“Não podemos deixar que eles percam esse vínculo e essa vontade de continuar estudando”, diz a educadora Valdirene Sena

As aulas da rede municipal de ensino em Salvador serão retomadas nesta segunda-feira (22), ainda de forma remota. Em função da pandemia da Covid-19, não há previsão para reiniciar as atividades presenciais.

Dando continuidade ao currículo contínuo 2020/21, a novidade será a transmissão de aulas através de canal de TV, em uma parceria firmada entre a Secretaria Municipal da Educação (Smed) e a TV Aratu.

Com mais de 15 anos de profissão, sendo 13 como gestora, a diretora da Escola Municipal Padre Ugo Meregalli, localizada no Conjunto Jaguaripe II, em Nova Brasília, Valdirene Sena, disse ao Portal M! que não tem muita expectativa nesta retomada, uma vez que já vinha trabalhando desta forma.

“As aulas, na verdade, já aconteciam no ensino remoto através da entrega de atividades impressas e vídeos que fazíamos na nossa comunidade escolar, que atende a educação infantil até o 5º ano. A diferença na expectativa, a partir desta segunda, é que a Secretaria [de Educação de Salvador] está promovendo um canal da TV para que os alunos do Fundamental I tenham acesso às aulas, já que no ano passado era apenas o Fundamental II”, ressaltou.

Para acompanhar a evolução dos alunos, Valdirene salientou a dificuldade da comunidade em ter acesso às tecnologias, mas afirmou que toda a equipe está empenhada.

“A comunidade de baixa renda não tem muito acesso aos recursos tecnológicos, como whatsapp, internet, TV, então vamos fazer um acompanhamento mais reforçado, com entrega de atividades por escrito e atendendo na escola”, disse ao M!.

“Toda a equipe está engajada e comprometida, se empenhando e fazendo um planejamento conforme as orientações curriculares e pedagógicas do novo currículo contínuo 2020/21”, completou.

A docente também avaliou o desafio de manter o foco das crianças fora do ambiente escolar. Para ela, a escola é uma referência na comunidade, porque é a única forma de manter as atividades culturais. “Está sendo muito difícil, mas estamos conseguindo manter este trabalho”, afirmou.

“Vamos superar esse desafio, por conta da nossa comunidade ser pobre, no sentido de nem todos terem condições de terem acesso aos recursos tecnológicos. Por isso, estamos de plantão. Antes dessa nova sistematização, quando tinham dificuldades nas atividades, nos procuravam. Não podemos deixar que eles percam esse vínculo e essa vontade de continuar estudando, devido à pandemia”, disse.

Questionada sobre a retomada de forma presencial, a gestora foi enfática: “Sem a vacina, não!”.

“Sou defensora da educação e, mesmo com todo o protocolo de higienização e de seguranças, como foi nos orientado, é muito complicado voltar às aulas presenciais sem vacina. Até porque a comunidade, os pais não aceitam”, afirmou.

Ainda segundo a diretora, o maior receio da comunidade é, evidentemente, a contaminação pelo coronavírus.

“Não podemos obrigar, e os pais têm o direito de decidir pelos seus filhos. Se decidirem de forma presencial, estaremos lá atendendo com o ensino híbrido e com dias alternados. Já tem todo um cronograma e um planejamento para quando isso acontecer”, pontuou.

Transformação através da educação

Neste período de pandemia, professora Valdirene confessou que aprendeu muitas coisas.  
“Tenho 13 anos de gestão e sempre digo que aprendi a ouvir mais, aprender mais, ser mais humana. Temos que nos colocar no lugar dos outros, principalmente quando são crianças, minorias em grupos vulneráveis que temos que atender”, ressaltou.

“Precisamos pensar sempre na transformação da educação. É através da educação que podemos fazer um país melhor. É preciso também, com políticas públicas, que se preocupem com a educação. Não tenho visto isso. Sempre falo nos artigos que escrevo que só vai melhorar com a educação”, completou.