ARTIGO: Você sabe com que tolo você está falando?
Nunca foi tão atual o refrão da música “Nos barracos da cidade (Barracos)”, de Gilberto Gil, que integra o “Dia Dorim Noite Neon”, álbum do cantor e compositor baiano, lançado em 1985: “Ôôô, ôô, gente estúpida! Ôôô, ôô, gente hipócrita!” Para compreender o que estou a afirmar, basta rememorarmos a reação de certas pessoas ao […]
Nunca foi tão atual o refrão da música “Nos barracos da cidade (Barracos)”, de Gilberto Gil, que integra o “Dia Dorim Noite Neon”, álbum do cantor e compositor baiano, lançado em 1985: “Ôôô, ôô, gente estúpida! Ôôô, ôô, gente hipócrita!”
Para compreender o que estou a afirmar, basta rememorarmos a reação de certas pessoas ao serem questionadas pela autoridade competente sobre a necessidade de se manter em isolamento e/ou sobre o imprescindível uso de máscara durante a pandemia da Covid-19.
As reações foram as mais diversas – por vezes violentas – revelando que a estupidez hipócrita dessa gente realmente já virou um aleijão, e, aqui, uso o termo figurativamente, como tão bem o fez o poeta soteropolitano.
Quando tomo conhecimento dessas situações somente me pergunto o porquê de esses pobres seres agirem assim. Reflito se, sem saber, agem por maldade, crueldade, perversidade, leviandade, ilegalidade, imbecilidade, irresponsabilidade, insanidade ou será que agem assim por se sentirem, sem ser, uma verdadeira autoridade?
Houve até quem se arriscou a falar francês para tentar menosprezar o seu igual. Imagina só que loucura (saudade de Moraes Moreira), santa ironia, querer usar o idioma da antiga Gália, terra berço da liberdade, da fraternidade e da igualdade, para querer ilustrar a desigualdade.
Mas como explicar o que leva pessoas com determinadas “formações” a julgarem-se melhor do que outras?
De fato, pessoas que assim se sentem, levando-as, por esse motivo, a agir tolamente, devem ser possuidoras de uma certa “deformação psicológica” ou até mesmo de um complexo, pois se esquecem de que a igualdade, antes de qualquer normativo humano, é uma determinação divina. Afinal, como escrito em Gálatas 3:28: “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus”. Ou seja, não existe maior, nem menor, nem pior, nem melhor perante Deus, e, de crença, somos todos iguais.
Para quem se olvida das leis superiores, sugiro a leitura da tragédia grega Antígona, escrita por Sófocles por volta de 442 AC. Afinal, como bem o disse a protagonista de uma das obras da Trilogia Tebana, não pode a lei dos homens suplantar as leis divinas, não é, Creonte?
Porém, já que falamos nos princípios que balizaram a Revolução Francesa, em 1789, não olvidemos de que esse movimento ofertou ao mundo livre a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”. Esse documento consubstancia-se em uma carta de direitos individuais e coletivos, consagrando um ideal de âmbito universal, ou seja, os interesses de todos acima dos interesses de qualquer particular. Não por outra razão, seu art. 1º preconiza que: “Os Homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.”
De igual modo, para aqueles que, por julgarem conhecer as leis, mas, por vezes, desconhecendo o verdadeiro direito, vociferam seu pseudoconhecimento, recordo preceitos da Constituição Federal. Com efeito, a Carta Maior, por muitos reconhecida como a Carta Cidadã (pois ser cidadão há sempre de prevalecer ante todas as nossas eventuais designações), estabelece, nos termos do seu art. 5º, I, como direito e garantia fundamental, que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”, sendo que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”.
Não posso aqui, também, deixar de registrar o texto do filósofo Mário Sérgio Cortella: “E tem gente que se acha…”. Essa crônica, facilmente encontrada na rede mundial, mas que merece ser lida no livro “Qual é a tua obra”, demonstra o quanto somos insignificantes diante da infinitude dos “universos”. Ela também demonstra qual é a melhor resposta para quando formos interpelados pela terrível frase: “Você sabe com quem está falando?”
Contudo, se tudo o que aqui foi dito não foi o bastante, ou seja, se a religião, o ideário libertário francês, a nossa Carta Maior e os sábios dizeres do filósofo e do poeta não foram suficientes para demonstrar que ninguém é superior a ninguém, socorro-me, em arremate, aos ensinamentos de um outro poeta baiano.
Sim, Raul Seixas, ao nos alertar sobre o engodo da pirita, permite-me dizer que se “você ainda acredita que é um doutor [desembargador, engenheiro civil, advogado], padre ou policial, que está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social”, não se esqueça de que, se você se olhar no espelho, sentir-se-á “um grandessíssimo idiota”, pois saberá que “é humano, ridículo, limitado, que só usa dez por cento de sua cabeça animal”.
* Inaldo da Paixão Santos Araújo – Mestre em Contabilidade, Conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado, professor, escritor.
inaldo_paixao@hotmail.com
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