Fundação Projeto Tamar corta 65% dos empregos diretos na pandemia
Situação ainda é mais preocupante por envolver a cadeia sócioprodutiva que inclui as comunidades costeiras onde a instituição atua
Ao longo dos últimos 40 anos, as cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no litoral brasileiro foram protegidas da ameaça real de extinção graças a uma ideia nascida de um grupo de estudantes de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (RS). Responsável direta pela preservação de vidas e pelo equilíbrio ambiental nos oceanos, a Fundação Projeto Tamar agora é alvo de um inimigo que apavora o mundo. A pandemia de Covid-19, que já causou a morte de mais um milhão de pessoas em todo o planeta e destroçou a economia de diversos países, abala a saúde financeira desta que é uma das mais antigas, sólidas e reconhecidas instituições de preservação ambiental em atividade no Brasil.
Antes da emergência sanitária, a Fundação atuava plenamente em 26 áreas de desovas de nove estados, cobrindo 1.100 km de praias do país. Depois, foi obrigada a reduzir seu quadro de 600 vagas de empregos diretos, a maioria voltada para comunidades costeiras onde o Tamar está inserido. Agora, são 200 colaboradores, uma retração de 65%. A situação é ainda mais preocupante por envolver essas populações que fazem parte do “círculo sócioprodutivo” do Tamar – como define a fundadora e coordenadora nacional de Pesquisa e Conservação da Fundação, Neca Marcovaldi.
“É uma economia circular. Nas comunidades das áreas onde não havia turismo, foram criadas unidades de produção de acordo com a cultura local. [São lugares] onde temos fábricas de camisetas e produtos de algodão, todo material confeccionado pelas mulheres dos pescadores, pelos jovens dessas comunidades. Matéria-prima brasileira, bordado, renda, artesanato em área indígena. Todos esses produtos que não teriam lugar para serem escoados e comercializados abastecem as nossas lojas”, explica. São pontos de venda localizados nos Centros de Visitantes do Tamar, instalados em pontos de desova de tartarugas que têm vocação para o turismo.
É o caso de Praia do Forte, localidade pertencente ao município de Mata de São João, no Litoral Norte baiano, a 80 Km da capital e a 55 km do Aeroporto Internacional de Salvador. Lá, existe um movimentado Centro de Visitantes, que, assim como os demais, funciona como núcleo de sensibilização e educação ambiental, além de oferecer lazer e serviços. Junto com as lojas que escoam a produção das comunidades, são fundamentais para a geração de emprego e renda nas localidades.
A pandemia de Covid-19, portanto, representou um baque de proporções inéditas na estrutura organizacional e na cadeia produtiva da Fundação Projeto Tamar. A ameaça global fechou as portas de todos os Centros de Visitantes – o coração financeiro da instituição -, responsáveis por 70% da arrecadação total cujo montante não foi informado por Neca Marcovaldi. Ela afirma que os centros recebem público estimado de pouco mais de 1 milhão de pessoas por ano.
“Essa arrecadação era uma meta de sustentabilidade, de autossustentação, para a gente gerir o programa com mais independência. Alcançamos um patamar de 70% de recursos próprios através dessas estruturas [Centros de Visitação e lojas]. Como tudo fechou com a pandemia, ficamos sem arrecadação. Arrecadação zero”, explica.
A Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, é patrocinadora oficial e nacional da Fundação desde 1982, dois anos após o início do projeto. A empresa responde por cerca de 30% do orçamento total da instituição. Segundo Neca, há outros parceiros que ajudam de forma pontual e nenhum deles, incluindo a Petrobras, interrompeu o contrato em função da pandemia. “O nosso baque mesmo foi a questão da arrecadação própria”, reforça. A pandemia de Covid-19 também prejudicou programas que o Tamar desenvolve junto às comunidades, e as atividades tiveram de ser interrompidas (leia aqui).
‘Novo normal’ em Praia do Forte
Com a flexibilização do confinamento e a reabertura da economia, a vida ensaia voltar aos eixos dentro do que se convencionou chamar de “novo normal”. Os Centros de Visitantes do Tamar estão funcionando, em horários especiais, em Praia do Forte e Arembepe, na Bahia, Regência e Vitória (ES), Florianópolis (SC), Ubatuba (SP) e Aracaju (SE). O único que ainda está fechado é o de Fernando de Noronha (PE). Praia do Forte sempre respondeu historicamente por quase 50% da visitação anual no Tamar, ou seja, cerca de 500 mil pessoas.
O funcionamento habitual – de segunda a domingo, das 8h30 às 17h30, com horário estendido no Verão – mudou em função das restrições da pandemia de Covid-19. Agora, o Centro de Visitantes abre de quarta a sexta, das 11h às 17h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10 às 17h. Para evitar aglomerações, a equipe do Tamar avalia constantemente o fluxo e, quando necessário, suspende a entrada das pessoas.
“Como a visitação ainda não é tão grande e o espaço é amplo – o Centro de Visitantes ocupa um terreno de 10 mil metros quadrados -, poucas vezes e por pouco tempo foi necessário suspender a entrada”, explica o gestor nacional de Centros de Visitantes da Fundação, Gonzalo Rostan.
