Música sempre: Start me up Charlie Watts

Quando lançou “Tattoo You”, em 1981, o que muitos fás dos Rolling Stones reparavam não eram as 11 composições assinadas por Mick Jagger e Keith Richards, mas apernas uma: “Start me up”, que abria o álbum, e que mais tarde se tornou o hit de abertura da maioria das turnês da banda mundo afora. Com um riff de guitarra de Richards, a música chamava a atenção pela batida seca e cadenciada do baterista Charles Robert Watts, ou simplesmente Charlie Watts (1941-2021), como ficou conhecido.
 
Esse londrino de Kingsbury (distrito de Brent), sisudo e um dos quase fundadores do Rolling Stones (ele veio logo após o surgimento da banda, em 1962), era uma espécie de “freio de arrumação” dos irrequietos “diabos da música”, uma antítese dos também britânicos e comportados Beatles. Sisudo, de poucas palavras, mantinha a fleuma britânica na bateria, usando as baquetas de forma única, como um músico de jazz ou blues, mantendo a cadência e condução das músicas, qualquer que fosse o seu rimo e estilo.
 
Charlie Watts deixou de vez o palco da música em 24 de agosto de 2021, aos 80 anos, com um imenso legado como um dos maiores bateristas de todos os tempos. Mesmo integrando a maior banda de rock do planeta, The Rolling Stones, sabia se situar acima do frenesi da banda, e como um legítimo britânico, nunca perdia a classe.

Era capaz de executar qualquer hit da banda, vestido de paletó e gravata, sem derramar uma gota de suor, tal o pleno domínio que tinha dos instrumentos, e da maestria, e como sabia dar um toque especial em cada batida. Não era de fazer “virada” (o ato de tocar os instrumentos de forma quase simultânea), mas a sua forma cadenciada de tocar dificilmente era imitada.
 
O período entre os séculos XVIII e XIX, com Johann Sebastian Bach, Frédéric Chopin, Franz Schubert, Wolfgang Mozart e Ludwig Beethoven, foi considerado a era de ouro da música, tal o virtuosismo dos seus autores. Mas os anos 60 e 70, com o nascimento do rock moderno e suas variações, pode ser considerado a era de diamante da música na atualidade. E o The Rolling Stones (as Pedras Rolantes) é uma dessas pedras preciosas.na qual Charlie Watts era uma das mais brilhantes.
 
“Start me up”, “Fool to cry”, “Hot stuff” ou “Miss you”. De forma simples, mas única, Charlie Watts sabia dar um toque sutil às repetições das batidas, transformando a bateria em um instrumento diferenciado da própria diferença que era o Rolling Stones. E por isso mesmo se tornou inigualável.