Reforma no MAM-BA gera críticas por ameaçar projeto de Lina Bo Bardi

O Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), localizado no Solar do Unhão, em Salvador, está com obras em andamento para a reforma do restaurante e do atracadouro. A conclusão está prevista para maio de 2021, conforme divulgado nas redes sociais do museu. No entanto, a reforma gera críticas por ameaçar projeto da italiana Lina Bo Bardi, arquiteta responsável pela concepção do espaço.  

Para o autor da biografia da italiana, que será lançada no ano que vem, Francesco Perrotta-Bosch, as reformas que estão sendo feitas no MAM-BA descaracterizam a obra da arquiteta. As declarações foram dadas ao jornal Folha de S. Paulo. 

“Além da descaracterização física, a grande descaracterização é em relação à ideia do museu e da instituição que Lina Bo Bardi tinha para o Solar do Unhão”, diz. “Ela tinha um projeto cultural, mas ao mesmo tempo econômico, arquitetônico e de design extremamente singular, impressionante para aquele espaço, e ele vai totalmente contra a cultura do turismo e dos espetáculos.” 

Esta etapa das obras do MAM-BA faz parte do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo. Segundo a Secretaria de Turismo da Bahia, as embarcações só podem parar no novo atracadouro no embarque e desembarque no restaurante, que terá capacidade para 200 pessoas. 

“Existia um píer de madeira, leve, mas o que está sendo feito é outra coisa, muito mais agressiva”, diz Nivaldo Andrade, ex-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil. 

Ele afirma que intervenções anteriores também descaracterizaram o restauro original. “Lina proposta num espaço aberto para a Baía de Todos-os-santos. Quando climatizaram, fecharam tudo”. 

O Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), responsável pelos museus estaduais informa, por meio de sua coordenação de comunicação, que até agora não recebeu críticas às abordagens de restauração que ocorrem no museu, ressaltando que todas as obras de reforma foram anunciadas desde o ano passado e trazem projeto analisado e aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 

O MAM-BA, que tem obras de artistas como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cândido Portinari e Pierre Verger, está sem comando próprio há um ano, quando a diretora Tereza Lino foi exonerada. A nomeação da direção do museu é do Ipac, que informou que “o cargo será ocupado tão logo existam indicativos de segurança para abertura dos equipamentos”.  

No início de dezembro, o governador Rui Costa (PT) anunciou que o acervo do cineasta Glauber Rocha será instalado ali. Fechado por causa da pandemia, o museu recebe cerca de 200 mil visitantes por ano. 

* Com informações da Folha de S. Paulo.