Artigo: Um Conto de Dois Dramas
“Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; a era da sabedoria, a era da tolice; a época da crença, a época da incredulidade; a estação da Luz, a estação das Trevas; a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós; íamos todos direto […]
“Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; a era da sabedoria, a era da tolice; a época da crença, a época da incredulidade; a estação da Luz, a estação das Trevas; a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós; íamos todos direto para o Céu, íamos todos para o lado oposto – em suma, era um período tão semelhante ao atual, que algumas de suas autoridades mais barulhentas insistiam que fosse recebido, para o bem ou para o mal, apenas no grau superlativo de comparação.”
O parágrafo inicial do romance histórico de Charles Dickens, Um Conto de Duas Cidades, é tão pungente e contemporâneo que é difícil acreditar que foi escrito há mais de 150 anos. A contraposição de opostos radicais, as antíteses e paradoxos contidos no texto são, hoje, parte das nossas vidas cotidianas.
A pandemia de COVID 19 fez surgir um aparente dilema inconciliável entre saúde e economia, a partir de dois dramas muito reais e palpáveis. De um lado, os milhares de mortos, o sofrimento daqueles que perderam familiares e amigos, a tragédia de quem aguarda um leito de UTI ou um respirador, a angustia de profissionais sem forças ou recursos a oferecer. Do outro, o desespero dos que viram seu ganha-pão evaporar no emprego ou na informalidade, e a revolta de empresários, obrigados a demitir, diminuir ou desistir.
Os dramas são muito verdadeiros, mas o dilema é falso! Saúde e economia não estão em campos opostos. As questões relacionadas ao enfrentamento da pandemia da COVID 19 têm sido formuladas em torno de um suposto trade off entre cuidar da saúde das pessoas ou cuidar da economia. Se esse pressuposto fosse verdadeiro, países com menores taxas de mortalidade por COVID 19 (melhor cuidado à saúde) provavelmente experimentariam uma maior perda financeira (menor atenção à economia). A iniciativa da Universidade de Oxford, Our World in Data, mostra exatamente o contrário: países que protegeram a saúde de sua população (menor taxa de mortalidade), também protegeram sua economia (menor queda do PIB).
Segundo o McKinsey Global Institute, apesar do evidente impacto negativo da pandemia na economia mundial, a queda do PIB global resultante das mortes precoces e perda de potencial produtivo entre a população em idade ativa é ainda maior. Índices econômicos e fatores sociais também tem uma comprovada correlação direta com a saúde populacional.
Portanto, ao contrário do que se pensa, saúde e economia não são realidades independentes, mas complementares e interconectadas. Não há caminho para o crescimento econômico que não passe pelo enfrentamento sério, contínuo e responsável da pandemia. Não há como promover a saúde da população sem uma economia forte e equilíbrio social. É preciso abandonar esse debate estéril e inútil que opõe a saúde da população e dos setores produtivos da economia. As guerras de memes e as ofensas gratuitas esvaziam o debate e nos paralisam como indivíduos e sociedade. Todos nós precisamos trabalhar e queremos sobreviver.
O mais importante nesse momento é sair dessa armadilha e reconhecer que temos um propósito compartilhado: o bem estar físico, mental e social dos nossos concidadãos. Em segundo lugar, precisamos encontrar um campo comum de entendimento, uma zona básica de concordância: na ausência de uma população majoritariamente imunizada por doença ou vacina, a melhor forma de controlar a pandemia e seus impactos negativos na saúde e na economia é através de medidas que promovam o distanciamento social.
A partir dessas premissas básicas, podemos estruturar um debate tão rico e complexo quanto necessário, não havendo soluções padrão para todas as nações ou cidades. Qual deve ser a abrangência de um plano de restrição da economia e da mobilidade? Como definir o momento ideal de sua implantação, sua duração e a velocidade de reabertura da economia? Quais serão os setores e profissionais beneficiados por pacotes de ajuda e resgate da economia? Todas essas difíceis questões têm soluções complexas e variadas que devem ser baseadas nos melhores dados científicos, na disponibilidade de recursos e moduladas para as diversas realidades regionais.
O clássico de Dickens trata, entre outros temas, da nossa capacidade de redenção e ressurgimento a partir do amor e do sacrifício. Precisamos nos redimir como nação e fazer ressurgir em cada um de nós o espírito iluminista de racionalidade e humanismo. E, urgentemente, utilizar nossa sabedoria, energia, resiliência, nossa empatia pelo outro e nossa esperança para construir o melhor dos tempos.
* Eduardo Darzé – cardiologista. Diretor geral do Hospital Cárdio Pulmonar.
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