“É como estar eternamente gritando para ter que ser ouvida”, diz Angeluci Figueiredo sobre os desafios da mulher

Um desafio constante, uma busca incessante para encontrar e conquistar um lugar no mundo. É desta forma que a culinarista e fotógrafa Angeluci Figueiredo define o papel da mulher nos dias de hoje. Conhecida como Preta após fazer sucesso com o badalado Restaurante Preta, na Ilha dos Frades, ela é a convidada do Portal M! para participar do especial Março Mulher.

“São tantos desafios que às vezes a gente pensa que as coisas não mudam. Eu moro em um lugar onde as mulheres chegam a ter medo do marido, elas não podem fazer nada que ficam chateados. Até com funcionário, dou uma ordem e não consegue entender porque sou mulher”, pontua.

Ela complementa que são grandes e muitos os desafios no dia a dia, “de se superar, de mostrar o seu lugar, é como estar eternamente gritando pra ter que ser ouvida”.

Preta sabe que o Março Mulher e o 8 de março (Dia Internacional da Mulher) são fundamentais nesta luta, mas salienta: “Não precisaria ter um mês pra ser lembrado, tem que ser constante. Tem que ser o ano todo, direitos iguais […] Acho as mulheres guerreiras, que correm atrás mesmo, sempre buscando seu lugar. Ainda tem muito o que conquistar”.

Angeluci Figueiredo citou que na política, por exemplo, a presença de mulheres ainda é pequena. “Nessas áreas você vê poucas mulheres atuando. Na gastronomia, só se via muito chef, hoje você vê mais mulheres”, destacou.

Machismo atrapalha, e muito

Fã de ferramentas, Preta lembra de um episódio recente que a incomodou bastante. A culinarista, em visita a Salvador – ela mora atualmente na Ilha dos Frades -, havia resolvido pesquisar em uma loja sobre uma lixadeira profissional, mas o atendimento foi péssimo. 

“Amo ferramentas, gosto mesmo. Chego numa loja dessas, de material de construção, e passo horas na parte de ferramentas para ver o que tem de novo. Na Ferreira Costa, procurei um vendedor e pedi para ele mostrar o que tem de melhor sobre lixadeira e ele apontou onde. Ele foi lá e me explicou superficialmente, aí chegou outro rapaz, que me largou e foi atender outro rapaz, e eu fiquei sozinha lendo”, narrou.

Depois, quando voltou a perguntar ao vendedor sobre o objeto, Preta percebeu ainda mais dificuldade.

“Aí vinha outra pessoa perguntando, e ele me deixava. Deu a entender que pensou: ‘Essa mulher vai querer lixadeira pra quê?’. Percebo que não são proativos como são com os homens, existe uma diferença no tratamento. E olha que não era uma ferramenta barata”, disse. 

Episódio difícil

Angeluci não gosta de comentar sobre o episódio que resultou na exoneração do então secretário de estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, porque diz lhe causar tristeza. No dia 1º de agosto do ano passado, ela foi chamada de “vagabunda” pelo ex-secretário.

Preta avisou a Vilas-Boas, por mensagem no celular, que precisaria fechar o restaurante mais cedo devido ao mau tempo, e terminou sendo ofendida.

“Sempre tratei o secretário super bem, é tanto que ele fazia as reservas no meu telefone pessoal. Foi uma fatalidade, aconteceu isso, fiquei muito triste”, disse ela.

Ao complementar, Preta explica: “Meus funcionários não podiam ir para as suas casas por causa das condições climáticas. Eles moram em Paramana, Madre de Deus, Encosta, Bom Jesus, então eles saem em barco pequeno para ir para suas casas e, se eu ficasse até tarde, ninguém iria conseguir sair da ilha”, explicou Preta. 

“Isso foi uma avalanche, nunca quis ser o epicentro de nada, nunca quis prejudicar ninguém. Fiquei muito triste com isso. Prefiro sempre ficar na minha. Não gosto de tocar no assunto, vida que segue. Fiquei triste porque não esperava essa atitude de uma pessoa que tratei super bem”, lamentou.