Todas as histórias que o mundo (nem) imagina: Ney Matogrosso, a bomba atômica e a Química
Vem cá, acomode-se aqui comigo! Seja bem-vindo(a)! Será um prazer dizer-te que Ney Matogrosso, um dos decanos da Música Popular Brasileira (sim, grafadas com maiúsculas porque são músicas pudicas e que fazem jus à denominação!). Considerado pela revista Rolling Stones como a terceira maior voz brasileira de todos os tempos [adendo: em primeiro lugar, Tim […]
Vem cá, acomode-se aqui comigo! Seja bem-vindo(a)! Será um prazer dizer-te que Ney Matogrosso, um dos decanos da Música Popular Brasileira (sim, grafadas com maiúsculas porque são músicas pudicas e que fazem jus à denominação!). Considerado pela revista Rolling Stones como a terceira maior voz brasileira de todos os tempos [adendo: em primeiro lugar, Tim Maia e em segundo, Elis Regina] – e, pela mesma revista, o trigésimo primeiro maior artista brasileiro até o momento. Embora tenha começado relativamente tarde a se apresentar, das canções poéticas e de gêneros híbridos, ele passou a interpretar outros compositores do Brasil, a título de exemplo, Rita Lee, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Cartola, construindo um rico e vasto repertório que estima pela qualidade e versatilidade.
E, por falar em versatilidade, o consagrado cantor que também é compositor, dançarino, ator e diretor, ou seja, multifacetado e tão misterioso feito o pavão que é embalado em sua melodia, hoje, 1 de agosto de 2021, completa 80 anos. Em excelente forma, prova que um bom intérprete/artista faz toda a diferença nos quesitos: cantar e atuar, seja com sua voz marcante ou com movimentos voluptuosos. Vale destacar que o ex-integrante do grupo vanguardista Secos e Molhados começou a trilhar uma indiscutível carreira de sucesso, dois anos depois, com o primeiro álbum solo, “Água do Céu – Pássaro”, desde então, demonstrando ser o senhor absoluto de seus próprios tempo e espaço, que para pedir silêncio ele mesmo pedia, e para fazer barulho… ele continua a fazer!
Espessando pela maquiagem cênica, vestuário exótico utilizado desde os anos 70, o que provocou uma certa comichão na mudança de conceitos sobre o comportamento masculino [adendo: lembre-se do período da Ditadura Militar que vigorava no país], quebrando tabus e descascando bananas vestidas de preconceitos. O cara de sangue latino era apoteótico, um ser magnético que tem lascivious behavior (re)produzido sobre o palco. Acredito que, dos cantores brasileiros já existentes, o filho do militar Antônio é o único que pode e deve receber o título de brazilian showman.
Uma pessoa que sempre lutou pela liberdade, que enfrentou o tenebroso regime ditador, cantava com alerta de gritos e gatilhos, ao lado de grandes músicos e compositores, Ney é referência, jovens! Ele é passado, é presente e é futuro. Comecem a escutar as músicas deste magistral artista. É melhor que a vida de “tique-toque”. Ainda há tempo de desintoxicação. Alimente a alma com boas canções! O repertório é abrangente, há três músicas as quais o artista tem predileção: “Sangue Latino”, “Balada de Louco” e “Rosa de Hiroshima”.
Essa última, trata-se de um poema do eterno Vinicius de Moraes publicada no livro Antologia Poética em 1954. Destaco que, ele foi transcrito em 1946 e somente em 1973 que os versos foram musicados e ganharam corpo na voz do enigmático cantor, ainda membro dos Secos e Molhados. A priori, o poema é um protesto sobre as explosões de bombas atômicas ocorridas na cidade de Hiroshima e Nagasaki (6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente), no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, o poeta atuava como diplomata do governo brasileiro o que contribuiu para que se interessasse sobre conflitos internacionais.
