UFBA ganha primeira especialização em Teatro do Oprimido no Brasil

Pós-graduação lato sensu é baseada em práticas políticas-pedagógicas criadas por Augusto Boal


Vixe d-flex me-2
redacao 09/01/2024 14:22 Cidades

A Universidade Federal da Bahia, por meio da Escola de Teatro (ETUFBA), de forma pioneira, abre a primeira pós-graduação lato sensu do Brasil com foco no Teatro do Oprimido, com duração de 18 meses, intitulada “Especialização em Teatro do Oprimido: práticas político-pedagógicas”.

A formação é fruto direto das ações do projeto “Estruturante de Formação em Teatro do Oprimido” – contemplado no Edital Pro-Humanidades (nº 40/2022 – Linha 3B – Projetos em Rede – Políticas públicas para o desenvolvimento humano e social), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. O referido projeto conta ainda com a parceria de instituições associadas: Universidades Federal do Acre -UFAC; Federal do Sul e Sudoeste do Pará – UNIFESSPA; Federal do Sul da Bahia – UFSB e Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. 

A Vida imita a Arte? Ou a Arte imita a Vida?. Essas duas perguntas nos leva a aquela brincadeira: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?. Mas, para o dramaturgo e diretor teatral Augusto Boal, criador da prática cênica-pedagógica do “Teatro do Oprimido”, o teatro é uma ferramenta poderosa para a mudança social, com o propósito de estimular a reflexão crítica de um contexto social mais amplo. Hoje, a obra de Boal é aplicada em mais de 140 países e traduzida em mais de 75 línguas diferentes.

Apesar de, durante muito tempo, ter sido excluído dos currículos das universidades, o Teatro do Oprimido configura-se hoje como um amplo campo de investigação que se estende para além da esfera propriamente artística e alcança o patamar educacional, de formação não somente de atores, mas, também, de não atores “com vontade de dizer algo através do teatro”, incluindo-se, aqui, profissionais de distintas áreas como pedagogia, comunicação, saúde, psicologia, ciências sociais, entre outras.

A especialização inédita terá três momentos presenciais, com o primeiro a ocorrer do dia 15 a 27 de janeiro; o segundo de 15 a 27 de julho; e, por fim, de 20 a 25 de janeiro de 2025. Nos intervalos entre as aulas presenciais, ocorrerão encontros virtuais, para acompanhamento das pesquisas individuais dos discentes partícipes da formação.

Os módulos de cada momento serão ministrados por docentes da ETUFBA e artistas convidados – ou como Boal os chamava, curingas -, que o ajudaram a criar o método desde o ano de 1986, quando fundaram o Centro de Teatro do Oprimido, no Rio de Janeiro. Dentre eles: o doutor em teatro Licko Turle; o premiado cenógrafo e teatrólogo Cachalote Mattos; o professor de teatro da Universidade Federal do Acre, Flávio Santos da Conceição, curinga de 2001 a 2016;  a doutora e mestra em artes cênicas, a bióloga Helen Sarapeck, e Bárbara Santos – que desenvolveu a sistematização do Teatro das Oprimidas.

Somados a estes, na primeira etapa, de 15 a 27 de janeiro, os módulos da especialização contam com a docência de Celida Salume, Hayaldo Copque, Alexandra Dumas, Lenira Rangel, Cristine Douxami e a atriz e dramaturga Antonia Pereira. Esta última, professora e pesquisadora da Escola de Teatro e coordenadora da área de Ciências e Humanidades para a Educação Básica – Mestrados e Doutorados Profissionais em Rede da CAPES, é a coordenadora geral da Especialização em Teatro do Oprimido. 

Grande parte da equipe pedagógica apresentada acima integra o Grupo de Estudos em Teatro do Oprimido (GESTO), coletivo de pesquisadores criado em 2011, cadastrado no diretório do CNPq e que hoje também é sediado na Escola de Teatro da UFBA. O grupo se propõe a estudar e difundir o Teatro do Oprimido, promover as Jornadas Internacionais de Teatro do Oprimido e Universidade – as JITOU, publicações periódicas de livros e intervenções teatrais que busquem transformações sociais. É através do site do Gesto – https://gestoteatrodooprimido.com/ – que os interessados podem acessar todas as informações a respeito do Especialização em Teatro do Oprimido e, ainda, adquirir as publicações do GESTO. 

A coordenadora da especialização, Antonia Pereira, pontua que o curso destina-se a proporcionar uma sólida formação, que não apenas instrumentalize os diferentes profissionais das humanidades com a metodologia, mas que contribua para produzir estudos e ferramentas sociais para o combate de problemas como o racismo, a homofobia, a pobreza, mediante o fortalecimento do potencial artístico-cultural. “Buscamos o aprimoramento técnico, crítico e estético dos profissionais de diversas áreas do conhecimento, através de um olhar mais sensível e humanizado”, realça.

As atividades desta formação pretendem abarcar um público extenso, formado por educadores e profissionais diversos, oriundos das diferentes regiões do Brasil e do exterior, em especial dos países da América Latina onde há, hoje, um grande número de praticantes do Teatro do Oprimido. “Queremos atender aos profissionais das artes, pedagogia, psicologia, ciências sociais, direito, serviço social, comunicação, saúde, além de educadores, licenciados, docentes, gestores, técnicos e estudantes de pós-graduação que visam atuar com o Método em seus processos e práticas político-pedagógicas”, especifica Pereira.

