Atriz vencedora do Braskem 2023 fala sobre atuação em espetáculo sem falas: “Experiência desafiadora”
Ao Portal M!, Manu Santiago defendeu a expansão de políticas públicas em prol da cultura
O ano de 2023 foi de reconhecimento à atriz Manu Santiago, vencedora do Prêmio de Melhor Atriz Braskem 2023, por sua atuação na peça ‘O Rabo e a Porca’, que também levou o prêmio de Melhor Espetáculo Adulto. Ela, que foi co-protagonista na peça, falou ao Portal M! sobre o desafio de atuar em um espetáculo sem falas e destacou se tratar de uma das experiências mais “desafiadoras” de sua carreira.
“Eu vou dizer para o resto da vida que foi uma das experiências, se não a única até hoje, mais desafiadora que eu tive no processo de criação, em todos os aspectos. Eu recebi esse convite de Aicha Marques, que é a minha colega de cena. Em 2018 ela me convidou para fazer um trabalho e a gente ainda não tinha o que seria esse trabalho. Ela veio com uma ideia, a gente foi maturando, até que fomos contempladas por um edital da Secult em 2019”, lembrou.
A estreia do espetáculo, no entanto, precisou aguardar mais um pouco para sair do forno, em função da pandemia de Covid-19. “Veio a pandemia e a gente teve que maturar mais ainda, então assim, até chegar ao hoje, no produto final, a gente teve um processo muito delicado para todos”.
O principal desafio listado pela atriz, se dá pelo fato de que tanto ela, como Aicha e o diretor João Lima vieram do teatro físico, e não do teatro visual, como é a proposta da peça. “Nós três tivemos experiências com teatro mudo. Eu tive essa experiência em 2011 na Escola de Teatro. Então, assim, tínhamos experiência, mas com o teatro visual que é a proposta, a estética do espetáculo, ninguém tinha feito na vida. Então a gente foi começar do zero, assim, que a gente não sabia para onde ia”.
Em função disso, ao lado de Aicha e João, Manu buscou contato com outros profissionais que possuíam experiência no teatro físico e visual. “A gente fez uma imersão de duas semanas, super intensa, e meio que deu uma reviravolta no processo inteiro. Então a gente voltou em final de 2022 para Salvador, com muitas coisas novas e iniciamos esse processo em janeiro, em sala de aula, pra estrear em agosto. “Foram seis meses de muita imersão, ensaios todos os dias, desconstruindo, mudando, tirando daqui e indo pra lá, mas que acho que deu super certo”.
Além dos desafios na concepção do espetáculo, Manu também citou os problemas envolvendo os recursos financeiros, já que se tratava de um projeto de 2019, pré-pandemia. “A gente tinha um projeto super defasado, era um projeto de antes da pandemia de 2019 com valores outros. Então, a gente teve que fazer esse processo novo, com um orçamento bem apertadinho. Mas, a gente foi lá, dia após dia, construindo e resultou no que resultou. A gente teve uma surpresa enorme, um acolhimento muito bom, muito positivo da plateia, das pessoas que foram assistir”.
Ao todo, o espetáculo recebeu quatro indicações no Prêmio Braskem. Além de Manu, premiada na categoria Atriz, e do prêmio de Melhor Espetáculo Adulto, o diretor João Lima foi indicado na categoria Direção, e a roteirista e atriz Aicha Marques, que também concorreu na categoria Atriz.
“O prêmio para o nosso mercado, sempre vai ser um momento de celebração e um momento importante para gente. É claro que um prêmio, a simbologia dele é muito bacana. A gente repensa toda uma trajetória, é uma simbologia do ato de celebrar. O prêmio traz para o artista, pelo menos é o que eu penso, traz aquele momento de celebrar a árdua e tão sofrida, às vezes, trajetória de construção de um espetáculo, de uma personagem, de uma luta diária. Porque para além da luta de se construir um espetáculo, de se desludar para fazer um personagem, tem a luta de você correr atrás dessas políticas públicas, de se manter em pé e de pé, fazendo arte”.
