No fundo do poço moral
Por Adilson Fonseca*
“O pessimista afirma que já atingimos o fundo do poço, o otimista acha q dá pra cair mais.” – Woody Allen (1935) é um cineasta, ator, escritor e músico norte-americano, vencedor de várias premiações do cinema.
Pegou mal. E muito mal. Durante quatro horas, incensado pelo senador Renan Calheiros, Omar Aziz e o chamado G-7, o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, teve um palanque político para atacar o presidente da República, Jair Bolsonaro, insinuar a participação do Governo Federal na organização de milícias e até mesmo se referir ao assassinato da vereadora Marielle Franco. Só não explicou as razões do seu impeachment e as robustas denúncias de corrupção e fraudes com o dinheiro federal destinado para combater a pandemia do coronavírus.
No Brasil costuma-se dizer que para se descer e chegar ao fundo do poço é preciso subir alguns degraus, porque ele já foi ultrapassado. E a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado, criada para investigar supostas omissões do Governo Federal e também o uso de recursos públicos federais por estados e municípios, atingiu essa meta na última quarta-feira, quando se apresentou para depor o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. O ex-governador sofreu processo de impeachment sob acusação de desvios de recursos federais destinados para a pandemia do coronavírus.
Não sei o sentimento dos demais brasileiros, mas ao assistir ao depoimento do ex-governador, na CPI da Pandemia, e os afagos a ele destinados pelo relator, senador Renan Calheiros, com a complacência do presidente, Omar Aziz, e do vice-presidente, Senador Randolfe Rodrigues, e do chamado G-7, veio um misto de perplexidade, ante o descalabro moral a que se chegou. No afã de criar fatos que possam incriminar o Governo Federal, faltou apenas ao relator da CPI pedir o cancelamento do impeachment do ex-governador e isentá-lo dos crimes de malversação do erário público.
Indo além do fundo do poço, a CPI deu uma guinada, sob o comando do relator Renan Calheiros, e em vez de questionar o ex-governador, afastado por impeachment sob a acusação de desvios e malversação de mais de meio milhão de reais que seriam aplicados no combate ao coronavírus, desviou o seu foco para o senador Flávio Bolsonaro, em insinuações de milícias, e perseguições políticas. O constrangimento foi tanto que mesmo o presidente da comissão, Omar Aziz, interviu e pediu comedimento.
Numa clara atitude de deboche, e após, com a complacência dos senadores, fazer da CPI um palanque de ataques ao governo federal, o ex-governador Wilson Witzel, ao ter iniciado os questionamentos de senadores aliados do governo, e amparado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal, abandonou o recinto, impedindo quaisquer questionamentos sobre sua conduta à frente do Governo do Rio de Janeiro. Contudo, na mesma tarde após o espetáculo burlesco, a justiça o tornou réu por crime de corrupção.
A descida ao fundo do poço, contudo, já vinha se acentuando antes, com as atitudes protelatórias da Mesa Diretora da CPI em não investigar as denúncias de desvios de recursos federais por estados e municípios. E atingiu o seu ápice, quando se confirmou a não convocação do secretário executivo do Consórcio de Governadores do Nordeste, Carlos Gabas, deixando de lado as explicações sobre o sumiço de R$ 48 milhões na compra malfadada de 300 respiradores, pagos adiantados e jamais entregues. E foi consolidada com os afagos feitos ao ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, alçado à condição de inocente e perseguido politicamente, apesar de todos os crimes a ele imputados pela justiça.
Desmoralizando-se à cada dia ante a realidade dos fatos que finge não existir, a CPI da Pandemia protagoniza espetáculos dantescos, que já não consegue mais disfarçar o caráter ideológico dos seus líderes. No festival de horrores que vai ao ar três vezes na semana, há espaços até mesmo para transformar réus e envolvidos em crimes de corrupção, em heróis, desde que estes resolvam transferir seus crimes para o presidente Jair Bolsonaro.
Wilson Witzel, Wilson Lins, Carlos Gabas e outros gestores às voltas com inquéritos e investigações da Polícia Federal, seguem incólumes, e tranquilos. Riem na cara dos brasileiros. E quando se pensava que a situação de horrores da CPI já gastara o arsenal de absurdos, eis que ainda restava algo mais na caixa de pandora: o chamado G-7, incluindo o relator Renan Calheiros e três senadores que também são médicos, abandonaram o plenário na última sexta-feira porque ali estavam dois cientistas que tinham argumentos a favor do tratamento precoce. E a pá de cal dada pelo STF, que proibiu governadores de prestar depoimentos. Uma vergonha!
* Adilson Fonseca é jornalista e escreve neste espaço às quartas-feiras.
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