ARTIGO: O que esperar de 2020*

“Nada é permanente, exceto a mudança”. A frase dita pelo filósofo grego, pré-socrático, Heráclito (540 a.C a 470 a.C), também conhecido como Heráclito de Éfeso (atual Turquia), fala muito das relações humanas e da necessidade que tem o homem de se transformar ao longo do tempo. Foi defensor da pluralidade e mutabilidade das coisas transitórias e é considerado o precursor da dialética.

No Brasil de hoje, uma das grandes dificuldades do Estado, como ente governamental, é justamente a dialética que abre caminhos para mudanças. O legado de 2018 norteou as ações do governo em 2019, que sacudiram a grande república dos trópicos e provocaram as mais diversas reações. Paradigmas, antes tidos como irremovíveis, foram quebrados e alterou-se, de forma substancial, a forma como o País vinha, até então, sendo governado. E o Brasil deu uma guinada, cujo giro ainda não se completou.

Numa outra vertente, de um outro personagem: “A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão, com certeza, perder o futuro”, como disse o 35º presidente dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy (1917-1963), que se referia também ao fato de que as mudanças são processos naturais da sociedade. O passado serve de aprendizado. O presente de realizações e o futuro a meta a ser alcançada. Kennedy foi assassinado em 22 de novembro de 1963.

Protagonistas, Executivo, Legislativo e Judiciário, trabalharam como nunca em uma nova realidade, que começou a se delinear ainda em outubro de 2018, com o resultado das eleições que deram a vitória ao presidente Jair Bolsonaro. E em meio às turbulências naturais em quaisquer processos de mudanças, os resultados, contudo, vieram mais cedo do que se esperavam, antevendo um 2020 mais tranquilo e com bases mais sólidas.

Num Estado arraigado em estruturas arcaicas, o Poder Público atua como um leviatã com imensa dificuldade em se locomover. Anacrônico, nos últimos anos, o Brasil não acompanhou as mudanças da sociedade mundial e das relações de governo. 

Do ponto de vista administrativo e da gestão dos seus recursos públicos, ainda vivemos em uma redoma, alheios aos processos de transformações globais. E por isso fomos ficando para trás.

O Estado Pai e Mãe, pleno e senhor de todas as decisões, não cabe mais em uma sociedade que, cada vez mais, é chamada a contribuir com sua produção. E por isso mesmo essa sociedade tem que ter condições, não apenas de produzir, mas também de ela própria criar condições para que possa produzir. Por isso, público e privado cada vez mais se fundem em ações do ponto de vista da economia, e da gestão de recursos.

Essas mudanças começaram a se esboçar, de forma mais objetiva, ao longo de 2019. E se projetam para ter um horizonte mais largo em 2020. A Reforma da Previdência, a mais emblemática, foi o primeiro gol em uma partida que está apenas começando. Mas os preparativos começaram ainda em 2018, no processo eleitoral, quando foram apresentadas as propostas de mudanças, que como em qualquer transição, geraram, e ainda geram, violentas reações.

Em 2015, no estertorar do governo Lula/Dilma, as estatais deram prejuízos de R$ 35 bilhões. Em 2019, essas mesmas empresas deram um  lucro de R$ 75 bilhões. Mudanças de gestões e menos corrupção.

Mais de 2.500 anos depois, Heráclito, o “Obscuro”, com sua obra “Sobre a Natureza”, mais do que nunca, permanece atual. O seu pensamento, sintetizando a ideia de um mundo em movimento perpétuo, nos move, individualmente e coletivamente, a constantes transformações, cujo objetivo é a própria evolução da sociedade.

* Adilson Fonseca é Jornalista e escreve neste espaço sempre às quartas-feiras (adilson.0804@gmail.com)