Branquitude cultural esquece de parabenizar Margareth Menezes

Até que ponto uma artista negra que se projetou a partir do badaladíssimo Carnaval de Salvador é enxergada com bons olhos pelo mainstream cultural branco?

Ela é cantora, compositora, instrumentista e gestora cultural, mas nem o seu currículo fez com que a classe artística – boa parte dela com altos (e justos) cachês – se manifestasse parabenizando-a ou aceitando o convite para ‘dar as mãos’ e ajudá-la a reerguer o setor cultural, tão deteriorado no atual governo de Jair Bolsonaro (PL).

Aos 60 anos, Margareth Menezes, soteropolitana da Cidade Baixa, confirmou nesta terça-feira (13) que vai ser ministra da Cultura, a partir de janeiro de 2023, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Numa atenta busca nas redes sociais, poucos artistas se manifestaram com o famoso textão elogiando a baiana, cuja voz ficou marcada com a música Faraó, que costuma arrastar esses mesmos astros e estrelas pelas ruas de Salvador, em uma das maiores festas de rua do mundo.

Com exceção de Daniela Mercury, Margareth foi parabenizada por artistas e jornalistas pretos, que enalteceram a importância de uma mulher nordestina e negra assumir um dos ministérios que tão bem representa a diversidade do povo brasileiro.

O conterrâneo Carlinhos Brown, mestre no uso das palavras, lembrou que a cultura não tem partido – “tem inteiros”. “Com um país da divervidadec e com uma cultura popular de extrema riqueza. Assim estamos no caminho certo”, escreveu Brown, que divide a autoria  da música Dandalunda com Margareth.

“Maga, minha irmã, além de desejar sorte, reitero o meu incondicional apoio. A qualquer momento você pode contar comigo, embora sua força não precise disso. Sua sensibilidade, seu conhecimento da cultura barroca, das artes plásticas, sua liderança no mercado Iaô, sua visão única  e internacional da música brasileira farão que as sombras se vão e o sol volte a brilhar sobre a alegria que sempre há de reinar em nosso país”, escreveu Brown.

A atriz Camila Pitanga disse que a futura ministra representa esperança ao setor.  “Margareth é a chama que nos aquece e dá esperança para a nossa cultura tão sucateada. Viva Margareth”, postou.

Em um texto que faz referência à jornalista Flávia Oliveira, do jornal O Globo e da Globo News, a escritora Conceição Evaristo traz a constatação de que,  embora Margareth esteja no panteão das grandes artistas baianas, o reconhecimento do seu trabalho ainda é incipiente.

“Não são muitos brasileiros que têm o conhecimento dela sobre a cadeia produtiva cultural. Ela é muito mais do que uma cantora (fortemente inviabilizada pelo privilégio branco no estado mais preto do Brasil)”.

Amiga de Margareth, Daniela Mercury, enalteceu a conterrânea. “A representatividade de Margareth no governo é fundamental para construirmos o Brasil que sempre sonhamos. […] Desejo muita sorte e peço a união de todos os agentes culturais para reerguermos a cultura com a liderança de Maga”, escreveu Daniela.