“Espero que lista da Ufba seja respeitada”, diz professor escolhido para reitor em consulta à comunidade acadêmica

O professor Paulo César Miguez de Oliveira foi escolhido pela comunidade acadêmica – professores, funcionários e professores – da Universidade Federal da Bahia (Ufba) para ser o novo reitor da instituição. No entanto, não se trata de eleição direta, e sim de uma indicação. Caberá ao Colégio Eleitoral da Ufba compor a lista que seguirá para escolha final do presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Para o professor Paulo César, a expectativa, no momento, é que o chefe do Executivo nacional respeite a composição da lista tríplice. Segundo a Folha de S.Paulo, o mandatário já nomeou 19 reitores de universidades diferentes que não foram os mais votados nas consultas públicas. 

“Infelizmente, as universidades federais do país, ao longo dos últimos quatro anos, tiveram suas atividades desrespeitadas. Muitas vezes, o presidente deixou de levar em conta a vontade das comunidades universitárias, das listas tríplices, considerando outros nomes. O que a gente espera é que a lista que vai sair do Colégio Eleitoral, no dia 1º de junho, seja levado em consideração, que essa vontade seja reconhecida e respeitada”, disse o docente em entrevista ao Portal M!.

Paulo César disse que o resultado da consulta foi expressivo levando-se em conta o período pós-pandemia da Covid-19. Ao final, foram contabilizados 10.351 votos entre docentes, técnicos-administrativos e estudantes. 

“O resultado, do ponto de vista do total de votantes, é gratificante. Foi uma alegria muito grande. A vida presencial tem se restabelecido muito lentamente, principalmente dentro das universidades. A pandemia produziu muito mais desigualdade. Tivemos alunos que foram obrigados a deixar os estudos para trabalhar para ajudar na renda familiar, por exemplo. Então, se compararmos com os anos de 2014, tivemos entre 13 mil e 14 mil votantes. Agora, depois da pandemia, o resultado gira em torno de 10 mil. Isso é algo que precisa ser celebrado”, pontuou.

“É gratificante ver que a comunidade respondeu no mais alto nível, reafirmando a tradição democrática da Ufba, que não faltou com a sua obrigação de depositar seus votos nas urnas”, acrescentou.

Paulo César, que ao longo dos últimos oitos anos foi vice-reitor da Ufba, também pontuou que, se eleita para o próximo quadriênio 2022/2026, a chapa pretende continuar o trabalho já em andamentos, além lutar por mais incentivos federais para futuros projetos e, acima de tudo, promover o direito aos estudos para alunos mais necessitados. 

“Essa é uma casa regida por compromisso acadêmico e compromisso social. Para os próximos quatro anos, vamos aprofundar projetos já em curso e desenvolver novos. Vamos à luta pelos orçamentos, por mais vagas para professores e técnicos. Vamos à luta por mais verbas, que são  indispensáveis para promover a permanência dos estudantes. Cerca de dois terços dependem de restaurantes e residência”, detalhou.

Paulo César venceu consulta à comunidade universitária. Crédito: Divulgação/Ufba

Processo de consulta

A apuração das urnas da consulta pública para escolha do reitor e vice-reitor para o quadriênio 2022/2026 foi finalizada na quinta-feira (26). Resultou em um total de 10.351 votos de docentes, técnicos-administrativos e estudantes. A votação foi organizada pela Comissão Especial composta por representantes das entidades – APUB Sindicato, ASSUFBA Sindicato e DCE/UFBA. 

O pleito contou apenas a Chapa 1 – “Somos UFBA Sempre”, com Paulo César Miguez de Oliveira, candidato a reitor, e Penildon Silva Filho para vice. Anteriormente, estava inscrita a chapa “UFBA Inclusiva e Diversa em Defesa da Ciência e da Vida”, com Fernando Costa da Conceição para reitor e Bárbara Carine Soares Pinheiro para vice, mas houve desistência em cima da hora. 

De acordo com Emanuel Lins, integrante da comissão do APUB Sindicato, os representantes da  chapa 2, que não foram submetidos à votação da comunidade, pretendem se inscrever no colegiado para integrar a lista tríplice, que será enviada ao Governo Federal para análise. 

Ele chama a atenção para a importância da consulta à comunidade e diz que a votação expressiva demonstra que a universidade não aceitará nenhum tipo de interferência externa.

“A votação foi muito significativa. Nessa consulta democrática que a gente faz, muito dessa votação tem a ver com a manifestação da comunidade acadêmica, que não pretende aceitar qualquer tipo de interferência e tentativa de manipulação do Governo Federal. O colegiado respeita a consulta”, afirma. 

Emanuel informa que o resultado da consulta pública tradicionalmente é respeitado pelo Colégio Eleitoral, composto pelo Conselho Universitário e pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão. Ou seja, o escolhido pela comunidade está automaticamente na lista tríplice, que será completada com mais duas pessoas escolhidas no colegiado.  

“A gente espera que o Colégio Eleitoral forme uma lista tríplice que represente o programa  apresentado e votado pela comunidade. A gente considera que qualquer movimentação que não tenha passado pelo crivo da comunidade é ilegítima”, pontua Emanuel.