Ele explica que, com o objetivo de proporcionar experiências exclusivas para grupos de familiares ou amigos que tenham interesse em conhecer o trabalho do Tamar durante a pandemia, foi criado o Programa de Visitas Especiais. “Podem ser agendadas para grupos de até dez pessoas. Um biólogo faz o atendimento, e o grupo pode conhecer o Centro de Visitantes e ter a oportunidade de acompanhar um pouco da rotina de uma base de pesquisa e conservação”, completa.
Os ingressos custam R$ 50 (inteira) e R$ 25 (estudantes e crianças). As reservas podem ser feitas pelo e-mail centrodevisitantes@tamar.org.br ou pelo telefone (71) 98127-2010. Os dados de agendamento são para Praia do forte, mas a atividade é oferecida nos demais Centros de Visitantes, com exceção de Fernando de Noronha.
Neca Marcovaldi afirma que, além de planejar o retorno, a Fundação está se reinventando. “Talvez o escopo das atividades volte de forma diferente, adaptado a todas essas consequências de mudança de cenário”, explica. Neca acredita que será necessário um período de dois anos para uma recuperação plena, já com a devida adaptação aos novos tempos. “Acho que em dois anos a gente consegue alcançar o que será o novo funcionamento pleno em cima das novas prioridades de conservação”, projeta.
Perda de receita no município
A Fundação Projeto Tamar não é uma ilha dentro de Praia do Forte nem a localidade, nascida do olhar visionário de Klaus Peters, está isolada na faixa litorânea que integra o município de Mata de São João. De vocação essencialmente turística, o município sofre com os efeitos da pandemia. Segundo o prefeito Marcelo Oliveira (PSDB), entre janeiro e agosto de 2020, a receita decorrente da prestação de serviços ligados ao turismo registrou queda de 41% em comparação com o mesmo período de 2019.
Oliveira não sabe estimar o peso de Praia do Forte dentro da cadeia de turismo do Litoral Norte. “Assim como os hóspedes dos hotéis e pousadas localizados em Sauípe ou Imbassaí, por exemplo, visitam o Projeto Tamar, em Praia do Forte, os visitantes que têm como destino principal a própria Praia do Forte também visitam Imbassaí, Diogo e Santo Antônio. Esse fluxo cruzado de turistas e visitantes gera emprego e renda para a população de todos esses locais e, claro, receita para a prefeitura”, argumenta.
A retomada em Mata de São João foi feita por etapas, levando em conta a curva de contágio da Covid-19. “Desde o dia 30 de setembro último, todas as atividades estão liberadas, o fluxo de visitantes volta lentamente ao normal para o período. E o melhor: a curva de contaminação está em franco declínio”, comemora o prefeito, acrescentando que rígidos protocolos de higiene e afastamento social foram elaborados e vêm sendo cumpridos rigorosamente por todos os comerciantes e prestadores de serviços do município.
A parceria que rende bons frutos é endossada pelo empresário Vitor Hugo Knack, morador de Praia do Forte há 15 anos e presidente da Associação Comercial e Turística da localidade (Turisforte) há quatro. Ele afirma que a prefeitura foi hábil na condução da reabertura e que, como integrante do Conselho Municipal de Turismo, a Turisforte desempenhou papel ativo na construção dos protocolos. Sobre a chegada da alta estação, ele diz que a estratégia é seguir o que vem dando certo: manter o monitoramento e não relaxar a fiscalização.
“Quando iniciamos a reabertura, as pessoas de modo geral estavam muito ansiosas. Agora, já superamos essa fase, alinhamos as estratégias com a prefeitura, com os empresários do trade turístico, com a polícia. Entendemos que o que vai atrair o visitante nesse momento é o quanto nós vamos conseguir passar de segurança para o turista e a família dele. A segurança de todos é o nosso foco principal”, afirma.
Quando fala sobre o pesadelo do auge da pandemia, Vitor Hugo pinta o cenário em tintas fortes. “Nunca imaginamos ficar mais de 150 dias no ‘vermelho’. Foi uma duríssima lição, mesmo para os empresários mais experientes”, descreve. Segundo ele, os setores menos impactados foram o de supermercados e o de material de construção, com perda de receita estimada entre 30% e 40%. O empresário diz que mesmo os restaurantes que adotaram o delivery sofreram perdas superiores a 70% no faturamento.
Mas a emergência sanitária trouxe ao menos um efeito positivo: a Turisforte, que há 30 anos contribui para o fortalecimento do trade turístico de Mata de São João, cresceu. “Entramos na pandemia com 86 associados. Hoje estamos com 91 empresas, e crescendo. Tivemos mais adesões do que baixas, sinal de reconhecimento do trade local à atuação da Turisforte, que teve sua relevância confirmada na pior crise jamais vivida pelo turismo”, comemora Vitor Hugo.
Ele não acredita em volta à normalidade sem a liberação de uma vacina comprovadamente eficaz. “Com otimismo, só no segundo semestre de 2021”, projeta. Mas não tem dúvida de que a reabertura do Tamar é fundamental para a retomada. “A Fundação Projeto Tamar é indispensável para Praia do Forte. A preservação das tartarugas e as demais ações são os principais fatores de ligação do turista com a comunidade local”, defende.
Opinião semelhante tem o prefeito de Mata de São João, Marcelo Oliveira. “O Projeto Tamar é, sem dúvida, uma forte marca para o turismo da região e contribui, indiscutivelmente, para a atração de visitantes para o nosso destino”, resume. “Impossível pensar em Praia do Forte sem a Fundação Projeto Tamar”, completa Vitor Hugo.
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