Com o sucesso do Skate na Olimpíada de Tóquio, Salvador quer ter seu representante em Paris

Ao conquistar a medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio, Raíssa Leal, a Fadinha do Skate, de apenas 13 anos, lançou luz sobre a modalidade, muitas vezes discriminada para meninas. Após a vitória, Rayssa conquistou mais de seis milhões de seguidores em uma rede social.

Agora, os fãs e praticantes se questionam: será que Rayssa com seu carisma e graça conseguiu quebrar o preconceito em torno da modalidade? Pelo menos é o que espera a baiana de Dias D’Ávila Émile Nascimento, de 19 anos. Ela pratica o skatismo há cinco anos e antes mesmo das manobras radicais teve que lidar com as críticas.

Mile Skate, como é conhecida, iniciou no esporte assim que ganhou um skate dos pais. Logo virou alvo de críticas e ofensas na cidade. Desocupada e irresponsável eram alguns dos termos pejorativos usados pelos que desaprovavam a iniciativa da jovem.  Outro desafio foi a falta de apoio dos rapazes que já praticavam o esporte. Para eles, a menina se interessou pelo esporte por “modinha” e não tinha futuro.

Mile Skate pratica o esporte há cinco anos. Crédito: Anairaw de Leon

Mile não desanimou. Seguiu os treinos, adquiriu os equipamentos e ocupou a 22° posição do ranking do Campeonato Brasileiro de Skate Feminino, em 2019, representando pela primeira vez a Bahia, no estado de São Paulo.

A esportista disputou seu primeiro campeonato em Mata de São João. Ela revela que enfrentou falta de apoio e, por não ter meninas na disputa, precisou competir com os meninos.  “Nos campeonatos de Camaçari e Lauro de Freitas conheci o coletivo de skate da DendêCrew onde tive a oportunidade de ampliar para competir com meninas e em outras cidades mais distantes, como Salvador”, explica a jovem.

Essa foi a primeira vez que o Skate apareceu entre as modalidades olímpicas. O Brasil fez bonito na estreia e conquistou ainda medalhas de prata com Kelvin Hoefler, de 28 anos e Pedro Barros, 26 anos.

A medalha de prata da Fadinha do Skate serviu também para mostrar a representatividade das brasileiras que, como Mile, vêm batalhando dia após dia nos treinamentos para se classificar para os mundiais.

“A Olimpíada é consequência de todo treino que estamos tendo no decorrer do tempo”, avalia Mile, que tem até um treino específico para fortalecimento do corpo. “Não vivenciei muito apoio na minha geração, mas estamos todos na expectativa que a nova gestão venha fazer a diferença”, diz Émile.

Mais visibilidade 

Para o presidente da Federação de Skateboard do Estado da Bahia (Feseb), Windson Romero, as medalhas deram mais visibilidade ao esporte, além de contribuir para desmistificar a imagem do skatista, que, de acordo com ele, antes era visto como marginal.

“O nível técnico dos baianos não deixa a desejar quando comparado com o restante dos skatistas brasileiros. Inclusive, é capaz da gente fomentar e criar uma equipe de alto rendimento na Bahia para disputar a seletiva para futuras Olimpíadas”, pontua.

Com o sucesso do esporte na Olimpíada de Tóquio, Salvador quer ter seu representante nos jogos de 2024 em Paris. Para isso, conforme Windson, uma pista de skate olímpica será construída na cidade, no bairro de Stella Maris.

“A gente vai ter também um equipamento novo que vai sair no primeiro trimestre de 2022, nos moldes olímpicos. Acreditamos que esse legado vai trazer modelos de boas pistas para que beneficie os skatistas de alta performance e os skatistas de final de semana”, conta Windson. O projeto já está em fase de elaboração pela Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre).

Émile ressalta a importância da Skate Plaza no Parque dos Ventos, na Boca do Rio, mas pede atenção para outros espaços. “Temos muitas pistas que precisam ser vistas. A dos Barris, por exemplo, está esquecida e lá percebo que a cena do skate é forte. Vamos começar a dar atenção e incentivo nas pistas que já existem na cidade, não somente nas obras atuais ou futuras. Vamos cuidar das antigas e investir em novas pistas mais o incentivo para novos skatistas”, apela.

Windson Romero é o presidente da Feseb. Crédito: The World News

Incentivo 
O presidente da Feseb pontua que a participação do Skate nas Olímpiadas ajudou no relacionamento com o poder público. “Nossa entidade já vem recebendo mais auxílio, apoio e atenção do poder público, quanto aos nossos equipamentos. Hoje a gente tem um relatório que vem fazendo junto com alguns gestores municipais para ver todas as situações dos equipamentos que nós temos, que são as pistas de skate, as que requerem manutenção e até perspectiva de construção de novas”, esclarece.

Windson conta que houve um aumento significativo da procura dos equipamentos de skates, por jovens e adultos, em Salvador. “A gente sabe da dimensão que a grande mídia dá ao esporte. Participar da primeira vez das Olímpiadas fez a visão para a cultura do skate do público em geral ser mais abrangente então houve um aumento de vendas nas lojas especializadas”, destaca.

Ele orienta aqueles que têm interesse em ter o primeiro contato com o esporte a buscar equipamentos em lojas especializadas. “Busquem lojas especializadas. Não vá em skate de brinquedo de grandes varejistas para que o primeiro contato com o skate não seja frustrante, com o equipamento de baixa qualidade. É interessante que haja um direcionamento de loja especializada para oferecer um produto de qualidade”, finaliza.