ARTIGO: O mundo testa positivo para a solidariedade*

Em qualquer outra circunstância o grito “Eu falei Faraó” da varanda de uma moradora da Bahia teria reverberado outros ecos. A entusiasta cantora da sacada poderia ouvir diversos outros impropérios como: “cala a boca” ou “só pode ser maluca”. Mas dessa vez NÃO! O brado “Eu falei Faraó” bateu na caixa de ressonância de outras […]


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Ana Cristina 31/03/2020 08:00 Artigos

Em qualquer outra circunstância o grito “Eu falei Faraó” da varanda de uma moradora da Bahia teria reverberado outros ecos. A entusiasta cantora da sacada poderia ouvir diversos outros impropérios como: “cala a boca” ou “só pode ser maluca”. Mas dessa vez NÃO! O brado “Eu falei Faraó” bateu na caixa de ressonância de outras tantas varandas vizinhas e retornou em forma de um solidário coral: “Êeeeeeee, Faraó”. E foi lindo de ver! 

A Covid-19 que devasta e separa o mundo tem revelado outras faces da humanidade que há muito imaginávamos praticamente extintas. Na corrida diária pela sobrevivência, nos inúmeros compromissos, ações e agitações que inventamos para atolar de pró-atividade nosso exaustivo dia, sobra apenas tempo para alimentarmos nossas vidas digitais e ampliarmos ao máximo o que prestigia as interações virtuais. Cabeças curvadas sempre – aqui, ali, em casa -, foco absoluto na telinha. Pai, mãe, filhos e até vovôs e vovozinhas. Todos egoisticamente conectados. Mas por força de um inimigo invisível que infecta e mata, o mundo que girava absorto em velocidade voraz, sem enxergar o outro e sem tempo pra nada, de repente agora parou.

Sob o espectro do medo que nos confinou ao redor do mundo, prognosticando cenários sombrios e desoladores, nos pegamos perplexos e perdidos num mundo impotente do “não sei o que fazer”. A rotina elaborada, definida, pragmática e com direito a vários penduricalhos inúteis, de repente caiu no vazio. Quebrou. E, então, eis que o vácuo de tudo começou a produzir o ato mais bonito dessa crise: a reflexão e a urgente necessidade de reinventar agendas, inter-relações e modus operandi. A reflexão do assombro – não apenas pelos efeitos do coronavírus, mas pelo que o isolamento forçado nos revelou a respeito de nós mesmos e da vida do outro – vem evoluindo junto com o pico da pandemia para uma prática de ócio criativo e solidário.

A disponibilidade de dividir e agir em benefício do outro virou uma onda. Compartilhar sua arte, sua música, seu amor, seu alimento, sua sabedoria, sua profissão, seu aconchego e seus recursos com quem precisa, tem menos ou não tem, vai se tornando nessa quarentena, uma linda mania. Doar e doar-se de alguma forma para mitigar os estragos que a pandemia e o isolamento podem causar aos mais vulneráveis, transformou-se em palavras de ordem e protagonizam as melhores cenas de aproximação nessa era de isolamento. Médicos, psicológos, artistas, pequenos empresários, esportistas, personais, treinadores, professores, bailarinos, músicos, cozinheiros e voluntários de todas as matizes formaram uma rede de solidariedade circundando o mundo. A ideia é dar de graça o que sabem fazer.

Assim como o coronavírus atinge a todos insdistintamente, sem escolher cor, idade ou classe social, o sentimento de solidariedade que despertou a clarividente igualdade entre os seres humanos, chega a todos os isolados. Desde os privilegiados que assistem gratuitamente a canais fechados aboletados em seus confortáveis sofás, aos pobres das comunidades carentes que recebem na porta de casa cestas básicas e sabonetes para lavar as mãos. Sim, dessa janela onde refletimos o assombro, podemos constatar que o vírus que nos separa hoje é o mesmo que nos une. E são nesses atos de humanidade e fé, que também seguimos vislumbramos a subsistência de uma virtude que considerávamos quase perdida: o se importar verdadeiramente com o outro. 

Sobre isso vale muito a pena reproduzir aqui um trecho do belíssimo texto da escritora e terapeuta Bluma Santana, publicado neste domingo em seu Instagram @blumasantana com a chamada: E aqueles que não têm água? –  “…O efeito Covid nos fragmentou e isolou, mas ironicamente vamos reconhecendo a necessidade e o poder de cooperarmos, juntos. Depois disso, não viveremos mais o mesmo mundo. Querendo ou não, estamos atravessando para uma nova Era. De mentalidade nova. Não resista. De casa, no momento, se solidarize, cuide e atravesse.”  (Bluma S.)

Sim, esse foi o canto da moça baiana na varanda. Um canto “Eu falei Faraó” que cantava: Ei! Eu estou aqui e vocês? E o coral da vizinhança”Êeeeee Faraó” que respondia: Estamos aqui, estamos juntos nessa. 

* Samuelita Santana Santana é jornalista graduada pela UFBa com MBA em Gestão de Mídia Oficial pela Faculdade Superior de Estatística da Bahia. Consultora em comunicação com experiência em assessoria, reportagem e editoria nos principais jornais baianos.
samuelitasantana@hotmail.com

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