Bolsonaro resolve falar após dias em silêncio: “A gente comete alguns deslizes”

Após muitos dias em silêncio, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) resolveu falar nesta segunda-feira (16) com apoiadores na porta casa onde está hospedado em Orlando, nos Estados Unidos. Bolsonaro admitiu que cometeu “deslizes” durante a sua gestão e chamou de “inacreditável” os ataques terroristas acontecidos no último dia 8, em Brasília.

“Em quatro anos, todo dia era segunda-feira. Tem alguns furos? Tem, lógico. A gente comete alguns deslizes em casa, quem dirá no governo. Só que em casa a gente sabe quem é o responsável. É sempre nós, os maridos”, falou aos apoiadores. 

Durante a sua fala, Bolsonaro abordou os ataques golpistas em Brasília, mesmo sem os apoiadores tocarem no assunto. Ele passou à condição de investigado na última sexta-feira  (13).

“Lamento o que aconteceu dia 8, uma coisa inacreditável. Mas no meu governo, o pessoal aprendeu o que é política, conheceu os poderes, começou a dar valor à liberdade. Eu falava para alguns sobre a liberdade, e eles diziam que era igual ao sol, nasce todo dia, mas não é bem assim não. A gente acredita no Brasil”, declarou.

Bolsonaro está nos Estados Unidos desde o último dia 30 de dezembro de 2022, antes de entregar o seu mandato e a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no ato oficial ocorrido no dia 1º de janeiro e seguido por todos os presidentes que deixaram o cargo.

O ex-presidente está hospedado na casa de José Aldo, lutador brasileiro de MMA, no condomínio de luxo Encore Resort at Reunion, na cidade de Kissimmee, no estado da Flórida. Bolsonaro chegou a ficar internado alguns dias em um hospital dos Estados Unidos com dores abdominais, mas teve alta na terça-feira (10).

A sua presença em terras norte-americanas, no entanto, não é bem vista por todos. Um grupo de parlamentares democratas dos Estados Unidos enviou uma carta para o presidente americano, Joe Biden, pedindo a anulação do visto de Bolsonaro.

O grupo solicita que Biden “colabore com as autoridades brasileiras” na investigação dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Quarenta e seis parlamentares democratas assinaram a carta. Biden chegou a condenar o ataque aos Três Poderes e prestou solidariedade ao Brasil.

Novo ‘cercadinho’

Como mostrou o Estadão nesta segunda-feira, o ex-presidente se refugia num condomínio de alto padrão na Flórida e tem vivido uma realidade que, em alguns momentos, lembra o antigo “cercadinho” do Palácio da Alvorada. Concordando com as falas do presidente, os apoiadores até pediram para que ele permanecesse nos Estados Unidos.

A implicação formal de Bolsonaro nos ataques às sedes dos Poderes, porém, deverá ampliar a pressão de parlamentares americanos que tentam impedir a permanência do ex-presidente em solo americano. 

Na semana passada, Bolsonaro compartilhou um vídeo questionando o resultado da eleição presidencial de 2022, em sua primeira manifestação expressa em defesa da tese de fraude eleitoral após os atos golpistas do fim de semana, em Brasília. Ele apagou o conteúdo pouco mais de três horas depois.

Na sexta-feira, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, aceitou o pedido feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar se Bolsonaro incitou atos golpistas. O ex-presidente será investigado na frente que se debruça sobre “expositores de teorias golpistas que promoveram a mobilização da massa violenta”. O vídeo publicado no Facebook embasa o argumento dos procuradores.

No sábado (14), o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres, foi preso ao chegar ao Brasil por determinação de Moraes. Ele também estava na Flórida durante os atos golpistas do dia 8 enquanto secretário de Segurança Pública do Distrito Federal – posto responsável pela defesa dos prédios dos Três Poderes.

Torres afirmou que estava de férias e por isso fez a viagem, foi exonerado do cargo pelo então governador Ibaneis Rocha (MDB) ainda durante os acontecimentos.

* Matéria atualizada às 20h