“É um marco histórico”, diz representante da população LGBTQIA+ sobre missa em memória de vítimas da transfobia

Salvador agrega mais um marco à sua história: a cidade será palco para uma missa em memória dos homens e mulheres vítimas de transfobia (confira aqui). O evento será celebrado pelo arcebispo da capital baiana e Primaz do Brasil, cardeal D. Sergio da Rocha.

O coordenador do Centro de Promoção e Defesa dos Direitos LGBT da Bahia (CPDD-LGBT), Renildo Barbosa, afirma que nunca antes teve notícia de uma missa celebrada em prol da população LGBTQIA+.

A celebração eucarística, que será realizada nesta  sexta-feira (21), às 17h, na Capela Sagrada Família, surge em um momento delicado.

Segundo dados do Grupo Gay da Bahia, em 2020, pela primeira vez, as travestis ultrapassaram os gays em número de mortes:  161 travestis e trans (70%), 51 gays (22%) 10 lésbicas (5%), 3 homens trans (1%), 3 bissexuais (1%) e finalmente 2 heterossexuais confundidos com gays (0,4%).

Confira o relatório completo aqui. A celebração religiosa pretende acolher e trazer algum conforto às vítimas da homotransfobia e seus familiares.

Renildo é um dos responsáveis pelo pedido à igreja, assim como a Instituição Beneficente Conceição Macedo (IBCM). Segundo o coordenador do CPDD, a iniciativa tem grande importância por aproximar esta população de uma religião e também porque algumas pessoas LGBTQI+ creem em Deus e, assim, poderão se sentir acolhidas.

Renildo Barbosa é o coordenador do CPDD-LGBT

“A Igreja também sente pelas vidas das pessoas LGBTQIA+ que foram assassinadas. O que nós socializamos com a Igreja foram os relatórios existentes sobre mortes de pessoas LGBTQIA+. Pela primeira vez vai acontecer uma missa celebrada por um cardeal. Para a gente, é muito importante porque nos aproxima de uma religião e de um sentimento que uma parte da população professa no seu dia a dia e que também pessoas LGBTQI+ professam: a crença em Deus”, afirma Renildo Barbosa.

União homoafetiva

Neste ano, o Vaticano afirmou que padres e outros representantes da Igreja Católica não podem abençoar uniões entre pessoas do mesmo sexo e que, se isso acontecer, elas não seriam oficiais.

Mesmo assim, mais de 100 padres alemães desafiaram a proibição  e abençoaram casais do mesmo sexo.

Renildo diz que na Bahia, sobre este assunto, houve algum avanço entre setores da Igreja, enquanto outras se mantiveram no conservadorismo, de acordo com dogmas que os representantes da religião  acreditam ser os corretos.

“A gente não pode, no momento de aproximação [com a Igreja], fazer uma crítica ou discordar dos dogmas… Eu também não posso, enquanto LGBTQI+, [fazer com que] a igreja mude algumas questões”, pondera. 

Para o coordenador do CPDD, o  amor que une as pessoas não depende de certificação.

“É um amor que existe, que nunca foi explicado e foi tão contestado… Inclusive Cristo perdeu a vida por amor, porque [foi crucificado], segundo a própria Bíblia, por nós. O amor não precisa necessariamente ter uma bênção, mas a gente sabe que algumas pessoas querem”, finaliza.

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