A atriz também defendeu a importância da criação de outros prêmios, como forma de reconhecimento às mais diversas áreas. “Eu sinto que tenha só ele, acho que tem que abrir mais, podem ser prêmios de ordem privada. Eu acho que tem grandes empresas no nosso estado, que estão no Brasil, que poderiam abrir mais prêmios, para premiar mais gente, para reconhecer mais áreas, principalmente essa do teatro”.
Além da premiação deste ano, a atriz também contou que já havia recebido outras indicações. “Eu ganhei o Melhor Infantil, acho que foi em 2013, com Segredo da Arca de Trancoso, com o Grupo Vilavox, a gente levou Melhor Infantil e Melhor Direção. Ano passado eu tive o meu infantil, no qual eu dirigi, junto com Rino Carvalho, fiz a dramaturgia junto com Ana Mendes e Daniel Arcades, que é o ‘Histórias do Mundão’. Como atriz, foi minha primeira indicação na qual eu fui contemplada. Para mim foi uma alegria estar sendo a primeira indicação. Eu nem esperava real, fui na alegria da celebração. Mas que bom que tudo isso aconteceu também”.
Artista defende promoção de políticas públicas
Outro aspecto defendido por Manu, foi a criação de mais políticas públicas para o setor. Ela enfatizou que a cultura passou por uma “turbulência” nos últimos quatro anos, atrelado à pandemia de Covid-19. “Foi desmontada a nossa cultura, a gente teve um retrocesso imenso, coisas que a gente, de ano em ano, pessoas muito antes de mim, profissionais mais antigos na labuta, na luta. Eu sou uma artista de linha de frente, que estou sempre buscando dar voz. Fazendo o manifesto necessário para que, a gente possa tá mantendo os básicos”.
De acordo com ela, são necessários mais editais, e não apenas de “seis em seis meses” ou de “três em três meses”. “A gente precisa de edital sempre, e mais editais que contemple mais pessoas, mais artistas. Eu só vivo da cultura, eu não tenho um segundo emprego. Eu sou formada em outra área, mas eu não sou da outra área. Então, viver de edital, ninguém vive. Não dá para viver de edital. É um dinheiro curto, é um dinheiro que a gente precisa esperar de dois a três meses. Então, o que fazer? O que fazer pra manter esses artistas, esse mercado? A gente não tem mercado atualmente na Bahia”.
Trajetória em 20 anos de carreira
Em 2024, a atriz completa 20 anos de carreira, e enfatizou que a premiação foi um “presente” para ela, em meio à uma carreira de “luta e resistência”. “Comecei a fazer teatro com 10 anos de idade. Eu sou de Salvador, meu pai e minha mãe são da Cachoeira, no Recôncavo Baiano, então eu tenho uma história de muita musicalidade, de muita cultura, de manifestações populares, eu venho desse lugar”.
Formada em Hotelaria pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Manu foi aprovada em Artes Cênicas na Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas não cursou. Em meio à esse processo, ela contou ter percebido que seu caminho era o teatro. “Como eu comecei a fazer teatro desde os 10 anos, na escola, nas comunidades, em grupos sociais, junto com o canto coral, eu fui sentindo que aquilo ali poderia ser algo. Primeiro, como eu era muito nova, era algo muito mais que vinha e que irradiava do peito, de um lugar de acolhimento, de afeto, de alegria. E quando fui crescendo, depois do ensino médio, vestibular, eu fui entendendo que eu poderia, de fato, fazer dessa alegria, um lugar de ofício, um lugar de profissão”.
Ela também destacou ter tido o Teatro Vila Velha como “escola”, em que teve a oportunidade de conviver com profissionais que também eram da escola de teatro. “Eu tive a oportunidade de conhecer a Armindo Bião, a Haydil Linhares, trabalhei com os dois em cena. Márcio Meirelles, Chica Carelli, Luiz Marfuz, Zé Alves, pessoas da escola de teatro. E aí eu tive uma benção, uma sorte enorme de estar num espaço em que eu comecei, de fato, a trazer o profissionalismo e a exercitar a minha profissão”, lembrou.
