O tempero de uma saudade: sal, Elis Regina e Química
Uma vida interrompida aos 36 anos, em circunstâncias trágicas. Era uma terça-feira, 19 de janeiro de 1982, quando Elis nos deixou. Trajetória musical marcante, voz inconfundível e presença de palco inquestionável, a “Pimentinha” (apelido, carinhosamente, dado pelo Vinicius de Moraes) fez, continua e continuará fazendo história. Após 40 anos de sua morte, a notável gaúcha […]
Uma vida interrompida aos 36 anos, em circunstâncias trágicas. Era uma terça-feira, 19 de janeiro de 1982, quando Elis nos deixou. Trajetória musical marcante, voz inconfundível e presença de palco inquestionável, a “Pimentinha” (apelido, carinhosamente, dado pelo Vinicius de Moraes) fez, continua e continuará fazendo história. Após 40 anos de sua morte, a notável gaúcha é (re)lembrada pelas canções atemporais, tocantes e saudosas. Não vivi a era de
Elis, nasci muito, mas muito, bem depois! Entretanto, cresci escutando aqui e acolá algumas das músicas/interpretações, ouvia os mais velhos dizerem que “ela morreu”, eu não sabia do quê!… O meu olhar foi contaminado com “Como nossos pais”, despertando-me a curiosidade sobre tal artista e seu universo. E, digamos: vasto e intenso, esplendoroso, – marcou o cenário musical do nosso país!
Não quero defender tese [até porque já defendi uma: a do meu doutoramento! Basta!], mas quero defender a Elis que, além de uma cantora multifacetada e plural, foi uma mulher frente ao tempo, que ensinou História (ela viveu/sofreu retaliação da ditadura militar) e Química através de algumas canções. Defender que, também, é possível ensinar (refiro-me à contextualização do ensino) e contribuir para a educação deste país por meio das músicas, de cantores consagrados (conteudistas), de poemas e poesias, e de sabores! Vamos lá!
Temos quatro tipo de papilas gustativas que nos permitem distinguir sabores dos alimentos. A maior concentração desses sensores – que reagem aos sais da comida salgada – está na lateral e na ponta da língua. Estudos científicos apontam que, nossa predileção por esse sabor (ah! Eu prefiro o doce!), em teoria, está atrelada à necessidade de repor os sais perdidos na transpiração. Mais do que o trabalho exaustivo nas salinas, o sal é o suor do corpo humano.
Historicamente, o sal era a única moeda de troca, sabiam? A título de exemplo, a origem da palavra salário está ligada ao Império Romano, pois a palavra origina-se do latim “salarium”. Esse termo traduzia o que os soldados romanos recebiam pelos seus serviços prestados ao império: uma porção de sal. O que se comprava com um punhado de sal, eu não sei!
Não se sabe quando o sal começou a ser usado como condimento nos preparos dos alimentos. Alguns artigos científicos revelam que o homem pré-histórico lambia as paredes das cavernas para que assim pudesse detectar o sabor salgado. Falar do sal é abordar História, Economia, Filosofia, Religião, enfim, de todas as áreas do conhecimento! O sal é extraído principalmente da evaporação da água marinha (nas salinas) e da extração mineira de rochas com cloro sódico (halita) [lembrem que o homem das cavernas já detectavam tais rochas…].
Apesar de ser um ingrediente manufaturado barato, engana-se quem pensa que o sal serve somente para temperar/conservar comida, mas sua necessidade existe e existirá tanto na alimentação humana como na industrial. No que tange a escala industrial, o consumo do produto aumentará devido ao surgimento de novas técnicas, por exemplo, reator de sal fundido (do inglês, “Molten Salt Reactor”), a qual emprega sal fundido como método de refrigeração. Ademais, o sal está presente em canções interpretadas pela “Elis-Cóptero” (apelido dado pela Rita Lee, devido aquela cantora sempre dançar balançando os braços).
A priori, nos versos da Canção do Sal: “Água vira sal lá na salina/Quem diminuiu água do mar/Água enfrenta sol lá na salina/ Sol que vai queimando até queimar” – é possível contextualizar e explicar os processos de extração do sal. Friso, ainda, que na tal interpretação Elis aborda sobre o suor do trabalhador para dar uma vida melhor a sua família (“Trabalhando o sal pra ver a mulher se vestir/E ao chegar em casa encontrar a família sorrir/Filho vir da escola problema maior é o de estudar”).
Sal é amor (seja no suor ou na lágrima derramada): é o sacrifício de um pai ou uma mãe que trabalha duro para sustentar sua família e encaminhar os(as) filhos(as) para a escola. São tantos valores que as canções da Elis têm a nos ensinar que é impossível ficar retido numa área de conhecimento, como falei, a Elis é plural.
Querida Elis, o tempo passou, muita coisa mudou, nosso Brasil está passando por transformações e provações. Quem foi da tua era, jamais te esqueceu. Quem não vivenciou tão período, fica extasiado com sua performance encontrada nos arquivos multimidias. Quando tu anunciavas um “Alô, alô, marciano/Aqui quem fala é da Terra/Pra variar estamos em guerra/Você não imagina a loucura”, olha, vou te dizer, continuamos presos nessa vossa fala, porque aqui está cada vez mais “down, down, down…”.
Ah, Elis, também, “não quero lhe falar das coisas que aprendi nos discos”, nos teus discos, mas que foram significativas para a construção do meu eu, do ser cidadão e entusiasta da literatura, da música. Obrigado por me alertar que “há perigo na esquina”, quando eles venceram. Entretanto, eu acredito no amanhã porque você me fez enxergar no “cheiro de nova estação”, pois “hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude está em casa, guardado por Deus (e ao lado Dele) contando vil metal”. Saudade daquilo que não vivi, mas que aprendi a respeitar, a admirar e ter a certeza de que viver é melhor que sonhar, muito obrigado, “Hélice-Regina” (outro apelido dado pela Rita Lee).
* Ícaro Mota Oliveira é pós-doutorando na Universidade de São Paulo (USP), Doutor em Ciências pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Mestre em Química pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), graduado em Química Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), atua nas áreas de Nanotecnologia, Química de Materiais e Educação Química, diretor executivo e membro da Academia Brasileira de Jovens Cientistas (@jovenscientistas.abjc), divulgador científico e pesquisador, membro colaborador do Ciência Brasileira é de Qualidade (@ciencia.brasileira), do QuiCiência (@quicienciaiqb) (IQB/UFAL), da Usina Ciência da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX/UFAL) e revisor dos periódicos.
Contato: icaro.mio@hotmail.com
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