta para que Ciro se encontrasse com o Delfim Netto, “uma pessoa que o Lula ouvia muito”. Aceitei, diz Ciro, pois me dou muito bem com o Delfim Netto, com quem já tivera vários encontros durante o governo Lula, e encontrei muitos pontos em comum.

No escritório do Delfim, para surpresa de Ciro, ao invés da discussão sobre programa de governo, a conversa foi direto para a política. Na ocaisão, Delfim perguntou se ele estava disponível, lembrando que o Fernando Henrique Cardoso havia escrito um livro (“Crise e reinvenção da política no Brasil”) defendendo uma frente progressista ampla de centro-esquerda.

Ciro Gomes lembra que disse que discordava de o ex-presidente em muitos pontos, “mas sempre nos tratamos com muita cordialidade”. No relato de Ciro, o ex-ministro Delfim Netto lançou na mesa o nome do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, para ser o vice dele, e Ciro pontuou que o Haddad estava pronto para assumir esse posto. Haddad, então, teria confirmado, disse que queria ajudar, e que poderia formar a chapa com o pedetista.

No dia seguinte, porém, o ex-refeito de São Paulo negou enfaticamente no dia seguinte, e manteve-se como vice de uma hipotética chapa com Lula para presidente. Durante a campanha presidencial, num debate do primeiro turno, Haddad chegou a dizer que fora Ciro quem o convidara para ser seu vice, no que chamou de chapa “dream team”, como teria classificado na época.

Para confirmar a versão, Ciro conta que houve um momento em que a ex-presidente Dilma Rousseff levou a Mangabeira Unger e a Cid, seu irmão, uma proposta de Lula “para que eu ficasse no lugar do Haddad como vice dele. Não tiveram coragem de oferecer diretamente a mim, porque sabiam que não aceitaria. Seria um presidente anão, que não teria autoridade para fazer nada”.