Criminalização da homofobia completa três anos no Brasil, e a Bahia é o segundo estado com mais homicídios
Apesar da legislação em vigor, índices apontam crescimento da violência contra pessoas LGBTQIA+ no país
Durante oito anos, Alex Brito sofreu ataques verbais do vizinho por conta de sua orientação sexual. Ele deixou de frequentar mercados, restaurantes e estabelecimentos do próprio bairro para evitar o vizinho, mas não denunciou os ataques. Em maio do ano passado, o agressor tentou atropelá-lo e, tendo falhado, avançou para o jovem com um facão que levava no carro, mas não acertou o golpe.
Alex declara que, ao prestar queixa, policiais e delegados questionaram se o ataque foi motivado por homofobia, atribuindo a violência a uma briga de vizinhos, desconfigurando a natureza do crime. “Conheço outras pessoas que sofreram homofobia, mas não denunciaram por conta da impunidade. O Estado é muito omisso”, avalia.
O caso de Alex ganhou notoriedade por levantar o debate sobre a realidade da homofobia após a criminalização dessa prática. Enquanto Alex espera o julgamento do caso, ele vive na mesma casa, em Salvador, e ainda convive com o agressor, que não lhe direciona mais ataques.
Combate à homofobia no Legislativo
Após anos de tentativas do poder legislativo para criminalizar a homofobia, em 2019 o Supremo Tribunal Federal (STF) finalmente decidiu que a homofobia pode se enquadrar como crime via Lei Antirracismo.
Essa decisão alterou a Lei 7.716/1989 e inclui a discriminação por sexo, orientação sexual ou identidade de gênero na legislação. A pena inclui multa e reclusão, que pode durar de um a cinco anos.
No mesmo ano foi sancionada em Salvador a Lei Municipal 9.498/2019, conhecida como Lei Teu Nascimento, que caracteriza como infração o ato discriminatório contra pessoas em razão da orientação sexual e identidade de gênero.
Apesar da proteção legal, os índices relacionados aos crimes de homofobia no país não caíram. Segundo relatório lançado na última quarta-feira (11), pelo Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, ao todo o Brasil somou 316 mortes de pessoas LGBT em 2021. Esse número representa 33,33% a mais do que no ano anterior.
“O desafio maior dessa comunidade, no Brasil, não é exatamente a legislação, embora ainda se possam discutir melhorias e avanços nesse sentido. Mas, quando pensamos no combate à homofobia e a toda forma de discriminação contra as pessoas LGBTQIA+, vemos que, embora a decisão do STF de 2019 tenha sido uma importante conquista em termos de garantia da proteção legal, seus efeitos permanecem ainda muito simbólicos, uma vez que a eficácia da medida de criminalização deixa a desejar no dia a dia de quem mais sofre”, avalia Carolina Grant, professora da Faculdade Baiana de Direito e pesquisadora nas áreas de Direito, Gênero e Sexualidade.
Divulgação
Violência contra pessoas LGBTQIA+
Um caso ainda mais recente desta discriminação ganhou a mídia esse mês quando a presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Keila Simpson, foi impedida de entrar no México, onde representaria o Brasil num evento internacional.
Por não ter seus documentos retificados após a transição de gênero, ela foi enviada de volta para o Brasil e não pôde participar presencialmente do Fórum Social Mundial da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong).
Embora originalmente o termo “homofobia” se refira ao preconceito em relação à sexualidade, a palavra também é utilizada para designar de forma ampla o preconceito contra pessoas LGBTQIA+. De acordo com pesquisa publicada na semana passada, em 2021 a Bahia registrou 30 homicídios motivados por homofobia, ocupando o segundo lugar no ranking nacional. Em primeiro lugar está o estado de São Paulo, com 42 óbitos.
Homens gays representaram a maioria das mortes da comunidade LGBTQIA+ (45,89%), seguidos de travestis e mulheres trans (43,9%) e mulheres lésbicas (3,8%). Homens trans somam 2,53% desse percentual e bissexuais, 0,95%. O relatório foi produzido com dados coletados por ONGs devido a inexistência de registros governamentais com recorte para violência contra pessoas LGBTQIA+.
