Sobre viver e morrer em paz

Por Claudia Correia*


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Ana Cristina 14/11/2021 08:00 Artigos

O movimento inFinito, que pratica o diálogo franco entre famílias, pacientes e profissionais da área de saúde, sobre os cuidados paliativos e as formas de  viver e morrer, realizou dias 30 e 31 de outubro, por via virtual, mais uma edição do Festival Brasileiro Internacional inFinito. O evento aborda a vida e a morte de forma direta, sem tabus, para todos que querem fazer a vida valer a pena, refletindo sobre a finitude da vida do corpo físico, a impermanência de tudo e as alternativas para conquistar condições dignas para viver e morrer. 

Para os promotores, liderados por Tom Almeida, o desafio conjunto desta rede que mobiliza especialistas e pacientes, é colocar o Brasil entre os dez melhores países para se morrer. Ter outra concepção dos direitos dos pacientes com doenças graves que ameaçam a continuidade da vida e dos cuidados paliativos exige uma profunda mudança de paradigma. A morte ainda é tema proibido nas rodas de conversa, é essencial encarar os processos de adoecimento, morte e luto com respeito às subjetividades de quem cuida e de quem é cuidado. Cada luto é único, requer uma abordagem humanizada e alguns sequer são reconhecidos pela sociedade. Todos os profissionais da saúde, pacientes, famílias, agentes da iniciativa privada e do poder público precisam enfrentar com seriedade os diferentes significados que a morte e a consequente quebra de vínculos trazem para a sociedade.

O movimento inFinito, que está nas plataformas das redes sociais incentivando uma revolução na forma de pensar como viver e morrer em paz, trouxe para a esfera pública temas “proibidos” no âmbito de nossas casas e escolas: Como quero morrer se uma doença grave me afetar? Como elaboro meu testamento vital com meus últimos desejos? Quero ser sepultado, cremado ou virar adubo de terra? Quem quero ao meu lado na despedida? Que direitos os pacientes em cuidados paliativos têm e que deveres éticos profissionais devem ser respeitados?

Vivenciamos questões éticas durante o luto coletivo imposto pela pandemia da Covid 19, sem direito a rituais de despedida, sem as devidas medidas governamentais para prevenir e conter a disseminação do vírus, desprovidos de uma política de saúde pública voltada também para a saúde mental dos pacientes e famílias enlutadas. Quantas mortes poderiam ter sido evitadas no Brasil?

Durante a programação do festival inFinito, um dos debates mais impactantes foi o “Palavras que curam”, que contou com a diretora médica do Serviço de Medicina Paliativa e Cuidados de Suporte do Keck Hospital e Norris Cancer Center da Universidade da Califórnia e com a médica da família e da comunidade, em Belo Horizonte, Júlia Rocha, que também é doula, cantora e compositora. Dra Júlia, ativista da luta antirracista e defensora do Sistema Único de Saúde-SUS relatou situações dramáticas que revelam os impactos das desigualdades sócio raciais no Brasil, responsáveis por mortes entre jovens e populações periféricas, predominantemente negras. 

A violação dos direitos sociais, incluindo à saúde pública universal de qualidade, e a omissão do Estado brasileiro têm elevado os casos de óbito durante a pandemia, mas, como ela ressaltou, se trata de um processo histórico secular, de descaso com as classes trabalhadoras, alijadas de condições de vida digna, de habitação, segurança alimentar, educação e outros requisitos para a saúde integral.

Em tempos tão sombrios, onde o sofrimento psíquico se banalizou, com desafios cotidianos para elaborar o luto coletivo, seja decorrente de morte “natural” causada pela Covid 19, ou acidental como a que vitimou a cantora Marília Mendonça, é preciso investir na saúde mental.

Movimentos como o inFinito(@infinito.etc) cumprem um importante papel neste cenário: ao mesmo tempo que levantam discussões filosóficas urgentes para vivermos e morrermos em paz, com dignidade, chamam atenção para as demandas da vida aqui e agora, da nossa resistência para alcançarmos tudo que temos direito. Viver sem refletir sobre a finitude da vida e as nossas responsabilidades é um caminho tenebroso, incerto. Morrer sem ter vivido intensamente, livre de amarras psicológicas e de preconceitos sociais é um fardo doloroso. Assim, vivamos para honrar nossas ancestralidades, nossas biografias, nossos afetos. E você, estará vivo se morrer hoje?

* Claudia Correia, assistente social e jornalista ccorrei6@yahoo.com.br

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