ARTIGO: Somos tão frágeis*
Dia trinta e um de março de 2020. Data simbólica para todos os brasileiros, sob todos os aspectos. O mundo inteiro encontra-se perplexo e adoecido, aguardando o desfecho desta tragédia causada pela Covid-19. Algo em torno de três bilhões de pessoas estão em isolamento social, por conta de um “inimigo invisível.” Um vírus potente, mutante […]
Dia trinta e um de março de 2020. Data simbólica para todos os brasileiros, sob todos os aspectos. O mundo inteiro encontra-se perplexo e adoecido, aguardando o desfecho desta tragédia causada pela Covid-19. Algo em torno de três bilhões de pessoas estão em isolamento social, por conta de um “inimigo invisível.” Um vírus potente, mutante e implacável, desnuda toda a fragilidade humana e obriga todos os habitantes do planeta a rever conceitos, revisitar conteúdos, analisar postulados e princípios sob todos os prismas, matizes ou ideologias.
O planeta terra pede socorro e enquanto eu escrevo este texto, alguns cidadãos do cosmo começam a “acertar as contas” com as forças transcendentais, mergulhando fundo num voo sem escalas e sem rota determinada. Sartre reforçaria esta ideia, dando ênfase à identidade do ser e do nada. Nietzsche, escandalizaria as certezas preexistentes, evidenciando em tom melancólico a natureza do sujeito humano, demasiado humano.
O pensador franco-argelino Albert Camus, escreveu uma obra intitulada A Peste, publicada pela primeira vez em 1947, sendo considerada uma Magnum opus (grande obra), e conta o drama dos trabalhadores argelinos em meio a uma peste que assola a cidade de Oran, na Argélia. “A partir desse momento, pode-se dizer que a peste se tornou um problema comum a todos nós. Até então, apesar da surpresa e da inquietação trazidas por estes acontecimentos singulares, cada um dos nossos concidadãos seguira com suas ocupações conforme pudera, no seu lugar habitual. E, sem dúvida, isso devia continuar. No entanto, uma vez fechadas as portas, deram-se conta de que estavam todos, até o próprio narrador, metidos no mesmo barco e que era necessário se ajeitar. Foi assim, por exemplo, que, a partir das primeiras semanas, um sentimento tão individual quanto o da separação de um ente querido se tornou, subitamente, o de todo um povo e, juntamente com o medo, o principal sofrimento desse longo tempo de exílio.” (CAMUS, Albert. A Peste. Rio de Janeiro: Bestbolso, 2011).
Outrora, o cantor e compositor baiano Gilberto Gil, desfilava em prosa e verso: “O melhor lugar do mundo / É aqui e agora / Aqui onde indefinido / Agora que é quase quando / Quando ser leve ou pesado / Deixa de fazer sentido / Aqui de onde o olho mira / Agora que ouvido escuta / O tempo que a voz não fala / Mas que o coração tributa.” Sujeito danado, capaz de transformar as palavras em sentidos e de movimentar as mentes paralisadas em redemoinhos de ideias e conceitos.
Em meio ao caos, onde a natureza humana se depara bem de frente com os seus medos e limites, começam a despertar alguns sentidos que fazem muitos pensar sobre suas vidas individuais e suas práticas coletivas. Expressões como altruísmo, empatia, gratidão, respeito, solidariedade, compaixão, cuidado, amor, fé e compromisso ecoam pelos quatro cantos do planeta, mostrando para os que querem ver, o verdadeiro sentido da vida real, sem fantasias.
No ano de 1971, o cantor e compositor Roberto Carlos, juntamente com seu parceiro e irmão Erasmo Carlos, escreveram uma composição bastante sui generis, da qual me aproprio na seguinte passagem: “Outro dia, um cabeludo falou / Não importam os motivos da guerra / A paz ainda é mais importante que eles / Esta frase vive nos cabelos encaracolados / Das cucas maravilhosas / Mas se perdeu no labirinto / Dos pensamentos poluídos pela falta de amor / Muita gente não ouviu porque não quis ouvir / Eles estão surdos”.
No meio desse turbilhão de ideias, chegamos ao ano de 2020, enfrentando uma das maiores pandemia da história dos tempos. Momento ímpar para “descer do salto” e descobrir o quão insignificante e frágeis somos. Tempo de descobrir, no deserto do isolamento que toda a solidez do império pode ruir numa fração de segundos e que, mais do que nunca, o que importa são as marcas positivas que depositamos ao longo da vida. Neste diapasão, vale a máxima do compositor mineiro, Beto Guedes: “Anda / Quero te dizer nenhum segredo / Falo desse chão da nossa casa / Vem que tá na hora de arrumar / Tempo / Quero viver mais duzentos anos / Quero não ferir meu semelhante / Nem por isso quero me ferir / Vamos precisar de todo mundo / Pra banir do mundo a opressão / Para construir a vida nova / Vamos precisar de muito amor / A felicidade mora ao lado / E quem não é tolo pode ver.”
Irá a humanidade dar este salto em direção as novas formas de viver e se relacionar com as outras pessoas? Espero que sim, caso contrário, seria muito penoso chegarmos até aqui para descobrir que a estupidez humana não conseguiu distinguir até então, que o sentido amplo da existência se apoia exclusivamente no amor incondicional à vida e no respeito aos semelhantes.
*Rosival Carvalho – Professor de Filosofia e Sociologia
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