“Para que sejam elaboradas políticas públicas que tragam resultados efetivos à comunidade LGBTQIA+ é preciso coletar dados sobre essa população, identificar suas reais demandas e, para isso, criar ferramentas sensíveis aos marcadores sociais envolvidos (como gênero e sexualidade). Com esses marcadores é possível mapear a realidade e formular ações que atendam a quem mais sofre com a discriminação. Enquanto não existirem dados oficiais do governo sobre essas violências, o único caminho será usar os dados produzidos pela própria comunidade, como forma de ouvi-la e incluí-la no processo, até que sejam revistos os marcadores usados nas estatísticas oficiais”, pondera a pesquisadora.
As informações publicadas no Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ foram coletadas em parceria pela Acontece – Arte e Política LGBTI+, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT).
A ausência de números oficiais relacionados a crimes de homofobia indicam uma provável subnotificação dos casos – o que significa que há mais vítimas do que se pôde calcular. Para evitar a omissão desses crimes, denuncie. Acesse o Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+.
Canais de denúncia:
Centro de Promoção e Defesa dos Direitos LGBT (CPDD-LGBT)
Vinculado Secretaria de Justiça
Endereço: Rua do Tijolo, nº 08, no Pelourinho – Salvador
Atendimento: Segunda a sexta-feira, das 8h às 17h
Centro de Apoio Especial aos Direitos Humanos (CAODH)
Vinculado ao Ministério Público
Telefones: (71) 3103-6729 (Promotoria de Direitos Humanos) | (71) 3103-6400 (Geral)
Endereço: Avenida Joana Angélica, nº 1.312, Nazaré – Salvador/BA
Centro Municipal de Referência LGBT+ Vida Bruno
Telefone: (71) 3202-2750
Endereço: Av. Oceânica, nº 3731 – Rio Vermelho – Salvador/BA
Atendimento: Segunda a sexta-feira, das 8h às 17h
Observatório da Discriminação Racial e LGBT
Telefone: (71) 3202-2759 | Whatsapp: (71) 98622-5494
Endereço: Av. Carlos Gomes, no Clube de Engenharia da Bahia (nº 31) – Salvador/BA
Atendimento: Segunda a sexta-feira, das 8h às 17h
Denuncie no link: http://observatorioracialelgbt.salvador.ba.gov.br/denunciar
Denúncia contra Direitos Humanos (Governo Federal)
Disque 100
Mais Lidas
Nenhuma postagem encontrada.
Cidades
Artesanato da Bahia dá dicas de presentes para Dia dos Namorados
Defesa Civil alerta para novas chuvas no RS nesta semana
Goleada do Cuiabá sobre Criciúma deixa Vitória na lanterna do Brasileirão
ANS cobra esclarecimentos de plano de saúde sobre suspensão de vendas
Maria Romilda Maltez assume presidência da Liga Bahiana Contra Câncer
PF destrói 255 hectares de plantação de maconha na fronteira com Paraguai
Últimas Notícias
Defesa Civil alerta para novas chuvas no RS nesta semana
De acordo com o comunicado, tanto a Defesa Civil quanto a Sala de Situação do estado monitoram o avanço de uma frente fria
Sem Bolsonaro, manifestação contra Lula e Moraes fica esvaziada
Ato reuniu um número mais tímido de pessoas do que os convocados pelo próprio ex-presidente
Goleada do Cuiabá sobre Criciúma deixa Vitória na lanterna do Brasileirão
Foi a primeira vitória da equipe mato-grossense na competição
Kleber Bambam diz que foi ‘o maior fenômeno do BBB no geral’
Influencer venceu a primeira edição do reality, em 2002
ANS cobra esclarecimentos de plano de saúde sobre suspensão de vendas
A partir de 1º de julho, os clientes da Golden Cross passarão a ser atendidos na rede credenciada Amil
Em partida contra o México, Endrick iguala recordes de Pelé, mas rejeita comparações
Atleta marca com a camisa da Seleção Brasileira em três jogos consecutivos antes dos 18 anos
Prefeituras da Bahia receberão primeiro repasse do FPM de Junho com alta de 30%
Valor supera expectativas e impulsiona os cofres municipais
Lulu Santos tem “plena recuperação” após crise de gastroenterite, diz boletim
Previsão é que cantor tenha alta nesta segunda-feira (10)
Após derrota, o presidente da França dissolve parlamento e antecipa eleições legislativas
Em resposta a resultados desfavoráveis nas eleições do Parlamento Europeu, Macron busca renovar a Assembleia Nacional com novas eleições
Bahia Farm Show começa nesta segunda com expectativa de público recorde
Solenidade de abertura contará com a presença de autoridades e representantes do agronegócio nacional