Psicanalista Marcelo Veras aponta a insônia como o maior transtorno trazido pela pandemia
Em entrevista ao podcast do Portal M!, médico psiquiatra e doutor em Psicologia fala sobre os principais problemas à saúde mental gerados pela crise sanitária
A pandemia da Covid-19 no Brasil já dura há um ano e dois meses, e muitas pessoas têm buscado ajuda por não saber lidar com as mudanças na rotina, isolamento social e, sobretudo, com as perdas causadas pela doença.
Médico psiquiatra, coordenador do Programa de Saúde Mental e Bem-estar da Ufba (PsiU), mestre em Psicanálise pela Universidade Paris 8 e doutor em psicologia pela UFRJ, Marcelo Veras é o entrevistado desta edição do podcast do Portal M!
Autor dos livros A loucura entre nós e Selfie, logo existo, Veras afirma que o maior transtorno observado neste período é a insônia. A maioria das pessoas apostaria, de forma equivocada, em depressão, medo e ansiedade, que de fato existem, mas não formam a maioria dos casos.
“O problema que mais escuto é a insônia por algumas razões. De um momento para o outro, somos obrigados a passar horas e horas diante de uma tela, com contatos virtuais. Esta estimulação do córtex deixa seus efeitos e pagamos o preço na hora que vamos dormir”, explicou.
Marcelo Veras disse ainda que é difícil desconectar por conta do ambiente doméstico, genuinamente pequeno. “Uma noite mal dormida transforma o dia seguinte em um dia com muita apreensão e nervosismo”, resumiu.
O psiquiatra e psicanalista faz uma analogia com filmes de Hollywood, nos quais há ideias preconcebidas de que todo ano o mundo é ameaçado por um fenômeno que levará à extinção da vida na Terra.
“Foi preciso um tempo para que as pessoas passassem a entender que não teria trilha sonora nem um roteiro pré-estabelecido e que cada um teria que reinventar aos poucos a sua maneira de viver a pandemia”, explicou.
Estresse
O isolamento social gerou um estresse psicológico que evoluiu com a mudança de vida e hábitos. O médico explica que “uma certa negação é comum para nos fazer sobreviver”.
“Se tivessem nos dito, se soubéssemos em março do ano passado, que passaríamos um ano e meio, dois anos, talvez até mais, regidos pela lógica de um confinamento, de um estresse, de um cuidado excessivo com a contaminação, não teríamos suportado isso. Então, uma certa negação é comum nesse estado para nos fazer sobreviver”, disse.
“Hoje contamos diariamente mortos aos milhares e alguns dizem que estamos banalizando, [mas] não é bem banalizar. É do mecanismo realmente psicológico tentar se defender um pouco disso, defender desse horror, para tocar a vida. Então, essa fronteira entre o que é um negacionismo, por exemplo, que é uma negação radical da verdade, e do que é simplesmente uma negação inconsciente do horror para poder suportar, continuar vivendo, às vezes ela é tênue, mas é fundamental”, acrescentou.
Para reduzir os impactos psicológicos neste período de pandemia, ele acredita que passa um pouco pelo modo “como somos capazes de nos socializar, mesmo que virtualmente”.
“É curioso pensar que Segunda Guerra Mundial as pessoas [viviam] em condições absolutamente miseráveis, com mortos, feridos, uma precariedade social muito grande. E hoje, em condições muito melhores, ou seja, trancados no conforto até das nossas casas, sem que haja uma violência tão explícita vindo do outro, alguns não podem suportar, por exemplo, duas semanas sem um reggae, sem contar com os amigos”, pontuou.
Veras completa ainda afirmando que é preciso entender que “somos os únicos animais do planeta que conseguimos fazer tribos, bandos, grupos virtualmente. Isso não vai acontecer como a manada, não vai acontecer com bois, com vacas, com outros animais. Então, temos que saber do usar essa capacidade de inventar”.
Apoio
Questionado sobre qual a hora certa para procurar ajuda de um profissional, Marcelo Veras diz que estamos no momento em que aqueles que podem e querem devem fazer isto.
“Já estamos no momento em que o mais importante é saber se um filho vai se dar bem numa escola, saber se eu estou me dando bem. Nós já estamos no momento em que quem está conseguindo sobreviver simplesmente reinventa o modo de estar vivo”, disse.
