ARTIGO: Sobre a brevidade da vida em tempos de pandemia
“Apressa-te em viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida.” Sêneca A filosofia estoica – entre outros sossegos que aquietam a alma – nos leva a considerar que não se pode alterar e nem controlar os eventos naturais do mundo. Eles acontecerão a despeito dos nossos desejos, dos nossos recursos, […]
“Apressa-te em viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida.” Sêneca
A filosofia estoica – entre outros sossegos que aquietam a alma – nos leva a considerar que não se pode alterar e nem controlar os eventos naturais do mundo. Eles acontecerão a despeito dos nossos desejos, dos nossos recursos, dos nossos conhecimentos e dos nossos avançados aparatos tecnológicos. Simplesmente porque o homem não pode controlar TUDO o que está ao seu redor. Ao contrário, a natureza é voluntariosa, imperativa e exerce a sua poderosa força, bem mais do que possa prever a limitada mente humana. Sim, é filosofia. Mas, sim, é a vida que flagramos a olho nu, sem qualquer presciência ou antevisões teóricas. A pandemia que se espalhou pelo mundo de forma tão veloz e avassaladora, ultrapassando a assombrosa marca de 1 milhão de mortes e mais de 34 milhões de infectados, desperta – e nos ensina ainda mais – que o imponderável é a luz que haverá de piscar eternamente a nossa existência.
O universo que acolhe e faz residir todos os seres, incluindo os humanos, é, de fato, autônomo, engenhoso, intenso e subtil. E faz vergar seus habitantes quando algo sai do eixo e foge ao controle de qualquer intelligentsia. É o inexorável. Estamos falando, naturalmente, daquele evento que escapa às possíveis ações, providências e atitudes que os humanos podem e devem necessariamente tomar. Segundo dados levantados pela Reuters, além de ter devastado a economia global o novo coronavírus, só em 2020, matou o dobro de pessoas que anualmente morrem de malária. Sem pedir licença e sem os devidos freios que poderiam lhe barrar o contágio com plena eficiência. E, até aqui, o mundo segue sem vacina contra o estranho vírus, apesar das milhares mentes brilhantes e dos avançados estudos que movimentam a rotina aplicada das comunidades científicas globais.
“Nosso mundo alcançou um marco angustiante”, lamentou em comunicado o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, referindo-se ao número global de mortes. “É uma cifra atordoante”, refletiu, embora evitando citar o pensamento de autoridades e especialistas que acreditam em números reais bem maiores e, também, que a marca de 1 milhão de mortos já foi superada há várias semanas. Isso porque estão convictos de que as estatísticas oficiais subestimam de forma significativa a realidade, não apenas por conta das limitações nas realizações de testes e de registros, mas também pela proposital ocultação dos números reais feita por alguns países.
Os levantamentos apontam que mais de 5.400 pessoas estão morrendo em todo o mundo a cada 24 horas pela Covid-19. O que equivale a 226 pessoas por hora ou uma pessoa a cada 16 segundos. Para desenhar o estrago, a Reuters lembrou que durante os 90 minutos de uma partida de futebol morrem, em média, 340 pessoas infectadas pelo coronavírus. Sim, o vírus chegou e ninguém esperava por ele. Obviamente, porém, não dá para colocar na conta do imponderável um volume tão alto de contágio e morte, principalmente depois dos exaustivos alertas sobre o risco de uma pandemia e da necessidade imperiosa de se adotar com urgência medidas sanitárias, estratégias de combate e de isolamento social para conter o seu avanço. A negligência de autoridades que poderiam ter evitado, sim, números tão elevados de contágio e morte, como é o caso do Brasil, seguramente não entra na contabilidade do imprevisível.
Mas o imponderável aconteceu para os mais de 145 mil brasileiros que perderam a vida inesperadamente e se foram, assim, de forma tão solitária e sem direito a despedidas. A dureza e a dor enfrentadas nesses tempos difícies nos movem, então, a refletir sobre a brevidade da vida e a generosidade que o tempo nos traz. Já que não temos controle sobre fenômenos naturais e nem sobre alheias intenções – nem mesmo as dos que foram investidos para nos proteger -, resta-nos zelar pela nossa longevidade, vivendo enquanto estamos vivos. Não à toa, reflexões de filósofos como Sêneca e outros estoicos pensadores – independente das controvérsias – , aplicam-se tão bem no contexto contemporâneo desse mundo pandêmico e letal.
Sossegar diante de fatos que não se pode controlar, empenhar-se no próprio tempo, no autoconhecimento, no bom aproveitamento da vida, na definição e qualidade das tarefas que importam realizar, é inclinar-se à serenidade, garantindo a possibilidade de viver bem, enquanto se vive. Sim, são recomendações filosóficas, mas quem não mora na filosofia? Afinal, não temos controle sobre tudo, mas temos as rédeas do tempo a nosso favor para produzirmos a eficiência dos instantes que alongam satisfatoriamente a vida. Porque, sem dúvida, viver uma vida longa ou breve, tem sim relação direta entre tempo de vida e tempo vivido.
Em épocas cruciais como a de agora, ter consciência da própria mortalidade, eliminar temores e sentimentos de vulnerabilidades que angustiam pela impotência de não poder agir, é, enfim, apostar num caminho com menos inquietação, mais domínio da mente e mais próximo da felicidade. Ao contrário de apatia e resignação pura e simples, são atitudes que representam a liberdade de ingerir sobre o prazer de como gastar com excelência o tempo que se tem. Sêneca sugeriu que se fazesse da brevidade da vida um tempo de arte, e uma arte com o tempo. E exemplificou: ” Na vida é como no teatro: não interessa a duração da peça, mas a qualidade da representação”. Nascido por volta de 4.a.C., Sêneca continua atual.
* Samuelita Santana é jornalista
samuelitasantana@hotmail.com
@samuelitasantana
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