Leno Sacramento lançou livro sobre violência policial vivenciada em Salvador
‘Para desgraça – uma quarta para não esquecer’ fala sobre momento em que o ator de teatro foi baleado em uma ação da Polícia Civil
Leno Sacramento, 46 anos, é um ator baiano de muito talento que poderia produzir algo sobre a sua trajetória de sucesso no teatro, mas episódios de racismo não podem passar batido. Por isso, o artista lançou, em julho deste ano, um livro que fala sobre o dia no qual foi baleado por engano em uma abordagem policial na Avenida Sete, em 2018: Para desgraça – uma quarta para não esquecer.
“Fui baleado às duas horas da tarde, pela Polícia Civil. Claro que eles disseram que se confundiram, e a gente sabe que não se confundiram. Atiraram por trás. Estavam com arma e carro, eu estava de biclicleta. Por que esses caras não me pararam?”, questionou o ator. “Para, desgraça” é o que Leno escutou antes de levar o tiro.
“Pegou na minha perna esquerda, na panturrilha, atravessou de um lado ao outro. Eles vieram para dar o segundo tiro, aí eu gritei o meu amigo. Ele evitou. Foi um momento ‘punk’ na minha vida. O remédio, a cura para isso foi o livro. Não é um livro de denúncia, é um livro de alerta. Nós não somos sempre os culpados, nós não somos os criminosos. Tem muita poesia nesse livro, fala muito do que minha mãe passa, do que muitas mães pretas passam”, explicou.
As sequelas ainda atrapalham a vida do rapaz. “Tive trombose flutuante […] Ainda tem a cicatriz na perna. Também tenho uma cicatriz na minha cabeça todas as vezes que um carro para ao lado do carro da minha companheira, todas as vezes que a polícia faz uma blitz”, contou Leno.
Além do livro, o ator trabalha a divulgação do Stand up’bando, que estará disponível nesta segunda-feira (22), a partir das 20h, no canal do YouTube Bando de Teatro Olodum.
“A gente vai falar sobre nossas histórias, sobre coisas que incomodam a gente, mas de forma correta e incorreta. Vocês só vão saber quando assistirem. A gente vai disponibilizar no YouTube e, depois, quando tudo normalizar, a gente pretende ir para o presencial”, esclareceu o professor de capoeira, que também ministra oficinas e aulas de teatro e dança.
Gratidão ao Bando
Na entrevista para o Portal M!, Leno Sacramento mostrou que a sua trajetória artística está diretamente ligada ao Bando de Teatro Olodum. Foi assim, inclusive, que tudo começou. O ator e professor de teatro estreou aos 18 anos participando da peça Erê, que o levou a Londres, na Inglaterra, além de São Paulo e Rio de Janeiro.
O grupo também serviu para transformar o jovem rapaz em um cidadão melhor. “Eu entrei no Bando de Teatro Olodum racista, machista, homofóbico, tudo que tiver ‘ista’, e o Bando foi me ensinando a ser uma pessoa melhor, um ser humano melhor. Entrei moreno e hoje não aceito que me chamem de moreno. O Bando tem uma mudança incrível na minha vida”, explicou.
Leno atuou em espetáculos como Ópera dos três mirréis e Ópera dos 3 reais, baseados em A ópera dos três vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill. Também trabalhou em Cabaré da RRRRaça e Ó paí, ó!. Possui dois solos, O Clássico e En(Cruz)ilhada, além de assinar a direção das obras teatrais Eles não sabem de nada e V de Viado. No cinema, atuou em “Cidade Baixa”, “Jardim das Folhas Sagradas”, “Besouro” e “Ó paí, ó!”. Na TV, participou da série “Ó paí, ó”, na Globo.
Atualmente, Leno Sacramento se diz um “agende multiplicador” nas comunidades de Salvador. “Mostro que posso ficar de cabelo trançado e não ser um marginal. Uso saia, kilt, e as pessoas começaram a entender que é normal um hétero usar saia. De repente, começaram a perguntar onde vendia. Depois, começaram a comprar. É um trabalho de formiga”, explicou.
“A gente vira agente multiplicador mesmo, me sinto na obrigação de estar o tempo todo conscientizando as pessoas”, detalhou o ator.
Falta patrocínio
“Produção preta é muito complicada. Ninguém vai produzir espetáculo que fala sobre genocídio da pele negra. Eles cortam a cultura porque sabem que a cultura é que salva. Estou com um livro agora, mas não tenho patrocínio. Se eu tivesse distribuiria em todas as comunidades”, lamentou Leno Sacramento.
Ele conta que, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia do novo coronavírus, o Bando de Teatro Olodum continua firme na sua trajetória de 31 anos: “O Bando é um grande exemplo da resistência e da cultura negra. Aqui em Salvador não tem um grupo com esse tamanho de tempo”.
“Infelizmente, a maioria [quem vivem da arte] precisa de um trabalho alternativo para sobreviver. É louco querer ser artista sem poder. Patrocínio é a base de tudo, sem dinheiro a gente morre de fome, de desgosto, cai em depressão”, explicou o ator e dramaturgo, preocupado.
Sobre o Novembro Negro, ele fala que “é uma coisa tão louca porque sou tão solicitado, me procuram tanto no mês de novembro. Sempre digo que quando passar novembro quero ser chamado em dezembro, janeiro, o ano todo”.
“Trinta dias não são suficientes para falar da cultura toda que a África nos trouxe. Poderia ter uma semana de consciência preta todo mês. Que isso não pare, que não seja só em novembro. Sou 365 dias preto”, reiterou o artista.
Fã de um café com os amigos e com a companheira Luciene Brito ao final da tarde, o pai de Isabela, 22 anos, é artista até quando não consegue dormir. “Fora da arte sou arte. Fico o tempo todo querendo fazer arte, respiro arte. Tenho insônia, e nas minhas insônias, fico tentando arte, fazendo arte, produzindo coisas. Passo uma noite em claro e acordo com uma peça escrita. Pós-arte sou arte”, definiu.
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