BBB21 e o fenômeno do cancelamento: entenda qual o perigo desta prática comum nas redes sociais

“De modo geral, é um comportamento não adulto e não maduro, porque tende a generalizar as pessoas em determinado momento”, afirma psicóloga 


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redacao 18/02/2021 18:42 Coluna Ohh!

É quase um consenso, atualmente, que o “politicamente correto” precisa existir para não permitir que mais pessoas sofram racismo, homofobia, transfobia, gordofobia e outros tipos de preconceito travestidos de piadas infames.

Pautas assim vêm surgindo em programas de TV e em debates nas redes sociais. Combater o preconceito é de extrema importância, mas, em nome disso, exageros são cometidos. Um bom exemplo é o que se vê no BBB21, que, com apenas três semanas no ar, tem movimentando a internet. Daí, surge um fenômeno relativamente recente – e igualmente polêmico: o cancelamento.

No reality, pautas relevantes foram levantadas, mas um dos fatos que mais chamaram atenção foi o tratamento dispensado pela rapper Karol Conká ao ator Lucas Penteado. As humilhações sofridas pelo artista comoveram o “tribunal da internet”, que não poupou críticas à dona do hit Tombei, e logo Conká passou a ser cancelada nas redes sociais, perdendo centenas de milhares de seguidores.   

Para a psicóloga e educadora Vitória Barreto, o cancelamento não é uma boa solução. Ela explica que se trata de um comportamento não maduro, que tende a aniquilar o alvo.

“De modo geral, é um comportamento não adulto e não maduro, porque tende a generalizar as pessoas em determinado momento. Nós sabemos que um dos aspectos fundantes do ser humano é estar em constante transformação, e a tendência do cancelamento é aniquilar a pessoa cancelada e impossibilitar futuros diálogos. Como psicóloga, eu penso que não é o melhor. Vejo que avaliar comportamentos ou inserir e trazer impressões é natural. Mas o cancelamento é dar um limite: cancelou, acabou! É como se a pessoa não tivesse mais o direito de existir, e eu não acredito nisso como uma ferramenta saudável”, afirma.  

De acordo com ela, este comportamento é uma das manifestações dos processos de subjetivação que são pautados nas redes sociais. “Uma geração de novas crianças e adolescentes – e adultos também – está pautando muito do seu processo com formação da personalidade, autoimagem a partir da experiência nas redes sociais”, explica.  

“Quantidade de seguidores, curtidas, há toda uma ferramenta através das redes sociais, que acaba construindo o que chamamos de personalidade, saúde mental ou adoecimento mental. Existe esta relação, e o fenômeno do cancelamento é uma expressão disso, dessa relação com a tecnologia que media nossas relações humanas”, pontua.

A psicóloga analisou o comportamento de Karol Conká. Vitória diz que, como telespectadora, vê que a cantora tem comportamentos não aberto ao diálogo e ao encontro. “Ela tem uma personalidade de organizar o movimento a favor do que ela deseja, e isso é muito complicado aos olhos de quem está vendo tudo o tempo todo”.  

Esse posicionamento de não dialogar, conforme a especialista, pode ter afetado a saúde mental do participante Lucas Penteado, que desistiu do programa e pediu para sair.  

“Na minha perspectiva, o participante que foi mais silenciado foi Lucas, a ponto dele não suportar e sair. Após uma pequena sucessão de equívocos, ele foi tão julgado e apontado ao ponto dele não sustentar e ter tomado a decisão que acredito ser a mais correta para a saúde mental dele. Lucas não foi escutado em vários momentos, mesmo abaixando a cabeça e reconhecendo. A postura do suposto ouvinte que não escuta é uma forma de violência psicológica.  Isso aconteceu muito com ele”, analisa. 

Vitória acrescenta que todo ser humano tem direito a fala e exposição.

“Se numa necessidade de diálogo, alguém silencia o outro pelo motivo que for, essa pessoa tira o direito de expressão do outro. A não ser que esse outro, com a sua expressão, comece a violar o direito do outro. Aí sim, ela precisa de interferência. Enquanto isso, não acontece ele tem todo direito”, defende.

 

‘Gabinete do Ódio’

Intitulado nas redes sociais de “Gabinete do Ódio”, o grupo que agora é composto por Karol Conká, Pocah, Projota e Lumena Aleluia tem sido muito criticado aqui fora. Dentro dá casa, há quem já tenha aberto os olhos com as jogadas deles. Para a psicóloga, o jogo permite que os participantes façam alianças que podem ser temporárias ou não. 

“Não sei porque fizeram essa aliança, mas de fato aconteceu, e parte dessa aliança se dá através de comportamentos que, aos olhos de muitas pessoas, são agressivos, arrogantes, julgadores, não empáticos, não dialógicos. Esse foi o nome [“Gabinete do Ódio”] que parte da população brasileira atribuiu às pessoas, e penso que esse é um fenômeno de categorização e julgamento que todo telespectador faz em um reality show. As pessoas querem enquadrar pessoas”, avalia.  

 

Manipulação em alta

Para Vitória, como o programa pretende representar a realidade, é natural que haja manipulação, por existirem muitos fatores envolvidos para os participantes.  

“A manipulação é um fenômeno de persuasão do outro, a favor de quem manipula. Tem uma relação hierárquica de poder desigual, e isso faz parte das relações humanas. Como o Big Brother pretende representar a realidade, é natural que se tenha também manipulação, porque isso faz parte da nossa sociedade: as relações de poder e de manipulação”, pontua.

A psicóloga afirma que nenhum tipo de relação dentro da casa do BBB a surpreende. “Até porque tem muita coisa ali envolvida na vida de cada um, inclusive R$ 1,5 milhão, o que já mobiliza muito as pessoas para que usem de artifícios nas relações”. 

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