Teatro do Oprimido

O nome de Augusto Pinto Boal (1931-2009) está ligado à história do teatro brasileiro, como dramaturgo e diretor teatral, cujo trabalho inovador no Teatro Arena de São Paulo, nos anos 50 e 60, trouxe uma concepção de espetáculo e dramaturgia essencialmente nacionais. Anos depois, a ditadura militar o levou a exilar-se em 1971. Em sua estadia por países da América Latina (Argentina, Peru, Equador) e Europa (Portugal e França), vai-se construindo o Teatro do Oprimido (TO) – método teatral que congrega jogos e exercícios teatrais várias técnicas: Teatro-Jornal, Teatro-Imagem, Teatro-Invisível, Arco-Íris do Desejo, Teatro-Fórum e Teatro  Legislativo.

De volta ao país em 1986, cria com Licko Turle, Luiz Vaz, Claudete Félix, Silvia Balestreri e Valéria Moreira o Centro de Teatro do Oprimido (CTO/RJ), espaço institucional cujas atividades (cursos de formação, montagens de espetáculos, projetos nas áreas de educação e saúde mental, em pontos de cultura, com movimentos sociais e comunidades desassistidas, no sistema prisional, dentre outras ações) foram coordenadas pessoalmente por Boal e seus colaboradores até seu falecimento.

Licko Turle pontua que, o Teatro do Oprimido configura-se como um amplo campo de investigação que se estende para além da esfera propriamente artística e alcança o patamar educacional, de formação não somente de atores, mas, também, de não atores ‘com vontade de dizer algo através do teatro’, incluindo-se, aqui, profissionais de distintas áreas como pedagogia, comunicação, saúde, psicologia, ciências sociais, entre outras”, destaca Turle, ao acrescentar que, o Teatro do Oprimido torna-se necessário pois provoca nestes agentes uma reflexão crítica sobre o seu trabalho dentro de um contexto social mais amplo.

Ativações

Ainda em janeiro, além das aulas, ocorrerá no dia 25 o lançamento do livro “Teatro das Oprimidas – estéticas feministas para poéticas políticas”, da multiartista, ativista feminista-antirracista-decolonial-comunitária e e kuringa, Bárbara Santos, que tem uma atuação em mais de 40 países. O livro traz uma sistematização teórica de uma metodologia teatral que se dedica à representação cênica de opressões atravessadas pela intersecção entre gênero, raça e classe, desde uma perspectiva estrutural.

 

Leia também:

Temporada verão: Maurício Bacelar conta como os municípios baianos vão se preparar o Carnaval 

Secretária diz que gatos em Piatã serão acolhidos, mas não em 15 dias conforme determinação da Justiça  

Aeroporto de Salvador terá aumento de 26% no número de voos para o Carnaval 

Tags


secao

Últimas Notícias

Cidades 10/06/2024 às 09:44

Defesa Civil alerta para novas chuvas no RS nesta semana

De acordo com o comunicado, tanto a Defesa Civil quanto a Sala de Situação do estado monitoram o avanço de uma frente fria


Destaques 09/06/2024 às 23:00

Sem Bolsonaro, manifestação contra Lula e Moraes fica esvaziada

Ato reuniu um número mais tímido de pessoas do que os convocados pelo próprio ex-presidente


Cidades 09/06/2024 às 22:00

Goleada do Cuiabá sobre Criciúma deixa Vitória na lanterna do Brasileirão

Foi a primeira vitória da equipe mato-grossense na competição


Coluna Ohh! 09/06/2024 às 21:30

Kleber Bambam diz que foi ‘o maior fenômeno do BBB no geral’

Influencer venceu a primeira edição do reality, em 2002


Cidades 09/06/2024 às 21:00

ANS cobra esclarecimentos de plano de saúde sobre suspensão de vendas

A partir de 1º de julho, os clientes da Golden Cross passarão a ser atendidos na rede credenciada Amil


Cidades 09/06/2024 às 20:30

Em partida contra o México, Endrick iguala recordes de Pelé, mas rejeita comparações

Atleta marca com a camisa da Seleção Brasileira em três jogos consecutivos antes dos 18 anos


Cidades 09/06/2024 às 20:00

Prefeituras da Bahia receberão primeiro repasse do FPM de Junho com alta de 30%

Valor supera expectativas e impulsiona os cofres municipais


Coluna Ohh! 09/06/2024 às 19:30

Lulu Santos tem “plena recuperação” após crise de gastroenterite, diz boletim

Previsão é que cantor tenha alta nesta segunda-feira (10)


Destaques 09/06/2024 às 19:00

Após derrota, o presidente da França dissolve parlamento e antecipa eleições legislativas

Em resposta a resultados desfavoráveis nas eleições do Parlamento Europeu, Macron busca renovar a Assembleia Nacional com novas eleições


Destaques 09/06/2024 às 18:40

Bahia Farm Show começa nesta segunda com expectativa de público recorde

Solenidade de abertura contará com a presença de autoridades e representantes do agronegócio nacional