A atriz também falou sobre suas grandes referências no teatro, não apenas baiano, mas também nacional. Entre os nomes citados, Manu lembrou de Harildo Deda, que a mesma sempre terá como “norte”. “Sempre será uma pessoa maravilhosa e eu me lembro que conheci o Harildo em 2007, e tive a oportunidade de conviver com ele, fazer uma imersão de interpretação com ele e de ouvir, de estar recebendo os seus direcionamentos. Tenho Fábio Vidal como uma pessoa de uma geração mais próxima a minha, a atriz Fernanda Paquelet, que para mim é uma atriz maravilhosa”.
Outra artista lembrada foi Vitória Carelli, com quem Manu conviveu por anos dentro do Teatro Vila Velha. “São tantas atrizes maravilhosas, que a gente tem no nosso cenário e atores também, artistas que você abraça e que você entende que é aquele companheiro, que você admira e que você está trabalhando num cenário maior”.
Manu também lembrou da atriz Marcélia Cartaxo, que participou do longa-metragem ‘Trampolim do Forte’. “Eu tremia quando vi a Marcélia do meu lado porque para mim ela é uma referência de atriz, de pessoa. Eu pude conviver com ela e sei da humildade, da alegria que essa pessoa tem”.
Ela também citou o ator Othon Bastos, e ressaltou que apesar de não conhecê-lo, o “admira de longe”. Outra atriz que conserva a admiração de Manu é Ana Paula Bouzas. “É uma atriz baiana daqui da nossa terra que tem essa projeção nacional que eu admiro também. Então assim, são pessoas que estão aí e que eu sempre me inspiro de alguma forma”.
Projetos para 2024
Pensando em 2024, a atriz falou sobre os projetos que devem dar o tom das suas produções. Ela lembrou do infantojuvenil ‘Histórias do Mundão’, que estará em cartaz no primeiro semestre. “Vai ser uma alegria poder fazer esse espetáculo aqui em Salvador, que por incrível que pareça, eu ainda não consegui fazer uma temporada aqui. Eu fiz em São Paulo, fiz no Brasil inteiro, mas não fiz em Salvador, então eu quero trazer. É um filhote meu, é a minha primeira direção e minha primeira participação na dramaturgia. Então é um espetáculo que eu tenho muito amor, eu quero rodar bastante com ele”.
Ela também enfatizou esperar que projeto do espetáculo ‘O Rabo e a Porca’ siga em curso, com muito “brilho e luz”. Além destes, a artista também revelou que existem alguns projetos que estão encaminhados para 2024, como filme, longa-metragem.
“Eu não sei se posso falar porque é para além de mim, mas tem filme chegando, um longa-metragem que eu acho que vai estrear ano que vem. Tem meu primeiro trabalho com animação, uma personagem linda que eu fiz, que é a Luna, que é uma florzinha, uma série de animação que vai estar estreando, acredito, que ano que vem. Mas essas notícias a gente vai dando aos pouquinhos. A gente continua na luta, na atuação, na produção, porque a gente tem que produzir cultura, arte, para as coisas virem aos pouquinhos”.
Confira a sinopse do espetáculo ‘O Rabo e a Porca’:
Com elementos cênicos do teatro físico, do teatro visual e do teatro gestual, a montagem traz à cena as atrizes Aicha Marques e Manu Santiago nos papeis de mãe e filha com interpretações cheias de visualidade, mas nenhuma palavra falada. A montagem inusitada fala de temas muito atuais – como patriarcado e relações tóxicas -, com direção de João Lima e roteiro de Aicha Marques, que se debruçou sobre a produção como forma de comemorar seus 30 anos de carreira.
O espetáculo suscita reflexões sobre machismo, patriarcado, alienação parental e perda de identidade, assim como remexe percepções, crenças e questões do humano, numa narrativa cheia de detalhes e nuances. Aicha Marques assume a pele uma atriz de cabaré decadente, enquanto Manu Santiago interpreta a filha, fruto da relação da mãe com o dono do cabaré machista. Crescendo sob os gatilhos negativos da toxicidade construída na relação de seus pais, a menina liberta sua linhagem feminina, salvando a sua mãe do seu submundo mental e reacendendo as luzes do seu show.
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