Somos solidários à esquerda branca brasileira

Empatia pode ser definida como a capacidade, ou melhor, a predisposição de uma pessoa em colocar-se no lugar de outra; a aptidão para se identificar com a outra; um esforço para perceber, compreender e mobilizar-se a partir da dor da outra. Desta forma, por sermos empáticos, nos solidarizamos com os milhões de brasileiros e brasileiras, […]


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Glaucia Farias 16/08/2022 14:00 Artigos

Empatia pode ser definida como a capacidade, ou melhor, a predisposição de uma pessoa em colocar-se no lugar de outra; a aptidão para se identificar com a outra; um esforço para perceber, compreender e mobilizar-se a partir da dor da outra. Desta forma, por sermos empáticos, nos solidarizamos com os milhões de brasileiros e brasileiras, não negros(as), que têm demonstrado seu temor em realizar algumas das simples ações do cotidiano. Refiro-me ao evidente temor que assombra milhões de pessoas em demonstrarem suas preferências políticas, seja através de bandeiras, vestimentas, cores, ou palavras de ordem. 

Somos solidários às pessoas brancas que se sentem oprimidas e receosas de sofrer agressões ou até mesmo morrer, pelo simples ato de declarar sua opção de voto, por ser um sentimento que nos acompanha desde quando nos trouxeram forçadamente para sermos escravizados neste país. Pessoas negras, por seu turno, correm o risco de morrer quando vão ao mercado, manuseiam uma furadeira ou um guarda-chuva, deslocam-se pela cidade utilizando seu próprio automóvel, ou simplesmente vão à escola. Na verdade, pessoas negras, e não são poucas, não correm apenas o risco, elas morrem, muitas vezes assassinadas por quem deveria protegê-las, o Estado.

Não me venham com o argumento cínico e superficial de que o momento agora é de união para derrotarmos as forças conservadoras e do atraso. É óbvio que o país clama por mudanças, entretanto, é preciso um amplo debate para construirmos coletivamente o que será posto no lugar do que aí está. Não é demais relembrar, que não foram apenas as forças que hoje são denominadas de fascistas que se colocaram contra a reserva de vagas para negros(as) nas universidades públicas, a implementação tardia dos direitos trabalhistas para empregadas domésticas, ou o Programa Mais Médicos. Muitos dos que temem pelas suas vidas ao se manifestarem contra o atual governo foram contra a essas políticas públicas, e nós não guardamos mágoa, somos solidários, empáticos. Porém, não é saudável para a democracia uma adesão acrítica aos projetos batizados de avançados. 

No Brasil, a verdadeira luta por democracia sempre foi pautada pelos movimentos sociais, grupos que ininterruptamente reivindicaram a participação de todos(as) nos processos de decisão. No entanto, diante das conjunturas políticas que foram se apresentando ao longo da história do país, especialmente após a redemocratização, inúmeras pessoas ligadas a esses movimentos decidiram caminhar junto às forças políticas que se declaravam e declaram-se avançadas e críticas ao conservadorismo. Não obstante, a história tem mostrado que a aludida aliança tem, na maioria das vezes, se configurado como a anedótica parceria entre o porco e a galinha, quando decidem comercializar ovos com bacon. Os Mapas da Violência dos últimos 10 anos no país nos mostram, que na jocosa metáfora, nós negros somos os porcos. Entramos com a vida.

A última eleição que o Brasil presenciou sem a interferência de estratégias antidemocráticas foi a que sagrou Dilma Rousseff como presidenta. Naquela oportunidade, Dilma foi superada pelo seu adversário em três das cinco regiões brasileiras, saindo vitoriosa apenas no Norte e Nordeste do país. Regiões com população de maioria negra. Não há dúvidas de que os investimentos em educação, saúde e políticas sociais eram melhores do que na atualidade. Contudo, era evidente que estavam muito aquém das necessidades da comunidade negra, população que foi decisiva para a vitória da ex-chefe do Poder Executivo Federal. Não bastasse, no período em que se iniciou a pressão contra aquele governo, ações que tiveram como consequência o Impeachment, uma das medidas da ex-presidenta foi extinguir a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR. 

Necessário é observar que a escolha de representantes dos grupos excluídos para integrarem governos, sejam eles ditos de esquerda ou de direita, muitas vezes servem apenas para cumprir a função de para-raios e frear críticas, quase sempre distorcendo reivindicações legítimas da sociedade, classificando-as como motivadas por sentimentos de inveja ou fratricídio. Noutras vezes, tais representantes são colocados em espaços sem a estrutura mínima para executar as políticas públicas inerentes à pasta, induzindo a população a identificar esses gestores como incapazes. Esta é uma estratégia há muito utilizada e batizada por Martin Luther King – trata-se do “tokenismo” – quando representantes de grupos excluídos cumprem unicamente a função de manutenção do status quo das elites dominantes que os colocaram nos espaços de aparente poder. 

Apesar de tudo, continuamos empáticos e solidários às pessoas brancas da esquerda. Inclusive, aquelas que alguns passaram a chamar de aliadas e que se dizem sensíveis às nossas causas. Esperamos, mais uma vez, que ao retornarem ao poder, também sejam solidários a nós. Aguardamos e lutamos por isso desde o fim da escravização. Porém, não tem sido isso que a história do Brasil tem nos contado. Sigamos…

 

*Leonardo Queiroz é advogado e mestrando em Direito pela Universidade de Brasília (UnB).

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