“O racismo é o pão nosso de cada dia”, diz Ireuda Silva
Vereadora do Republicanos conta como combate a discriminação racial e a violência contra a mulher
A vereadora Ireuda Silva, 60 anos, cumpre o seu segundo mandato na Câmara Municipal de Salvador. A missão da política no Legislativo soteropolitano é principalmente combater o racismo e a violência contra a mulher.
“Sempre tive o desejo de ajudar pessoas, sempre pensei que o ser humano tem que fazer a sua parte. Não é só passar pela terra, tem que contribuir, esse foi o trabalho e aí veio a convocação para uma eleição. Na primeira eleição tive 11.888 votos com apenas oito meses de campanha. E a gente vem pro segundo mandato [12.098 votos]. Entrei na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, e tenho como bandeiras o combate à violência contra a mulher e a questão racial, a discriminação, o combate ao racismo”, explicou.
“Esto muito feliz de fazer parte da comissão. É algo que gosto de fazer. Sou mulher, sou negra, sou um espelho do que são as comunidades. Venho de lá, onde minha mãe sofria agressão doméstica muito intensa, e isso impactou diretamente na minha vida. Hoje entendo que eu já era feminista aos 7, 8 anos. Dizia pra mim mesmo quando criança que nunca iria admitir que um homem tocasse a mão em mim”, lembrou a vereadora.
“Sei o que são as dificuldades que as mulheres pretas encontram, pois eu venho desse berço. E quando tenho a oportunidade, depois de vereadora eleita, é mais que minha obrigação de sair para a luta como eu tenho feito”, complementou.
“O que fomenta o racismo é a falta de oportunidade”
“O meu filho tem um cachorro, um shitsu. Ele fugiu, sumiu, entrou em um condomínio. Meu filho levou o dia inteiro para provar que o cachorro era dele. Simplesmente o homem deve ter entendido que o cachorro era caro demais para ser do meu filho. Isso é uma face do racismo, se manifestando de uma maneira diferente. Meu filho teve que procurar documento, tudo, para conseguir provar que o cachorro era dele”, contou Ireuda Silva.
“Costumo dizer que o racismo é o pão nosso de cada dia. Não tem um dia sequer que não tenha um relato de racismo nas notícias. Por mais que nossos antepassados tenham gritado e quebrado essa barreira lá atrás e eu tenha hoje o meu lugar de fala, ainda há uma resistência muito grande”, explicou a vereadora de Salvador.
Além de destacar que a falta de oportunidades iguais escancara o racismo na sociedade, Ireuda Silva conta sobre algo difícil de combater. “Quando a gente fala sobre ser mulher preta, sobre o que enfrento no meu cotidiano por ser mulher preta, dizem que é ‘mimimi’, chamam de ‘mimimi’. E as oportunidades não são iguais. Há uma desigualdade muito grande. O que fomenta o racismo é a falta de oportunidade”, garantiu.
Preparação da juventude negra
Ireuda Silva lembra de um ponto importante na sociedade atual: “A gente precisa preparar a nossa juventude para enfrentar esse tipo de coisa. Precisamos revelar a face atual do racismo, ele se modifica e precisamos conhecer essas faces”.
A vereadora explica: “Nós sabemos a força de Dandara, de Maria Felipa, de Zumbi dos Palmares, mas precisamos de importâncias atuais, de libertadores das correntes, e fui discurtir isso na Câmara. Precisamos formar jovens com essa visão, com essa concepção, do que o racismo representa nos dias de hoje. E o racismo tem passado por uma reforma, surge de maneira diferente”.
Convicta do que deseja para o futuro, a vereadora do Republicanos sabe os meios para alcançar o seu objetivo. “Então, esse é o trabalho de Ireuda Silva, combater o racismo de maneira esclarecida, explicando como pode ser combatido. Dentro de mim, tenho a convicção de que ele será vencido. Tentaram me silenciar a vida inteira, mas hoje estou aqui, no meu segundo mandato”, explicou.
O Novembro Negrou chegou ao fim nesta terça-feira (31). Hoje, 1° de dezembro, outros temas começam a ser debatidos no país, mas Ireuda Silva deixa claro: “Essa pauta não pode estar restrita ao mês de novembro, a minha luta é essa. Quando eu faço o Maria Felipa [prêmio] em julho, é justamente provando que não é em novembro apenas que precisamos discutir”.
Sobre o prêmio Maria Felipa, concedido a mulheres negras que se destacam na luta por direitos e contra o racismo em Salvador, a vereadora lembra que a honraria ficou dois anos esquecida. “Estava parado há dois anos antes da minha chegada [à Câmara]. Desde que assumi o prêmio, nem na pandemia deixou de ser realizado”, detalhou.
Além disso, Ireuda Silva critica a ausência de um feriado na capital baiana no Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. “Salvador é majoritariamente negra e aqui nós não temos feriado. Isso pra mim é silenciar. Não adianta tratar o racismo se não formos antirracistas e ser antirracista é lutar pelo que é nosso de direito”, esclareceu.
História de sucesso
Ireuda Silva é empresária, palestrante, ativista social e vereadora. Também foi “coordenadora de um estúdio de TV. Comecei como assistente de estúdio, levei 18 anos nessa empresa, foi lá que eu cresci”. Depois dessa atividade e de muitos trabalhos sociais, ingressou na política. A luta para chegar no patamar atual não foi fácil. Ela recorda que era “preciso matar um leão por dia”.
A mensagem que a vereadora deixa para quem tem um sonho é a seguinte: “É preciso lutar, focar e não esperar, nada vem de graça para as nossas mãos. Nós, negros, não devemos chorar por sermos vítimas de racismo, não devemos lamentar, porque as lágrimas não matam a nossa sede. Mesmo vendo a falta de oportunidade de emprego, mesmo vendo a falta de respeito, de reconhecimento, o que vai nos colocar no pódio significa luta. Não desista em hipótese nenhuma. Não existe a palavra desistência para o provo preto, resistir sempre!”.
Mãe de três filhos, os gêmeos Mário Sérgio Júnior e Laiza Rebeca, 24 anos, e a caçula Lorena Lorraine, 23, Ireuda conta que é uma “mulher muito séria e também muito extrovertida. Gosto muito de plantar, gosto de roça, vou a um pedaço de terra que tenho e planto. Eu adoro música, adoro conversar com pessoas que tenham um papo saudável”, detalhou.
“Gosto muito de dirigir, de sair sozinha sem destino. Sou livre dentro de mim, o que é externo não me encarcera. Não tenho medo de ir na Linha Verde sozinha, de comer alguma coisa que eu queira. Gosto muito de trabalhar, de ir às comunidades. Enfim, essa é Ireuda Silva”, finalizou a vereadora.
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