Mas retornemos ao poema canção, os seus versos abordam as consequências da guerra, do desastre que as bombas fizeram, das marcas inapagáveis. Além das nuances históricas e políticas, é possível aprender sobre Química. Oi? Química? Aposto que está se perguntando. Sim, é possível. O início do poema mostra os efeitos da radioatividade nas vítimas civis que foram atingidas. As crianças, alheias ao conflito de duas grandes nações, tornaram-se nos versos de Vinicius de Moraes mudas telepáticas. As meninas cegas inexatas parecem fazer menção às consequências da radioatividade nas gerações futuras.
Resumidamente, a radioatividade é um processo natural e espontâneo em que átomos instáveis emitem radiação por meio de decaimento (transmutação), a fim de diminuírem sua energia e tornarem-se mais estáveis. É importante saber que esse fenômeno pode ocorrer por partícula (alfa e beta) ou por onda eletromagnética (raios gama). Aí, você pode perguntar: para que isso serve? A radioatividade é nociva? Respondo que serve para muita coisa, apesar da iminência de “contaminação”. Vejamos:
Diariamente, estamos expostos a pequenas quantidades de radiação, sejam artificiais ou naturais. Essas últimas, acontecem de maneira espontânea na natureza. Parte dessa radiação que recebemos vem dos alimentos consumidos ao longo do dia, como o radônio-226 e o potássio-40, que se apresentam em níveis baixíssimos e não atribuem riscos a nossa saúde. Esse processo de expor os alimentos a emissões radioativas tem o objetivo de conservar os alimentos e promover um crescimento das plantas. Alguns exemplos de alimentos que emitem radiação são a castanha-do-pará, a banana, o feijão, entre outros.
Outro papel fundamental que a radioatividade possui está relacionado com a área biomédica, como nos exames de raios-X e nas tomografias, e também em alguns tipos de tratamento de enfermidades. Além do mais, pode ser empregada na produção de energia elétrica em usinas nucleares por meio da fissão (processo de forçar a divisão de um “átomo pesado” para formar dois outros, “mais leves”) de átomos radioativos.
A bomba nuclear é um dispositivo explosivo que deriva sua força destrutiva das reações nucleares, tanto de fissão ou de uma combinação de fissão e fusão (processo em que dois núcleos se combinam para formar um único núcleo, “mais pesado”). A bomba (no poema) é comparada com uma rosa porque quando explodiu, resultou na semelhante imagem de uma rosa a desabrochar. Uma rosa normalmente está relacionada com a beleza e delicadeza, no entanto, a Rosa de Hiroshima remete para as horríveis consequências deixadas pela guerra que reverbera após 76 anos da explosão, precisamente.
Através de um tom melancólico, condoído com as vítimas, Ney nos mostra que é possível estudar História, Química, Política, Economia, Direitos Humanos de maneira multidisciplinar e contextualizada – apesar de ter sido um episódio sombrio na humanidade – com a Rosa que não tem cheiro, nem beleza, nem encanto, possui apenas espinhos.
Uma voz que fala por si só, que se agiganta em qualquer cenário; já nasceu vocacionado para as artes. Artista que canta com o corpo seminu desmistificado. Passional. Sensual. Arrebatador. Avassalador. Torna-se uma árvore frondosa quando está no palco. Um cantor que não tem tempo e que não cabe no mesmo, 80 anos de vigor. É para ser reverenciado com todas as honras. Pela idade redonda, pela discografia impoluta, pela identidade solidificada (não se deixou levar pelas influências da “modinha na época”), tornando-se um cantor independente. Um cantor atemporal, um “Corista de Rock”, sendo um ponto de vista que não se limita, de ser ou não ser, ele é tudo aquilo que diz e canta.
Ícaro Mota é Doutor em Ciências pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Mestre em Química pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), graduado em Química Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), atua nas áreas de Nanotecnologia, Química de Materiais e Educação Química, diretor executivo e membro da Academia Brasileira de Jovens Cientistas, divulgador científico, membro colaborador do Ciência Brasileira é de Qualidade (@ciencia.brasileira), do QuiCiência (@quicienciaiqb) (IQB/UFAL), da Usina Ciência da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX/UFAL) e revisor dos periódicos: Revista Docência do Ensino Superior (UFMG) e Revista Brasileira de Meio Ambiente.
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