O fim do mundo é ali
Por Adilson Fonseca*
“Quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem.” – Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi um filósofo, dramaturgo e escritor francês, um dos fundadores do existencialismo
As cenas de pessoas em desespero correndo pelas ruas em todas as direções, lotando aeroportos e se pendurando em aviões prestes a decolar, de multidão de retirantes pelas estradas carregando trouxas com o que lhe restou de pertences, casas destruídas e veículos abandonados, que recentemente a televisão e as redes sociais mostraram no Afeganistão, chocaram o mundo. Com a capital afegã, Cabul, tomada pelos terroristas do Talibã, no último dia 17, e a destruição do governo, o caos que se formou repetiu cenas semelhantes, em outros países, ao longo dos últimos 80 anos.
Lendo um trecho da 4ª edição de A Segunda Guerra Mundial, de Antony Beevor (Editora Record – 2021), vi uma similaridade atualizada do êxodo dos franceses, belgas e holandeses, quando seus países foram invadidos pelas tropas nazistas de Adolf Hitler, em maio de 1940. E também com o que ocorreu entre os dias 28 a 30 de maio de 1975, quando Saigon, capital do Vietnã do Sul, caiu em poder dos vietcongs, forçando a saída dos norte-americanos daquele país e pondo fim a um conflito que se iniciou em 1959.
Em maio de 1940, os alemães iniciaram a blitzkrieg (guerra relâmpago) na Europa, e rapidamente dominaram a Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica e depois a França, que a despeito de ter um dos maiores exércitos do mundo, caiu com menos de um mês de luta. Depois que iniciaram a invasão, na pequena cidade de Sedan, a 10 quilômetros da fronteira belga, em plena Floresta das Ardenas, os alemães fizeram quase quem um passeio, conquistando e arrasando cidades e aldeias até chegarem às portas de Paris. Eram chamados de hunos, numa referência às hordas bárbaras que varreram, a mesma Europa, no final do Império Romano (476 d.C)
No seu trajeto, além da destruição das forças armadas francesas, o pânico se estabeleceu por todo o país, forçando um êxodo sem precedentes de militares e civis, e levando ao colapso as estruturas do governo de Paul Reynauld. A derrocada francesa levou à maior retirada militar da Europa, em Dunquerque, retratada no filme “Dunkirk”-2017) quando 340 mil ingleses da Força Expedicionária, foram, evacuados do continente de volta às ilhas britânicas, e dando a Adolf Hitler o domínio completo da Europa.
Em 1975, depois de 16 anos de envolvimento militar, apoiando o Vietnã do Sul, os Estados Unidos foram obrigados a deixar aquele país, ante o avanço das tropas do Vietnã do Norte, apoiados pela Rússia e pela China. Os chamados “vietcongs”, liderados por Ho Chi Minh, avançaram de aldeia em aldeia e no dia 28 de maio chegaram aos arredores de Saigon, forçando a sua queda e dois dias depois, a retirada dos solados norte-americanos. O caos se instalou, com civis invadindo a embaixada americana e tentando embarcar de qualquer jeito nos últimos helicópteros que saiam da cidade. O caos foi retratado no filme “Gritos do Silêncio” – 1984)
Agora no limiar da segunda década do século XXI, 81 anos depois, desde a invasão alemã na França, e do último grande êxodo, no Vietnã, o mundo assiste a mais um drama humanitário, dessa vez no Afeganistão, com transmissão ao vivo e a cores nas redes sociais e televisões. Nesse ínterim, contudo, outros dramas e genocídios ocorreram, sem a mesma magnitude e impactos, e rapidamente esquecidos pelo mundo, como as guerras em Ruanda, Rodésia (atual Zimbábue), Líbia e mais recentemente no Iraque.
O que aconteceu agora em Cabul tem suas raízes na década de 70, com a queda da monarquia do rei Zahir Shah, em 1973, e depois com a invasão daquele país pela extinta União Soviética, em 1979, culminando com a ascensão do Talibã ao poder, um regime jihadista e fundamentalista extremista, que acabou expulsando os soviéticos em 1989. O drama afegão foi o pano de fundo do livro e depois do filme “O caçador de Pipas”, do escrito afegão-norte americano Khaled Hosseini, de 2003 e 2007.
O Afeganistão repete a barbárie do homem moderno em tecnologia e pobre em moral. E se espalha pelo mundo do século XXI, provocando os mesmos erros, desde os hunos, na Antiguidade, aos nazistas na Segunda Guerra Mundial, e ao Vietnã. E até mesmo aqui na nossa vizinhança, com a fuga de mais de 20% dos 28,5 milhões de venezuelanos, dos quais quase 300 mil chegaram ao Brasil, em busca de abrigo, fugindo da fome, guerra e perseguição e, principalmente, buscando condições dignas para viver. Uma repetição trágica, que no Brasil tem seguidores que apoiam tais métodos.
* Adilson Fonseca é jornalista e escreve neste espaço às quartas-feiras.
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