O que podemos aprender sobre Química através do ícone Diana Spencer, a eterna Lady Di?

Domingo, 31 de agosto de 1997, o mundo despertava e – concomitante, – recebia a notícia da morte em circunstâncias trágicas da Princesa de Gales. Ela era tão requintada que, seja por ironia do destino ou não, predestinação ou não, Diana morreu na cidade mais dândi do mundo: a cidade luz, Paris! A professora tímida à mulher mais fotografada do século XX, estava morta aos 36 anos. E, isso ecoou como um choque maciço que reverbera até os dias atuais.

A vida de Diana Spencer foi muito conturbada desde tenra idade, entretanto, ao fazer parte da Família Real Inglesa, os problemas agravaram-se. Abro parêntese, só consegui entender a dimensão de quem foi tal celebridade quando li “Diana, sua verdadeira história”, única biografia autorizada da princesa, escrita por Andrew Morton (jornalista que se tornou amicíssimo durante o processo de escrita do livro) com a ajuda da própria Diana por meio de fitas [cassetes ou K7, sigla mais conhecida!] gravadas no momento da pior crise de seu casamento e de sua depressão, fecho parêntese.

Sim, a Princesa do Povo sofria de depressão da mesma maneira que era acometida por um distúrbio, a bulimia. No tocante, a Química far-se-á necessária para “explicar” esta alteração psicossomática. No entanto, eu preciso trazer à baila algumas, – digamos – curiosidades que concerne naquela que foi nora de Elizabeth II. 

Singularmente, a considero como a mulher mais bonita que a Terra já teve. Óbvio, a sua beleza e polidez ao se vestir, a tornaram símbolo marcante de elegância e sofisticação, por isso, mesmo após 25 anos da sua morte, empresas na área da moda se inspiram na princesa para elaborarem suas respectivas coleções, devido Diana ter sido [ainda é, e será] um ícone atemporal. Ela era uma pessoa pública com um casamento falido, envolto de escândalos e contratos burocráticos, mas ela só queria ser amada, respeitada e viver! Bom, muita gente desconhece outros fatos sobre esta mulher singular que atraiu os holofotes da mídia e se utilizou de sua inusitada plataforma para abordar causas importantes e “quebrar” preconceitos tão quanto protocolos reais. 

A saber, o casamento com o Príncipe Charles, hoje Rei George VII, foi o primeiro evento da monarquia britânica a ter maior audiência televisiva histórica do planeta. Porém, o que ela não sabia é que o casamento foi arquitetado pelo Charles e Camila, atual consorte do mesmo. A Diana foi usada como símbolo pueril e casta, para a monarquia que naquela época estava ganhando impopularidade, ter uma jovem, aristocrata e bela, poderia renovar os ânimos da multidão! Friso que, durante os votos de casamento, Diana não jurou obediência ao marido, escreveu seus próprios votos (que máximo, hein?!). 

Abraçou causas humanitárias, e a descoberta pela filantropia se consolidou quando foi à África visitar um hospital para soropositivos. Diana foi a primeira pessoa pública a apertar (sem proteção) a mão de pacientes contaminados pelo HIV. O que isso significou? O ano era 1987, a onda da AIDS assolava o mundo, ela fez com que houvesse uma diminuição do preconceito da doença e desmistificou suas formas de contágios. Na oportunidade, no mesmo continente, serviu a Cruz Vermelha, foi amiga de Madre Tereza de Calcutá, caminhou por campos minados chamando a atenção do mundo sobre os civis que eram mutilados ao pisarem, acidentalmente, nas minas. Fundou (com seus próprios recursos) hospital em Londres para tratamentos da hanseníase e AIDS. Em sua visita ao Brasil (1987), conheceu órfãos de pais soropositivos. 

Pode-se dividir, segundo historiadores, a monarquia britânica antes e depois de Diana, a sua amabilidade com os súditos fez com que ela ganhasse mais um título, a Princesa do Povo, e, também aquele regime político fosse mais aceito. As ações humanas e solidárias somadas à simpatia de Diana culminaram para que ela fosse conquistando cada vez mais o clamor dos ingleses. Em contrapartida, seus problemas de cunho pessoal só aumentavam de modo exponencial.

