Vereador de Feira, Silvio Dias combate o racismo na ‘trincheira da resistência’
Em seu primeiro mandato no Legislativo da Princesa do Sertão, petista fala sobre o que tem feito para lutar contra o racismo e defender minorias
Vereador de Feira de Santana, Silvio Dias (PT), 50 anos, é um defensor das minorias na Câmara Municipal. Em seu primeiro mandato no Legislativo da Princesa do Sertão, ele defende “aqueles que não tinham a quem recorrer na Câmara de Vereadores”, como explicou ao Portal M!, durante entrevista por telefone.
De acordo com o petista, foi preciso ser firme no posicionamento contra alguns discursos de ódio para mudar o que vinha acontecendo. “Na Câmara, muito se ouviu sobre discursos de ódio, discursos racistas, de intolerância contra as religiões de matriz africana, contra as minorias, LGBTs, contra as mulheres, e passamos a nos posicionar contrários a esses discursos. Isso até diminuiu um pouco ao nível que vinha sendo”, explicou.
“Eram discursos racistas, homofóbicos e odiosos. Esses discursos reduziram. Não posso deixar de registrar que também outros vereadores passaram a ter essa postura, eles se posicionam junto conosco nessa trincheira da resistência”, detalhou o político.
Durante a entrevista, Silvio Dias aproveitou para falar sobre as pautas que discute: “A melhoria do serviço público voltado para a população mais pobre. Temos uma dívida muito grande com a população mais pobre. E isso acaba por consequência relacionado com os negros. No momento que você defende os mais pobres, normalmente está defendendo a causa negra”.
O vereador também busca melhorias na educação e no transporte público da cidade. “Essas bandeiras, transporte, saúde, educação, vão se somando a outra causas. Educação faz parte dessa questão dos serviços públicos voltados para pessoas que mais precisam. Feira é uma cidade perversa com as pessoas mais pobres, não fornece educação de qualidade, não fornece saúde para as pessoas”, reclamou.
História de Silvio de Oliveira Dias
Filho de pais separados, Silvio Dias perdeu a mãe aos 20 anos. Com isso, teve que criar os irmãos mais novos. Formado em Administração pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), e em Direito pela Faculdade Anísio Teixeira (FAT), o vereador é inspetor aposentado da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e foi coordenador-geral da 3ª Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) de Feira de Santana.
“Costumo dizer que sou um dos poucos que, além de ser feirense, tem pai e mãe nascidos em Feira, pois normalmente você encontra pessoas que não nasceram em Feira e vieram depois para cá. Então, eu tenho realmente esse carinho, esse amor. É como raiz familiar, e 50% dos meus avós também nasceram aqui. É um vínculo com a nossa terra, com nossa história”, explicou Silvio Dias.
Para complementar, ele lembra que os “avós têm uma herança negra muito forte. Cito isso porque é comum as pessoas aqui em Feira não reconhecerem a cidade como deveria no sentido da quantidade de quilombos que nós temos. Isso mostra que Feira é uma cidade eminentemente negra. Que tem a sua história calcada em grandes fazendeiros e esses fazendeiros eram proprietários de escravos. Feira tem esse pé na escravidão e a gente não pode fugir disso”.
Pai de três filhos, o petista diz que seu maior desafio profissional é o atual. “Se colocasse hoje como maior desafio, cito esse momento em que vivo como vereador de Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia, que tem o maior entroncamento do Norte e Nordeste do país, que tem uma maioria das pessoas pobres, que necessitam de atenção maior, de um serviço público de qualidade, de um olhar mais atencioso, mais carinhoso”, contou.
Eleito na sua primeira candidatura com quase quatro mil votos – foi o primeiro colocado do PT na cidade nas eleições 2020 -, Silvio Dias não está focado em uma carreira na política: “Quero cumprir meu mandato. Não tenho perspectiva de candidatura ano que vem, não é nossa intenção. Temos um compromisso com essa procuração que nos foi dada ano passado através desses votos. Vamos cumprir nosso mandato. Sobre o futuro, Deus é quem sabe”.
“Não temos objetivo de fazer carreira política. Se as coisas acontecerem normalmente, tudo bem, mas não é uma ânsia nossa. A ideia é fazer um bom trabalho. Se ao final do mandato a avalição da população for nesse sentido, a gente pode vir a pensar em uma nova candidatura. Caso contrário, a gente vai cuidar da vida”, explicou.
Silvio complementa: “Temos que rebater esse discurso de que política não tem pessoas de bem e temos que provar que está errado a partir do momento que a gente participe da vida pública. Acho que a política tem que ser ocupada por homens e mulheres de bem, que querem uma sociedade melhor, e esse é meu objetivo na política”.
Os negros precisam de mais oportunidades
“Negro, principalmente da minha geração, que diz nunca ter vivido algum tipo de violência, de racismo, está mentindo. Desde a escola que você sente o racismo quando falam que uma criança não tem o cabelo bom por ter um cabelo crespo, isso é uma discriminação. Já aconteceu comigo, trabalhando inclusive como policial. Fui chamado de neguinho. É sempre uma tentativa de diminuir, de menosprezar”, explicou Silvio Dias.
“Quando falam que é possível vencer mesmo sendo negro, estão dizendo que o negro não tem vontade de vencer, mas não é verdade, o que nos falta são oportunidades. O que nos falta é a possiblidade de sonhar com isso. Tive a graça e a satisfação de ter uma mãe professora, preocupada com a formação dos filhos, e essa orientação foi das mais valiosas, mas quantos amigos não perdi para o crime? Quantos jovens não se perderam ao longo da história?”, questionou o vereador.
Além de mencionar a meritocracia como “uma das maiores mentiras que temos no mundo”, o político pede aos jovens que “saibam que é possível ser diferente, que não precisam seguir aquilo que está colocado como um roteiro já preparado. Temos que mostrar isso, que é possível romper isso”.
“Nem sempre todos terão a oportunidade de sonhar, mas aquele que têm essa oportunidade acho que têm a obrigação de mostrar isso para outras pessoas, mostrar que é possível. É o que venho tentando fazer como político, como cidadão. É possível, sim, fazer diferente e ocupar o nosso espaço, brigar pelo nosso espaço”, ressaltou o político.
Para Silvio Dias, o Novembro Negro é “importantíssimo. Precisamos, sim, não só de um mês, mas de mais dias e temos que falar sobre a causa todos os dias. Temos que discutir isso diuturnamente”.
“Como digo aqui, cada vez que um vereador subir na Tribuna para falar de macumba, para falar que o Candomblé é uma religião diabólica, e aceitamos isso, estamos deixando passivamente que a intolerância religiosa se multiplique. Precisamos fazer esse embate 365 dias por ano. E isso vem sendo feito. Mas falta muito para a gente ter uma socidade mais justa, igual e tolerante”, explicou.
Fora da política, Silvio Dias diz ser “um cidadão como qualquer outro, que vive pra família e amigos”. Fã das micaretas, lavagens e festas populares, o vereador sempre marca presença em Cabuçu, em Saubara, “que é a praia que o feirense adotou. Não preciso de muito para ser feliz. A felicidade vem com pouco, basta que você saiba dar valor ao que nós temos”, finalizou.
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