Sobre Rússia, Ucrânia e a Bahia Internacional 

O saudoso cientista político e historiador baiano Luiz Alberto Moniz Bandeira citou, em seu interessante livro “A Segunda Guerra Fria”, de 2013, que durante quatro séculos o Império Russo cresceu em seu território numa média de 20.000 milhas quadradas por ano. Se o conversor de milhas quadradas em quilômetros quadrados que usei não errou, isso […]


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Glaucia Farias 26/04/2022 16:00 Artigos

O saudoso cientista político e historiador baiano Luiz Alberto Moniz Bandeira citou, em seu interessante livro “A Segunda Guerra Fria”, de 2013, que durante quatro séculos o Império Russo cresceu em seu território numa média de 20.000 milhas quadradas por ano. Se o conversor de milhas quadradas em quilômetros quadrados que usei não errou, isso significa que, ao longo desse período, a Rússia expandiu-se, a cada 10-11 anos, em proporção equivalente ao tamanho do estado da Bahia. Esses dados ajudam a entender, em alguma medida, o interesse manifestado pela Ucrânia em fazer parte de uma aliança militar como a OTAN, levando-nos a ter uma breve dimensão da atual e complexa situação conflituosa a partir de um quadro de referência ancorado em dado da geografia baiana.

Deve-se registrar, entretanto, que a ação de situar a Bahia na análise da presente conjuntura russo-ucraniana não pode se limitar a mero recurso comparativo interessado em capturar a atenção do leitor. Há muito mais fatores a serem considerados quando da reflexão acerca dos impactos locais de uma crise internacional, e o rol daqueles que afetam ou podem afetar a Bahia não é pequeno.

Em primeiro lugar, os efeitos mundiais já observados, como a inflação no setor de energia e alimentos, o aumento de preços dos seguros internacionais e de desafios logísticos, e os desdobramentos das sanções impostas à Rússia, evidenciam que, num mundo globalizado, interconectado e interdependente, a economia baiana não está imune às intempéries externas. Se o Brasil é afetado – seja por conta do petróleo, da compra de fertilizantes (o país importa 80% do que consome, dos quais ¼ vem da Rússia), do trigo, ou de outros elementos – direta ou indiretamente, pelo que ocorre no outro lado do mundo, a Bahia também o é.

Em segundo lugar, a Bahia possui histórico (inclusive bem recente, deste ano de 2022) de relações comerciais com russos e ucranianos. Da exportação de ferro-ligas, café, tâmaras, figos, mangas, abacates, goiabas e outras frutas, especiarias, cordéis, cordas e cabos, calçados, pneumáticos, óleos de petróleo ou de minerais betuminosos, polímeros de etileno ou de propileno, e outros produtos, à importação de adubos (fertilizantes) minerais ou químicos, borracha sintética, sulfatos, cetonas, medicamentos e mais mercadorias, a pauta baiana não é desprezível.

Do Oeste produtor de soja, à indústria na Região Metropolitana de Salvador; do Sertão do São Francisco ao Sertão Produtivo; ou do Sisal à Chapada Diamantina, e desta ao Extremo Sul, todos os 26 Territórios de Identidade baianos são, ou podem ser, atingidos de múltiplas formas pelos efeitos da crise. A Bahia Internacional não se limita ao comércio exterior.

Num estado com vocação turística, é preciso se considerar como o presente conflito afeta o turismo global e quais as repercussões internas possíveis; num estado que conta com ações realizadas por organismos das Nações Unidas, é importante refletir sobre como as disputas políticas internacionais podem afetar o orçamento desta organização e os projetos que executa no semiárido baiano, e em outras regiões, através do UNICEF; do FIDA, que financia programas que beneficiam cooperativas agropecuárias e a população rural do interior; do UNFPA, que teve atuação fundamental em Salvador durante a pandemia do covid-19; e de outras ações e atores onusianos, como o PNUD (que tem distintas responsabilidades junto ao programa NEOJIBA) e o UNAIDS, que também contribui para o desenvolvimento regional.

Num estado cuja indústria possui um Centro de Defesa e Segurança, como o do SENAI CIMATEC, é imprescindível ter em mente como esta guerra já está influenciando, em todos os continentes, o desenvolvimento de tecnologias bélicas ou de Defesa, assim como o de produtos de uso dual, aumentando o fosso tecnológico entre países. Além disso, num estado no qual organizações não governamentais administram projetos sociais bancados por recursos internacionais, é necessário observar como tende a ser o cenário futuro da cooperação internacional.

Muitas são as frentes de contato da Bahia Internacional, e é indispensável que atores políticos, econômicos e sociais baianos estejam atentos a elas. A crise entre Rússia, Ucrânia e “Ocidente” demonstra tudo isso de modo contumaz, mas outros eventos internacionais também o farão nos curto, médio e longo prazos.

*Internacionalista e Doutorando em Administração pela UFBA (currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2902501037347593)

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