O caso extraconjugal de Charles e Camila foi algo que fez com que suas crises bulímicas fossem cada vez mais intensas. A partir daqui que podemos entender como a Química pode nos explicar alguns efeitos da bulimia.

De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 70 milhões de pessoas no mundo possuem distúrbios alimentares [dados de setembro/2022]. A bulimia é uma alteração de ordem psicossomática que causa algumas modificações no comportamento humano, e que está correlacionado com a alimentação. Essa alteração pode fazer com que algumas pessoas depois de ingerirem um alimento passem a induzir vômitos, com a finalidade de evitar que o organismo absorva essa comida. Mas, ao fazer isso a pessoa acaba provocando a deterioração de seus dentes, pois o ácido clorídrico (HCl) presente no suco gástrico do estômago é eliminado junto com o vômito, o que favorece a corrosão dos dentes. E como isso acontece? 

Em linhas gerais, o esmalte que protege o dente é constituído por hidroxiapatita (também, presente nas unhas, esqueleto e escamas de peixes), um mineral que é insolúvel em água, mas parcialmente solúvel em meio ácido. Logo, quando o ácido clorídrico é regurgitado junto com a comida, a sua acidez na boca aumenta e, como consequência, afeta o esmalte dos dentes, desgastando-os. Na verdade, há uma reação química de desmineralização da hidroxiapatita. Em palavras científicas, trata-se de uma reação de equilíbrio químico, onde a mesma faz com que haja consumo de dois íons [espécies eletrônicas carregadas positiva (cátions) e negativamente (ânion)] específicos e assim, consome-se a hidroxiapatita, deixando o dente bem fragilizado, originando cavidades e cáries.

Na época, a Diana fazia um tratamento dentário ostensivo… 
A bulimia tem cura, porém, o preconceito da nossa sociedade é maior. Sofrer bulimia não é sinônimo de frescuras, de “chamar a atenção”, trata-se de uma doença acometida por inúmeros fatores, sem os cuidados específicos, pode causar a morte. Portanto, antes de julgar (porque nem isso temos o direito em fazer!), procure entender o que está acontecendo com o outro, evite falar palavras desnecessárias, fale somente o essencial: posso ajudar de que forma? 

Depois da leitura da biografia da Diana, descobri o motivo pela qual ela possuía a bulimia: um somatório de decepções e pressões socias. O que posso dizer-lhes é que aquela mulher é um símbolo de liberdade, de empatia, de simpatia, de justiça social, de política e de beleza rara. Ela só queria ser amada pelo marido, entretanto, um amor nunca correspondido contrapondo ao amor maior que o amor platônico: o amor dos súditos. Para sempre será Princesa do Povo! 

Por último, e não menos importante, sabemos que a longeva monarca da história foi a Elizabeth II que faleceu no corrente ano. A única vez, dentre os 70 anos de reinado, que Vossa Alteza se curvou perante uma pessoa, foi durante o cortejo fúnebre da Lady Di. Uma cena emocionante, onde “meus meninos” (expressão carinhosa de Diana aos filhos, William e Harry) caminhavam cabisbaixos após a carruagem com o caixão e em cima deste uma coroa de flores com um cartão “Mummy” (carinhosamente, mamãe, em tradução livre!). Como dizia Drummond, mãe deveria ser eterna…

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*Pós-doutorando na Universidade de São Paulo (USP), Doutor em Ciências pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Mestre em Química pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), graduado em Química Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), atua nas áreas de Nanotecnologia, Química de Materiais e Educação Química, diretor executivo e membro da Academia Brasileira de Jovens Cientistas (@jovenscientistas.abjc), divulgador científico e pesquisador, membro colaborador do Ciência Brasileira é de Qualidade (@ciencia.brasileira), do QuiCiência (@quicienciaiqb) (IQB/UFAL), da Usina Ciência da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX/UFAL) e revisor dos periódicos. 

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