Atualmente coordenador do PsiU, que conta com mais de 30 psicanalistas que acolhem essa comunidade de cerca de 50 mil pessoas, Marcelo Veras ressalta que, em alguns encontros, “muitas vezes elas não têm nem privacidade para poder falar”.
“São pessoas que, às vezes, não podem falar do sofrimento, porque estão muito próximas de outro. É importante dar um toque para alguém, mas, para isso, é também importante que haja uma oferta maior e mais clara. Então, cada vez mais eu acredito que, assim como a gente pensa tanto na saúde física, mesmo os órgãos públicos, devem pensar em oferecer uma disponibilidade maior para a escuta”, ressaltou.
Tipos de sofrimento
Marcelo Veras ainda disse que as pessoas têm sofrimentos distintos.
“Nós temos centros de sofrimentos. Por exemplo, da mulher que ainda, infelizmente, continua sendo a protagonista da dupla, tripla jornada, mais do que os homens, e ainda tem que cuidar da casa inteira”, aponta.
“Há um certo sofrimento entre os casais, porque o confinamento é muito forte. Vou dar um exemplo, pode parecer até irônico, mas muitos casais, às vezes, se mantêm exatamente por conta da possibilidade de encontrar os amigos e aquilo faz o contrário [do esperado]: não destrói o casamento, faz com que fique melhor, um sentimento de cada um tem um espaço de liberdade. Porque não adianta, quando a gente tá casado durante muito tempo, é necessário introduzir espaços de liberdade, senão o casamento vira prisão”, pontuou.
Para ele, as crianças e os jovens se adaptam melhor, porque já estão completamente imersos na questão da tecnologia virtual. Veras ressalta que a maior preocupação é com os idosos.
“Para mim, a grande preocupação é com os idosos. Por quê? Porque os idosos são aqueles que, muitas vezes, estão se mantendo na consciência por um certo fio mais tênue. E o que mantém eles ainda com uma vida consciente é exatamente a capacidade de encontrar com amigos na rua, de sair, de socializar, de poder, por exemplo, ver os filhos e os netos com uma frequência muito grande”, explicou.
Confira a entrevista na íntegra:
Mais Lidas
Nenhuma postagem encontrada.
Podcast
Falta de planejamento e gestão podem arruinar planos dos novatos na política
“O modelo de vida atual é bastante adoecedor”, afirma neurologista
Neurologista explica como aumentar a imunidade e prevenir doenças
Endometriose é tratada com hormônios e até cirurgia, afirma especialista
Ginecologista chama atenção para sintomas e sinais de alerta da endometriose
Últimas Notícias
MTV exibe especial com melhores shows do prêmio Miaw no Brasil e México
Exibição será nesta sexta-feira (19)
Kleber Rosa critica às autodeclarações de ACM Neto e Ana Coelho de “pardos” ao TSE
Kleber comentou que ACM Neto não possui nenhum vínculo identitário com as populações negra e parda, nem do ponto de vista do fenótipo
Elinaldo Araújo prestigia lançamento oficial da campanha de Manuel Rocha
O encontro contou com a presença do vice-prefeito; da primeira-dama; além de milhares de autoridades, lideranças e candidatos políticos
Estados pressionam por derrubada de veto que retira recursos de educação e saúde
Os vetos atingem artigos que determinavam que a União compensaria os estados pela perda de arrecadação, para que os gastos mínimos constitucionais em educação e saúde
República do Reggae reunirá grandes nomes do gênero no Wet
Ponto de Equilíbrio, Edy Vox, The Itals e Marcia Griffiths são atrações já confirmadas para a festa, agenda para 20 de novembro
Roma planeja uma Bahia eficiente e tecnológica em seu governo
O bolsonarista lembrou da visita que o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez ao Cimatec, em Salvador, e ficou impressionado com o que viu
Beneficiários com NIS final 9 recebem nesta sexta-feira a parcela do Auxílio Brasil
Até o fim do ano, benefício tem valor mínimo de R$ 600 por família
Lula, Tebet e Ciro querem retomar ministérios extintos e ressuscitar pastas
Eles anunciaram que pretendem mudar configuração ministerial. Bolsonaro recuou após enxugamento e também estuda recriar pastas
Caravana da Mata Atlântica chega à Praça Aquarius nesta sexta-feira
Durante a ação, mais de 100 mudas serão entregues
Pré-selecionados do Fies têm até esta sexta-feira para enviar informações
Este ano, são oferecidas 110.925 vagas