ARTIGO: Indignação seletiva*

No início de 2006, três anos depois do então ministro da Cultura, o cantor Gilberto Gil, ter assumido o cargo no primeiro governo do ex-presidente Lula, nada mais nada menos que o seu parceiro desde a época da Bossa Nova, o também cantor Caetano Veloso, endossou uma crítica ao ministério. A crítica tinha como pano […]


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Glaucia Farias 29/01/2020 19:06 Artigos

No início de 2006, três anos depois do então ministro da Cultura, o cantor Gilberto Gil, ter assumido o cargo no primeiro governo do ex-presidente Lula, nada mais nada menos que o seu parceiro desde a época da Bossa Nova, o também cantor Caetano Veloso, endossou uma crítica ao ministério. A crítica tinha como pano de fundo, a distribuição de verbas, que privilegiava a concessão de patrocínios para a cultura, em troca de uma contrapartida social alinhada às políticas do Governo Lula.
Na época, o poeta Ferreira Gullar acusa o Ministério da Cultura de centralizador e de privilegiar a distribuição de verbas para apoiadores do Governo Lula. O cantor Caetano Veloso e outros artistas, entre os quais Fernanda Montenegro, Oscar Niemeyer e João Ubaldo Ribeiro, chegaram a assinar um manifesto contra o ministério, presidido por Gilberto Gil. Gullar foi duramente criticado pelo Governo Lula.
Caetano foi mais longe, conforme revelou em carta aberta, publicada na coluna de Monica Bergamo, da Folha de São Paulo, onde dizia que “Governos totalitários são viciados em expurgar poetas. Se um ministério demonstra não aceitar críticas – pior: exige adesão total a suas decisões -, estamos sim a um passo do totalitarismo; se um poeta expõe de público discordância – ou simples desconfiança – dos rumos de um ministério, temos democracia.”
Dezessete anos depois de Gilberto Gil ter assumido o posto de ministro da Cultura, onde ficou até 2006, a atriz Regina Duarte está prestes a assumir a mesma pasta, convidada pelo presidente Jair Bolsonaro. E mesmo sem ter assumido oficialmente o cargo, já recebe críticas de parte da classe artística, alguns até beirando a insanidade, como as críticas feitas pelo ator José de Abreu, um ferrenho defensor do ex-presidente Lula, que chama Regina Duarte de nazista e fascista.
Mas ao contrário de Gil, que só depois de três anos no cargo, recebeu críticas de colegas, entre os quais do “mano” Caetano, Regina Duarte é vista como cumplice do nazi fascismo simplesmente porque sempre manifestou apoio a Bolsonaro, desde a sua campanha às eleições presidenciais. E ironicamente recebe “conselhos” do ex-ministro da pasta que está preste a assumir, Gilberto Gil.
Uma espécie de paranoia ideológica parece pairar sobre parte da sociedade, que se identifica com os ideais que nortearam o país por quase duas décadas, e que o levaram à bancarrota financeira e em parte, sócio moral. Quaisquer que sejam, as ações do atual governo são vistas como negativas, antes mesmo de serem efetivadas, mesmo quando são tomadas para corrigir rumos equivocados, como no caso do ex-secretário de Cultura, Roberto Alvin, demitido sumariamente por sua alusão ao nazismo.
No Governo Lula, a indicação de Gilberto Gil para o ministério foi uma das mais polêmicas, e grupos petistas bombardearam Gil por não ter familiaridade com as ideias petistas para a cultura. Respeitaram-no, no entanto, porque Gil era egresso do Partido Verde (PV), onde fora vereador em Salvador. Mesmo quando ele se queixou do salário de R$ 8.500, à época, pago aos ministros do governo lulista. 
Mas hoje essa indignação, que ficou no limbo da história dos últimos 16 anos, com a carta assinada por alguns artistas, contra o ex-ministro Gilberto Gil, agora é direcionada a atriz Regina Duarte, dentro de um padrão pré-determinado do ser contra a quaisquer atos do atual governo.

Quem bem definiu o momento atual foi o ator Carlos Vereza, em matéria recentemente publicada no Jornal da Cidade Online: “Em geral, a ‘crasse’, com as devidas exceções, não está ligando para a política cultural; quer derrubar o governo, não tem o necessário espírito democrático para aguardar as eleições de 2022. Sofrem de indignação seletiva”.

* Adilson Fonseca é jornalista e escreve neste espaço sempre às quartas-feiras (adilson.0804@gmail.com) 

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