Redução da cesta básica em fevereiro não aponta cenário de quedas futuras, avalia Dieese

Embora a cesta básica em Salvador tenha registrado queda de 1,99% no mês de fevereiro, o cenário não deve se repetir nos próximos meses deste ano. Deve, portanto, persistir o que o consumidor vem sentido no bolso: a alta no preço dos alimentos.

Segundo a supervisora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) da Bahia, Ana Georgina Dias, mesmo com a queda no valor de produtos específicos, como carne bovina e óleo de soja, não é possível projetar uma redução constante. 

“É difícil fazer previsões de cenário porque há vários fatores que interferem no preço final dos alimentos, como o preço do combustível usado pelos caminhões que fazem a distribuição dos produtos e a valorização da moeda”, explicou a analista. 

Segundo estudos do Dieese, os produtos que derrubaram o preço da cesta básica em fevereiro foram tomate (-8,06%), óleo de soja (-5,29%), arroz agulhinha (-2,81%), leite integral (-2,00%), pão francês (-1,97%), café em pó (-1,54%), feijão carioquinha (-1,50%) e carne bovina de primeira (-1,42%).

Balança comercial

O brasileiro enfrenta, neste primeiro semestre do ano, as consequências da alta do valor da cesta básica em 2020 – que subiu 32,89% no acumulado do ano. Na avaliação de Ana Georgina, o câmbio desvalorizado para o real pode explicar a alta no preço da cesta básica nas cidades brasileiras. 

“A alta do dólar no ano passado favoreceu as exportações de produtos agrícolas, em vez do abastecimento do mercado interno. Com a oferta reduzida no Brasil, houve a elevação de preço”, explica. 

Ao passo que a alta do dólar favorece a importação, o que gera escassez de oferta no mercado interno, o câmbio em relação ao real também pode prejudicar distribuição das mercadorias pelo país.

Isso porque a logística é feita por meio do transporte rodoviário e os caminhões são abastecidos com combustível precificado em dólar. “Os caminhões utilizam muito combustível, e o preço do frete interfere no preço final do produto”, pontua Ana Georgina Dias.

Renda em queda

Mesmo diante da impossibilidade de projetar o cenário de preços da cesta básica para os próximos meses, a supervisora técnica do Dieese alerta para a possível redução de renda dos brasileiros, por causa da pandemia e da diminuição no valor do Auxílio Emergencial. 

“Nem hoje nem no ano passado, o Auxílio Emergencial seria equivalente ao valor da cesta básica”, afirma.

Até dezembro de 2020, o benefício era de R$ 300 – metade do valor pago nos primeiros três meses. Agora, na segunda rodada do Auxílio Emergencial, o valor médio será de R$ 250 por família, mas cai para R$ 150, se o cidadão mora sozinho. O teto é R$ 375, caso a beneficiária seja uma mãe que, sozinha, é responsável pelo sustento de um filho menor.