Vítima de violência quando ainda criança, gestora de lar de acolhimento decide dedicar sua vida ao cuidado com o próximo

“Com dez anos de idade eu já sabia que o que eu sofri com um crime”, contou Vera Guimarães, fundadora do Lar Pérolas de Cristo

redacao 17/02/2024 15:30 • Inspiração

O que fazer diante de um caso de injustiça? Vera Guimarães, gestora e fundadora do Lar Pérolas de Cristo, decidiu que faria o possível para que esse tipo dor não mais chegasse aos outros que, assim como ela esteve, são vulneráveis e precisam de apoio.

A realidade pode oprimir, segregar e desamparar quem não tem estrutura social e financeira para se proteger. Foi o que aconteceu com Vera, que aos dez anos de idade, já sabia que dedicaria a sua vida ao cuidar do próximo.

“Essa vontade de desenvolver esse trabalho, de trabalhar com pessoas vulneráveis, nasceu de uma violação de direito que eu sofri enquanto criança. Eu tinha dez anos de idade quando eu fui abusada sexualmente. Por vir de uma família de vulnerabilidade extrema eu precisava, com dez anos, fazer pequenos serviços na casa dos vizinhos, lavando banheiro, areando panela, saindo para comprar coisas para as pessoas e, em uma dessas casas, um homem de, na época, 29 anos, abusou sexualmente de mim”, disse a mulher.

Nem sempre a vítima, principalmente as menores de idade, conseguem identificar que vivenciaram uma violência, contudo, Vera sabia. A partir disso, buscou por justiça, o que não conseguiu. Desapontada, a menina cresceu com o sonho de ajudar outras pessoas que, assim como ela, são vulneráveis e, por isso, mais suscetíveis à ação de criminosos. Combativa, ela compreendeu que a mudança social seria sua principal arma na luta contra a injustiça.

“Com dez anos de idade eu já sabia que o que eu sofri com um crime, mas a família [do abusador] tinha um poder aquisitivo maior, então, infelizmente, ele ficou impune. Mesmo assim eu não me calei, não consegui a punição, mas busquei, já na minha maioridade, ajudar outras pessoas. Eu precisava e sonhava em ajudar tantas outras pessoas que estavam sendo tratadas como lixo, pois é assim que eu me sentia”, revelou.

Com isso, em 18 de setembro de 1993, nasceu a organização não governamental e filantrópica Lar Pérolas de Cristo, instituição que há 30 anos oferece acolhimento provisório para crianças e adolescentes afastados do convívio familiar em virtude de medidas protetivas.

De início, os acolhidos eram menores de idade, vítimas de abandono ou de violência sexual, física ou psicológica. Todos eles são encaminhados por Conselhos Tutelares, Ministério Público ou Juizado de Infância e Juventude. Com o passar dos anos, Vera foi de deparando com novos grupos que necessitavam da sua ajuda, além das crianças.

Para ampliar a sua ação social, a gestora passou a buscar apoio de órgãos públicos para acolher também as mães das crianças em vulnerabilidade. Com isso, vieram também os irmãos das crianças já acolhidas e, com o passar do tempo, passaram a ser absorvidos pelo Lar também os pais. Como são muitos os problemas sociais, pessoas em dependência química também acabaram sendo contempladas.

Vera, entretanto, é incansável na oferta de dignidade a todos e hoje deseja acolher também pessoas transsexuais que, negligenciadas pela sociedade e pelas famílias, acabam parando nas ruas e sem oportunidades de emprego. Acolhendo aqui e ali, a mulher já acumulou outras unidades da instituição além da pioneira, em Paripe: Cajazeiras, Itapuã e Coutos. Hoje são 530 pessoas acolhidas nos diferentes espaços.