Cientista político indica permanência de valores de extrema-direita no Brasil com ou sem Bolsonaro

O marco zero apontado pelo pesquisador como um embrião para o extremismo no Brasil foi o movimento chamado “Jornadas de junho de 2013” 


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redacao 01/11/2022 16:12 Política

O bolsonarismo veio para ficar? Ainda não é possível saber, mas na interpretação do cenário político do Brasil aos olhos do professor e pesquisador em Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Paulo Fábio Dantas, os valores de extrema-direita vão permear a sociedade brasileira por longos anos.

Em sua explicação, durante entrevista ao programa Nova Manhã da rádio Nova Brasil FM desta terça-feira (1º), Fábio disse que o chamado movimento bolsonarista [em alusão aos seguidores dos ideais disseminados pelo atual presidente Jair Bolsonaro] nada tem a ver com eles mesmo pregam: conservadorismo. Em vez disso, segundo Dantas, eles praticam valores associados ao movimento de extrema-esquerda.

“Isso aí, com ou sem Bolsonaro é algo que veio para ficar. Esses valores existiam adormecidos na sociedade brasileira há muito tempo. Mas eles não apareciam na arena política porquê?”, chamou à reflexão o cientista em entrevista com o editor-chefe do Portal M!, Osvaldo Lyra.

O marco zero apontado pelo pesquisador como um embrião para o extremismo no Brasil foi o movimento chamado “Jornadas de junho de 2013”, quando milhares de cidadãos paulistas realizaram uma série de protestos pelo estado contra o reajuste da tarifa do transporte público. Na época, o valor cobrado era de R$ 3 e passaria para 3,20. A força da ação foi tão intensa que afetou todos os estados da federação e engrenou também o Impeachment de Dilma Rousseff e 31 de agosto de 2016, além de um distanciamento de pensamentos de direita para o extremismo.

“Esses valores existiam adormecidos na sociedade brasileira há muito tempo. Mas eles não apareciam na arena política porquê? Porque no Brasil tivemos um sistema político até uma década atrás que atendia ao centro. Podia ter governos mais à direita ou para à esquerda, mas que eram centrados que não permitiam que visões extremistas”, pontuou Fábio Dantas.

“Esse sistema perdeu o centro há mais de 10 anos, desde 2013, na má reação que a elite política teve. Com as manifestações políticas de 2013, com esse sistema político, nós entramos num voo cego. Com isso, esse valores encontraram brechas e colocaram o pé numa área e acho difícil que saia”, acrescentou o professor.

Já num cenário pós-impeachment e com o governo de Michel Temer, marcado por diversas emendas, o povo descobriu o então, deputado Federal, Jair Bolsonaro, que já beijava a face com ideias extremistas. Com uma possível ‘ameaça’ do governo PT [desgastado ao longo dos últimos anos pelos escândalos de corrupção] de retorno à presidência com Fernando Haddad, Bolsonaro foi eleito presidente mesmo antes de ganhar o pleito, em 2018. De lá para cá, o movimento de extrema-direita camuflado no bolsonarismo só tem ganhado mais força e adeptos à causa.

“Conservadorismo e extrema-direita são coisas distintas. A extrema-direita não é conservadorismo. São duas coisas muito distintas. O que existe na sociedade brasileira são valores conservadores e que esse movimento internacional de extrema-direita abraça como sua base social, mas na verdade não se pode chamar de conservador uma atitude política cujo sentido é destruição. É uma contradição em termos. O conservador não destrói instituições. O conservador constrói instituições na expectativa de que elas impeçam que haja mudanças”, explicou o professor de pesquisas políticas da Ufba.

O silêncio de Bolsonaro

Fábio Dantas também não deixou de colocar no meio da análise o silêncio de Bolsonaro que já somam mais de 36 horas, desde que soube de sua derrota nas urnas, no último domingo (30). Na avaliação do especialista, o rumo do movimento de extrema-esquerda e o fortalecimento do então’ bolsonarismo’ depende dos caminhos a serem tomados por ele a partir de agora.

“Se Bolsonaro continuar a ser agregador desse campo que é minoritário da sociedade brasileira, eu não sei. Depende muito das atitudes que ele tomar a partir de agora. Esse silêncio dele é indicador de que pode haver problemas. Quem tem 58 milhões de votos passa a sofrer uma dupla tentação, de um lado ele pode preservar esse número, fazendo com que ele modere os passos para continuar sendo um ator na cena ou ele vai ceder as suas propensões mais autocráticas e chutar o pau da barraca, numa aposta de que pode continuar a ser líder de um movimento minoritário de extrema-direita”, refletiu Dantas.

“Esse movimento internacional na qual me refiro tem ambições revolucionárias no velho sentido de voltar a um começo imaginário. Eles são reacionários, mas do que conservadores e na verdade eles conseguem captar essa imagem de conservador justamente porque não existe partido de direita conservador que mereça o nome. Isso é uma das carências da democracia brasileira que precisa de um partido com essas caracteristicas”, emendou.

Com a vitória de Lula e o retorno da centro-esquerda à presidência, o cenário a se desenrolar nos próximos anos para os políticos adeptos desse movimento deve ser de escassez, embora eles ainda mantenham boa parte do congresso, eles perderam a articulação mestra – a presidência.

“Eu creio que a extrema-direita vai perder o poder de articulação no congresso, mas isso não quer dizer que ela fique irrelevante”, disse Fábio Dantas, acrescentando que Lula deverá se articular para promover um governo democrático que abranja não só o centro-esquerda, mas também a direita ao longos dos próximos quatro anos. 

Veja também:

> Cientista associa vitória do PT na Bahia ao tradicionalismo da política local e à força de Lula

 
*Confira a entrevista na íntegra:

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