Na saúde e na doença: Pedro adotou criança cardíaca que conheceu em trabalho voluntário

“Somos voluntários em um hospital. Um dia, estávamos lá e um médico plantonista nos informou que tinha uma criança abandonada, que precisava de atenção porque estava chorando muito e era cardíaca”. Este foi o enredo do primeiro encontro do funcionário público Pedro Santos com o pequeno Guilherme.

O bebê foi abandonado na unidade de saúde com apenas cinco meses de vida. Já nesse primeiro, contato ele despertou em Pedro e no do seu companheiro, Alex, a vontade de ampliar a família.

Pedro conta que, ao saber da situação da criança, foi até o local ampará-la. Alex acompanhou todo o processo da cirurgia cardíaca que Guilherme precisava fazer.  O bebê corria risco de vida.

“Todos os boletins médicos eram passados para Alex, já que ele não contava com a presença da família biológica. Ele estava com cinco meses quando fez a cirurgia e começamos a visitá-lo com frequência, já que o amor já tinha se estabelecido em nós”, relata o funcionário público que já é pai biológico de Nathália, uma jovem de 22 anos. 

A fase de recuperação foi preocupante.  “Ele, desde muito, cedo foi carinhoso conosco. Ao encontrá-lo pela primeira vez, ele passou a mãozinha em minha barba. Não sei se porque chamava a atenção ou foi um carinho intencional, o fato é que o coração trasbordava de mais e mais amor por ele, e a cada dia tínhamos a convicção de ter encontrado o nosso filho. Daí em diante começamos a provê-lo das necessidades físicas e emocionais”.

Cura e amor

Guilherme recebeu alta médica em maio de 2019 e precisou ser acolhido por um abrigo. O casal foi atrás da criança e lá contou a história. Em seguida, os rapazes foram orientados sobre os instrumentos legais para que pudessem adotar o garoto. 

“Assim, nossa esperança de tê-lo em casa se concretizou e cresceu. Cumprimos os trâmites legais e aguardamos os ritos jurídicos com muita ansiedade. Após um ano e alguns meses, recebemos a notícia de que ele viria ocupar o lugar na casa onde está e com certeza permanecerá, amando e sendo amado”, diz Pedro.

Hoje Guilherme tem 2 anos e 8 meses, e Pedro não esconde a felicidade de estar perto dos dois filhos neste Dia dos Pais.

“Passar o Dia dos Pais com ele, após tanta espera e burocracia, é uma alegria sem tamanho. À medida que o tempo passa, nossa relação só se fortalece e o amor só aumenta. Por conta da pandemia, nosso Dia dos Pais tem sido em casa, rodeado de familiares e amigos queridos, regado a comida boa, guloseimas e muita diversão”, conta.

Pedro com a filha Nathália

Pedro acredita que a melhor forma de combater o preconceito contra a diversidade é através da educação.

“Conto histórias a Gui sobre a diversidade e mostro pra ele como as famílias podem ser diversas, obedecendo aos critérios da sua idade, sempre de maneira lúdica. Já Nathália é muito antenada, jovem da geração Z, está no 9º semestre de Medicina e convive com a realidade plural do pai”, conta. 

Já em Salvador, ele afirma que ainda há muitos pontos a avançar em relação ao respeito aos LGBTQIA+. 

“Embora saiba que avançamos consideravelmente, as demandas não param, e a cidade precisa acompanhar isso. Acho que a compensação pelo atraso ao respeito e à dignidade dessa diversidade deve ser pauta para os governantes”, pontua.