Psicólogo explica como lidar com as cobranças de virada de ano e manter a saúde mental em dia

Toda virada de ano é a mesma coisa: as pessoas criam novas metas e fazem um balanço do que foi feito nos últimos 365 dias. Este processo, no entanto, pode se tornar um fardo e trazer uma sensação de impotência diante dos objetivos não alcançados. Neste período, é realizada a campanha do Janeiro Branco, voltada para a saúde mental da população, e o Podcast do Portal M! convida você a refletir sobre cobranças e práticas que te afastam da sensação de bem estar.

O Podcast ouviu o psicólogo e neuropsicólogo Gustavo Caribé. Ele é mestre e doutorando em Ciências da Saúde pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), além de ser professore e especialista em Saúde Mental e Dependência Química e em Atenção Integral aos Usuários de Substâncias Psicoativas.

Caribé destacou como a ansiedade de querer controlar tudo pode gerar ainda mais insatisfação, já que existem fatores que fogem ao nosso planejamento. Além disso, o especialista destacou a flexibilidade como característica positiva nesse processo.

“Duas coisas são fundamentais. A primeira: nós não podemos assumir o papel de martelo da Justiça, ou seja, se uma meta foi traçada e não foi cumprida, eu não posso me cobrar e me machucar por isso. Eu tenho que ser flexível, aceitando que, por mais que eu tenha planejado aquela meta, nem tudo pode ser cumprido, aceitando também que eu posso tentar cumpri-la no ano seguinte. A segunda é o planejamento. Quando criamos objetivos para o próximo ano, nós tendemos a focar no final do trajeto. Se eu tenho o objetivo de perder 10kg, por exemplo, eu preciso pensar no que devo fazer agora para chegar lá. Além disso, qual é a condição que você tem hoje para iniciar o seu projeto e alcançar a meta? O que está de faltando? Temos que planejar, mas entendendo que não podemos ser muito rígidos conosco”, aconselhou.

O psicólogo também explicou que, nesse processo, é necessário focar a energia no que depende do nosso controle e aceitar o que independe.

“Dessa forma o gasto de energia, o estresse, o desconforto, até aquela ruminação do pensamento diminuem. Biologicamente, todos nós, indivíduos, somos ansiosos. É preciso aceitar essa condição e lidar com o que temos em mãos”, afirmou.

Sobre a realização das coisas que precisam ser colocadas em prática, mas que nem sempre são agradáveis, Gustavo Caribé explicou que a disciplina é importante exatamente nesses momentos, enquanto a motivação se manifesta quando se faz o que se gosta.

Para exemplificar, o psicólogo disse que isso ocorre quando um indivíduo começa a malhar. Nas primeiras semanas, a tendência é ficar animado, mas logo isso deixa de ser novidade e outras prioridades aparecem. Nesse momento, é preciso disciplina para manter a rotina de exercícios.

Sobre a atividade física, o especialista destacou que ela está ligada a dois fatores fundamentais. O primeiro é a produção de endorfina e dopamina, hormônios e neurotransmissores que geram sensação de bem estar. O segundo é que a atividade física também leva o indivíduo a desenvolver a chamada atenção plena, que é quando ele passa a focar naquele momento, no presente, se desvencilhando das preocupações futuras e de situações do passado para viver efetivamente o ‘agora’. De acordo com Caribé, ao fazer isso, as pessoas tendem a relaxar.

Outras dicas dadas pelo especialista que podem funcionar como alternativas para restabelecer a ordem mental são a arrumação e a meditação.

“Arrumar gavetas, fazer faxina em casa, lavar os pratos, tudo isso é o ‘labor’, que é o trabalho. A laborterapia consiste em uma terapia alcançada por vias do trabalho, geralmente manuais. Já a meditação é uma prática de atenção plena, quando a pessoa se desvencilha das suas preocupações para focar na sua respiração e em como ela sente o seu corpo. Todas essas formas são estratégias que funcionam como higiene mental, auxiliando no equilíbrio emocional e mental”, detalhou.

Por fim, o psicólogo lembrou da necessidade de se assumir um compromisso com a própria saúde mental.

“A gente passa a acreditar que depende do outro a manutenção da estabilidade da nossa saúde mental, quando na verdade depende da gente. É mais interessante a gente preservar a nossa saúde mental do que ter razão. Entender que um estresse em uma situação qualquer vai afetar especificamente você, então é você que tem que ter esse compromisso. O Janeiro Branco é um pontapé inicial para o ano inteiro, começando junto com o ano, nos lembrando da importância dessa manutenção”, pontuou Gustavo Caribé.

Confira o podcast na íntegra