‘Enem dos concursos’ terá banca filmada para evitar fraudes em cotas raciais para negros

Para indígenas e pessoas com deficiência, comprovação será feita por meio de documentos


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Bruno Brito 04/02/2024 13:00 Cidades

O Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) estabelecerá uma comissão, em uma sessão registrada em vídeo, para validar a autodeclaração racial dos candidatos que optarem por concorrer às cotas destinadas a indivíduos negros. Os registros em vídeo serão mantidos confidenciais, conforme indicado no edital. As informações são do G1.

Apelidada de “Enem dos concursos”, esta seleção visa preencher 6.640 posições em 21 órgãos federais, distribuídos em oito blocos temáticos correspondentes a diferentes áreas de atuação. As cotas serão distribuídas da seguinte forma:

– 20% reservadas para candidatos negros;
– 5% destinadas a pessoas com deficiência;
– 30% designadas para indígenas, sendo restritas às carreiras da Funai.

No entanto, a quantidade de vagas reservadas estará condicionada ao número total de vagas disponíveis na respectiva carreira.

Respeitante às cotas para candidatos negros, o método utilizado no “Enem dos concursos” para validar a autodeclaração racial será por meio de comissões de heteroidentificação.

Estas comissões já são empregadas em universidades federais no país e levam em consideração características físicas dos candidatos, como tonalidade da pele, cabelo e traços faciais, avaliando o chamado fenótipo.

Conforme especificado no edital, as comissões serão compostas por cinco membros, com suplentes designados para cada um. Os nomes dos membros não serão divulgados, porém, seus currículos serão disponibilizados por meio do site do concurso e no edital de convocação para a fase de comissões.

Os candidatos que não forem aprovados na avaliação da comissão competirão pelas vagas na categoria de ampla concorrência, ou seja, com aqueles que não estão incluídos nas cotas, caso atinjam a pontuação necessária. Em caso de declarações falsas, o candidato será eliminado e estará sujeito a medidas legais.

Para José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, instituição dedicada à inclusão de negros e pobres no ensino superior e que leva o nome de um símbolo da luta contra a escravidão no Brasil, as bancas de heteroidentificação são uma medida “importante, necessária e eficiente”.

O reitor explica que a medida, “com bastante certeza, vai evitar a ocorrência das fraudes raciais”.

“É importante lembrar também que as bancas já têm presença e prática de mais de 20 anos nos concursos, sobretudo das universidades públicas federais. Desde o tempo das cotas na Universidade de Brasília, por exemplo”, disse.

A Universidade de Brasília (UnB) adota cotas de 2003 (para ingresso em 2004) e as filmagens das bancas já eram realidade naquela época.

Filmagem das bancas

A gravação da bancas, para Vicente, pode colocar uma pressão negativa sobre os avaliadores. “Eu penso que filmar para quase pressionar [o julgador] pode significar, ao final do processo, uma condução [para um resultado específico]. Além de inadequada, [a filmagem pode] construir um tipo de julgamento que está, em alguma medida, corrompido, porque a decisão [do avaliador] pode não estar totalmente livre [de julgamento] por conta da pressão [de saber que está sendo filmado].”

Questionado sobre a possibilidade de os vídeos pressionarem os avaliadores e sobre o risco de eventuais vazamentos, o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos disse que, “na hipótese de indícios ou denúncias de fraude ou má-fé no procedimento de heteroidentificação, o caso será encaminhado aos órgãos competentes para as providências cabíveis”.

“Entendemos que a filmagem resguarda os avaliadores de interpretações não condizentes com o procedimento de heteroidentificação”, afirmou o ministério.

A filmagem de bancas de heteroidentificação já existe desde 2018 por meio da Portaria Normativa 4 do Ministério da Gestão. O vídeo é utilizado para analisar eventuais recursos que candidatos possam apresentar.

No Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS), as bancas são filmadas desde que a portaria entrou em vigor, no caso de concursos para servidores, e desde 2020 para ingresso de estudantes.

Suliane Kelly Aguirre de Barros, que foi responsável por toda a organização das bancas do IFMS entre 2016 e 2020, período no qual era coordenadora de diversidade e inclusão, explica que somente terão acesso às filmagens, no caso do instituto, o presidente da banca, o responsável do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) ou o responsável pelo processo seletivo.

“Em caso de recurso, o vídeo é disponibilizado para a banca recursal”, disse.

O IFMS tem cotas para estudantes negros desde o exame de seleção de 2012 (para ingresso em 2013). Já no caso dos concursos públicos, as cotas foram implementadas em 2016.

Suliane avalia que as bancas de heteroidentificação desempenham um papel crucial na promoção da equidade e na integridade das políticas de cotas, garantindo um processo seletivo mais justo e inclusivo.

“Sua importância reside na garantia da legitimidade do processo, evitando fraudes e assegurando que as políticas de inclusão atinjam efetivamente os grupos historicamente marginalizados”, afirmou.

Cotas para indígenas

As cotas indígenas serão aplicadas apenas para cargos da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). A checagem – chamada de validação étnica – será feita por meio da análise de documentos, e não por meio de banca de heteroidentificação.

Serão analisados até três dos documentos abaixo, que devem ser enviados pelo candidato no momento da inscrição:

– Documento de comunidade indígena ou de instituição ou organização representativa do povo ou grupo indígena que reconheça o pertencimento étnico do candidato, assinada por, no mínimo, três integrantes indígenas da respectiva etnia;
– Identificação civil, expedida por órgão público com a indicação de pertencimento étnico;
– Comprovantes de habitação em comunidades indígenas;
– Documentos expedidos por escolas indígenas;
– Documentos expedidos por órgãos de saúde indígena;
– Documentos expedidos pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) ou pelo Ministério dos Povos Indígenas;
– Documentos expedidos por órgão de assistência social;
– Documentos constantes no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal – CadÚnico;
– Documentos de natureza previdenciária.

Os documentos enviados serão avaliados por uma Comissão de Verificação Documental Complementar constituída por cinco pessoas. Ao menos três delas são indígenas.

O candidato vai poder saber do resultado da análise, mas não poderá acompanhar a execução dela.

Quem não for aprovado pela comissão disputará a vaga na ampla concorrência e, em caso de informações falsas, o candidato será eliminado e responderá legalmente.

Cota para pessoas com deficiência

Já no caso das pessoas com deficiência, a avaliação para confirmação da condição do candidato é feita por uma equipe multiprofissional.

A composição desta equipe inclui profissionais capacitados em áreas específicas de deficiências, assegurando a presença de um médico e um psicólogo, além de três profissionais do órgão e cargo ao qual o candidato concorre. Os profissionais do órgão podem participar da avaliação por meio de videoconferência.

Na avaliação, os candidatos devem apresentar documentação médica que ateste a espécie, grau ou nível de deficiência, indicando o código correspondente da CID-10 (10ª revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde).

 

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