Fiéis celebram Santa Luzia na Igreja do Pilar, com festividade marcada por história, arte e devoção

Fiéis se reúnem no bairro do Comércio para honrar a protetora dos olhos e da visão

redacao 12/12/2023 19:40 • Cidades

Na Igreja de Santa Luzia do Pilar, localizada no bairro do Comércio em Salvador, a oração à padroeira dos oftalmologistas ressoa entre os fiéis, buscando proteção para os olhos e expressando gratidão. Durante o tríduo que teve início em 10 de dezembro, a devoção atinge seu ápice, culminando nas festividades desta quarta-feira (13), dedicada a Santa Luzia. O tema deste ano, “Vocação, Missão e Testemunho”, reflete o espírito da celebração.

O pároco, padre Renato Minho, que assumiu há quatro anos, compartilha a história do templo. Construída sob influência espanhola em 1718, a igreja exibe um estilo rococó e barroco, enriquecido por telas pintadas por José Joaquim da Rocha, renomado artista da época.

Uma história notável é a ascensão de José Teófilo de Jesus, um escravizado que, demonstrando habilidades nas artes plásticas, foi alforriado e enviado a Lisboa para aprimorar seu talento. Ao retornar, ele contribuiu com 17 pinturas notáveis para o acervo do Pilar.

Após um período de sete anos fechada nas décadas de 1990 e 2000, a igreja passou por uma reforma em 2011, antecedendo sua reabertura em 2012, após processos de requalificação.

Hoje, abre suas portas para visitantes de terça a sexta, das 9h às 15h, aos sábados das 9h às 12h, e aos domingos a partir das 6h30, culminando na missa das 9h. A história rica e a devoção fervorosa convergem, tornando a Igreja de Santa Luzia do Pilar um local especial de celebração e espiritualidade em Salvador.

Devoção

A devoção a Santa Luzia ganhou destaque na igreja após um período inicial dedicado exclusivamente a Nossa Senhora do Pilar. A história da santa remonta ao século IV, quando, após resistir a torturas e manter sua fé cristã, foi martirizada.

O padre lembra que Santa Luzia muito jovem se consagrou a Deus, com voto de castidade e pureza, mas no tempo das perseguições do Império Romano. “Oriunda de família cristã e rica, após a morte do pai, ela herda uma fortuna dividida entre ela e a mãe. Além de rica, a sua beleza e status criaram desejos. Então, um cidadão a corteja e chega uma hora que ela diz: ‘não quero, vou me consagrar a Jesus'”, diz o pároco.

O padre destaca a Igreja de Santa Luzia do Pilar como um símbolo de fortaleza feminina, mencionando a história da fonte que abastecia navios e parte da cidade. Por providência, a saída da fonte foi trazida para dentro da igreja, agora acessível ao público. O padre compartilha uma história não registrada sobre um homem com deficiência visual que, após beber da água da fonte, recuperou a visão.

Origem

A festa de Santa Luzia do Pilar remonta ao século XVII, quando uma capela na Gamboa dedicada a ela foi transferida para o local atual da igreja. A devoção à santa concentra-se na área da fonte, associada a milagres. A igreja foi construída em torno da fonte, exibindo características rococó e neoclássicas do século XIX. A iconografia destaca as histórias das santas, como Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia.

Na festa, além da veneração à santa, há saudação a Ewá, a “menina dos olhos”, no candomblé. Santa Luzia, padroeira dos deficientes visuais, se sincretiza com Ewá, orixá do candomblé associada à vidência. Ewá é celebrada como a “princesa-mãe do oculto”, conectando-se à narrativa de Santa Luzia sobre autonomia e resistência. O sincretismo revela mulheres guerreiras e sábias, destacando o controle sobre a vida e o destino.